O cão tem poucos instintos e não os segue cegamente, podendo desusá-los definitivamente por força do condicionamento que sustenta o seu viver social. O adestramento é um exemplo clássico disso, onde as normas impostas pelo líder são transformadas em código de conduta para o animal. O treino canino, por mais louvável que seja e para além da excelência dos métodos utilizados na procura de respostas tangíveis às naturais, sempre aponta para o domínio do homem sobre o seu cão, para a instituição da liderança e para a sujeição do lobo doméstico, dando ao dono a cadeira do poder e transformando-o em macho alfa, o que obriga ao equilíbrio entre a natureza e o seu uso, na relação saudável entre aquilo que o animal é e o tanto que dele esperamos. Em poucos animais a inibição é tão bem sucedida como nos cães, o que nos facilita a indução e viabiliza a futura investidura. Há cães que pura e simplesmente se desinteressam pela cópula e cadelas que afugentam os seus parceiros, inviabilizando dessa forma a sua descendência e abominando todo e qualquer rito de acasalamento. E numa coisa temos reparado, se não houver cuidado: os cães melhor adestrados são os que mais concorrem prò problema, o que não deixa de ser um contra-senso, já que outros menos aptos usurparão o seu lugar e acabarão por reproduzir-se. O panorama agrava-se quando, por razões alheias ao seu bem-estar e saúde, a nata dos cães acaba castrada.
A inibição sexual de um cão resulta de vários factores e pode acontecer ainda antes do aparecimento dessa maturidade, por razões ligadas à coabitação e à hegemonia do dono, condições eficazes para a alteração ou substituição do seu viver social. O treino precoce pode, considerando a plasticidade física e cognitiva que antecede e propicia a aceitação da hierarquia, reforçar a apatia decorrente da experiência doméstica anterior, o que nos levanta uma questão ligada à prática da inibição: as cadelas em cio deverão ou não, participar nas actividades escolares? Nestas circunstâncias, muitos treinadores vetam-lhes a entrada nas classes ou optam pela sua instrução em separado, ainda que o façam debaixo de outras preocupações: as relativas à boa ordem dos trabalhos. Nós não procedemos assim e convidamos as cadelas nesse estado para as aulas colectivas, cientes das dificuldades e conhecedores das suas vantagens, porque a sua ausência contribui também, ainda que de modo dissimulado, para a inibição sexual dos machos. Bem sabemos que a maioria dos proprietários caninos não se preocupa com a actividade sexual dos seus cães, não abraça a reprodução e nem tão pouco consulta a vontade dos animais acerca disso, mesmo que daí resulte o seu envelhecimento precoce, uma saúde mais debilitada e o desenvolvimento de várias taras. O cão que vira gente e que se transforma no rei da casa é geralmente um soberano eunuco ou um castrado em prol dos seus “súbditos”!
As vantagens das cadelas com o cio nas classes são várias e ultrapassam em muito os aspectos relativos à sexualidade dos cães. Antes de falarmos delas, queremos adiantar as alterações que efectuamos para a sua aceitação, tendo em vista a sua integração, o cumprimento dos planos de aula e o alcance dos seus objectivos, sem incorrer na inibição sistemática dos cães, no seu sub-rendimento ou no molestar das cadelas. Na 1ª semana do cio não procedemos a qualquer alteração, tanto no escalonamento quanto na divisão dos trabalhos (gerais ou específicos), porque tal é desnecessário face ao estágio que as fêmeas atravessam. Na semana fértil (a segunda), podemos ter que alterar a sua posição no escalonamento da classe, passando-as para o final da coluna escolar ou colocá-las no meio de outras cadelas, evitando sempre que possível as imobilizações mais ligeiras e de grupo, na evolução por esquadras ou nas figuras de carrossel. A recorrência às manobras de sociabilização animal deverá ser evitada, a menos que as isentemos delas, para evitar contratempos e o recurso à inibição sobre os machos. A natureza do trabalho específico pode obrigar à sua separação e nunca ao seu isolamento.
