A esmagadora maioria dos criadores de CPA desconhece-o, os apaixonados pelos cães ignoram a sua existência, esporadicamente alguém fala dele, porque teve ou viu algum em tempos que já lá vão. Porém, ainda que em pequeno número, ele continua vivo entre nós, resguardado e salvaguardado em isolados nichos de criação. Estamos a falar do CPA totalmente cinzento (azul), um cão de rara beleza e que nunca foi muito visto, atendendo à proto-dominância dos lobeiros, à rejeição dos brancos, ao desprezo pelos negros e à posterior dominância