Machos e fêmeas ganham com a aceitação das cadelas em cio. Nos machos alcança-se o seu melhor controlo sem se incorrer nos malefícios decorrentes da inibição e nas fêmeas a conservação da sua operacionalidade para além do período crítico que atravessam, o que lhes possibilitará um desempenho mais seguro no lar e na via pública. O isolamento das cadelas, em especial as territoriais e em particular as que nunca copularam, tem-se revelado um grave entrave prà reprodução, porque muitas delas acabam por atacar os machos propostos prà à sua fecundação. Diante do problema, importa que sejam as fêmeas a deslocar-se ao território dos machos e não o contrário. Sem muitas vezes darmos por isso e por conta da familiarização, o grupo dos cães escolares constitui-se na matilha dos indivíduos que dele fazem parte, o que facilitará futuramente a cópula entre eles, porque mais facilmente aceitará a cadela um macho conhecido do que outro que nunca conheceu. Este particular social canino é também visível quando um novo elemento chega à escola, já que o grupo não o aceitará de imediato, estranhará a sua presença e verá nele um intruso. Assim, o cio das cadelas acaba por contribuir para o salutar escalonamento da matilha heterogénea escolar, para o seu bem-estar social, equilíbrio biológico e para o fortalecimento do grupo, o que realça a importância do perímetro escolar, enquanto ecossistema próprio (por vezes único) e indispensável aos cães.
Se você tem um cão e pretende usá-lo mais tarde para reprodução, não faça como um amigo nosso, proprietário de um Pastor Alemão e de quem a seguir contaremos a história, não para o incriminar, mas como exemplo a não seguir. O dito senhor já era proprietário de um CPA macho há alguns anos, um exemplar escorreito, obediente e funcional, quando um filho seu, movido de ínfima compaixão, salvou uma cachorra de dois meses do abandono, ao vê-la a ganir no meio dum arvoredo junto a uma estrada muito movimentada. Apesar das reticências iniciais, o animal foi adoptado e transformou-se numa graciosa cadelinha, dividindo com o CPA as mesmas atenções e espaço. Como não foi castrada, tem tido ao longo dos anos o cio regularmente, pontualmente de seis em seis meses, o que tem sido o cabo dos trabalhos para o Pastor Alemão, sujeito durante cinco ou seis semanas anuais à mais cruel das inibições. Como resultado disso, a sua reprodução tornou-se impossível e nutre um justificável desinteresse pelas cadelas que lhe são oferecidas para copular. Neste caso concreto, porque o proprietário dos cães tem anexado à habitação um canil, teria sido desejável que nele encerrasse, durante aquele período, qualquer um dos animais, evitando dessa forma a inibição castradora. É mais fácil dizer do que fazer, quem é que é capaz de ficar insensível aos gemidos do seu cão? Antes de adquirir um segundo cão, pense primeiro naquele que já tem, certifique-se se tem condições para tal e se deve ter ou não um casal de cães. Apesar de muita gente o omitir, um cão sexualmente activo é mais feliz, mantém por mais tempo as suas qualidades e dura mais. A coabitação canina tem um preço elevado que é geralmente pago pelo sacrifício dos cães e ele não necessita de ser agravado pela sua castração (ambiental ou cirúrgica).
A inibição sexual de um cão resulta de vários factores e pode acontecer ainda antes do aparecimento dessa maturidade, por razões ligadas à coabitação e à hegemonia do dono, condições eficazes para a alteração ou substituição do seu viver social. O treino precoce pode, considerando a plasticidade física e cognitiva que antecede e propicia a aceitação da hierarquia, reforçar a apatia decorrente da experiência doméstica anterior, o que nos levanta uma questão ligada à prática da inibição: as cadelas em cio deverão ou não, participar nas actividades escolares? Nestas circunstâncias, muitos treinadores vetam-lhes a entrada nas classes ou optam pela sua instrução em separado, ainda que o façam debaixo de outras preocupações: as relativas à boa ordem dos trabalhos. Nós não procedemos assim e convidamos as cadelas nesse estado para as aulas colectivas, cientes das dificuldades e conhecedores das suas vantagens, porque a sua ausência contribui também, ainda que de modo dissimulado, para a inibição sexual dos machos. Bem sabemos que a maioria dos proprietários caninos não se preocupa com a actividade sexual dos seus cães, não abraça a reprodução e nem tão pouco consulta a vontade dos animais acerca disso, mesmo que daí resulte o seu envelhecimento precoce, uma saúde mais debilitada e o desenvolvimento de várias taras. O cão que vira gente e que se transforma no rei da casa é geralmente um soberano eunuco ou um castrado em prol dos seus “súbditos”!
As vantagens das cadelas com o cio nas classes são várias e ultrapassam em muito os aspectos relativos à sexualidade dos cães. Antes de falarmos delas, queremos adiantar as alterações que efectuamos para a sua aceitação, tendo em vista a sua integração, o cumprimento dos planos de aula e o alcance dos seus objectivos, sem incorrer na inibição sistemática dos cães, no seu sub-rendimento ou no molestar das cadelas. Na 1ª semana do cio não procedemos a qualquer alteração, tanto no escalonamento quanto na divisão dos trabalhos (gerais ou específicos), porque tal é desnecessário face ao estágio que as fêmeas atravessam. Na semana fértil (a segunda), podemos ter que alterar a sua posição no escalonamento da classe, passando-as para o final da coluna escolar ou colocá-las no meio de outras cadelas, evitando sempre que possível as imobilizações mais ligeiras e de grupo, na evolução por esquadras ou nas figuras de carrossel. A recorrência às manobras de sociabilização animal deverá ser evitada, a menos que as isentemos delas, para evitar contratempos e o recurso à inibição sobre os machos. A natureza do trabalho específico pode obrigar à sua separação e nunca ao seu isolamento.
Machos e fêmeas ganham com a aceitação das cadelas em cio. Nos machos alcança-se o seu melhor controlo sem se incorrer nos malefícios decorrentes da inibição e nas fêmeas a conservação da sua operacionalidade para além do período crítico que atravessam, o que lhes possibilitará um desempenho mais seguro no lar e na via pública. O isolamento das cadelas, em especial as territoriais e em particular as que nunca copularam, tem-se revelado um grave entrave prà reprodução, porque muitas delas acabam por atacar os machos propostos prà à sua fecundação. Diante do problema, importa que sejam as fêmeas a deslocar-se ao território dos machos e não o contrário. Sem muitas vezes darmos por isso e por conta da familiarização, o grupo dos cães escolares constitui-se na matilha dos indivíduos que dele fazem parte, o que facilitará futuramente a cópula entre eles, porque mais facilmente aceitará a cadela um macho conhecido do que outro que nunca conheceu. Este particular social canino é também visível quando um novo elemento chega à escola, já que o grupo não o aceitará de imediato, estranhará a sua presença e verá nele um intruso. Assim, o cio das cadelas acaba por contribuir para o salutar escalonamento da matilha heterogénea escolar, para o seu bem-estar social, equilíbrio biológico e para o fortalecimento do grupo, o que realça a importância do perímetro escolar, enquanto ecossistema próprio (por vezes único) e indispensável aos cães.
Se você tem um cão e pretende usá-lo mais tarde para reprodução, não faça como um amigo nosso, proprietário de um Pastor Alemão e de quem a seguir contaremos a história, não para o incriminar, mas como exemplo a não seguir. O dito senhor já era proprietário de um CPA macho há alguns anos, um exemplar escorreito, obediente e funcional, quando um filho seu, movido de ínfima compaixão, salvou uma cachorra de dois meses do abandono, ao vê-la a ganir no meio dum arvoredo junto a uma estrada muito movimentada. Apesar das reticências iniciais, o animal foi adoptado e transformou-se numa graciosa cadelinha, dividindo com o CPA as mesmas atenções e espaço. Como não foi castrada, tem tido ao longo dos anos o cio regularmente, pontualmente de seis em seis meses, o que tem sido o cabo dos trabalhos para o Pastor Alemão, sujeito durante cinco ou seis semanas anuais à mais cruel das inibições. Como resultado disso, a sua reprodução tornou-se impossível e nutre um justificável desinteresse pelas cadelas que lhe são oferecidas para copular. Neste caso concreto, porque o proprietário dos cães tem anexado à habitação um canil, teria sido desejável que nele encerrasse, durante aquele período, qualquer um dos animais, evitando dessa forma a inibição castradora. É mais fácil dizer do que fazer, quem é que é capaz de ficar insensível aos gemidos do seu cão? Antes de adquirir um segundo cão, pense primeiro naquele que já tem, certifique-se se tem condições para tal e se deve ter ou não um casal de cães. Apesar de muita gente o omitir, um cão sexualmente activo é mais feliz, mantém por mais tempo as suas qualidades e dura mais. A coabitação canina tem um preço elevado que é geralmente pago pelo sacrifício dos cães e ele não necessita de ser agravado pela sua castração (ambiental ou cirúrgica).
Sem comentários:
Enviar um comentário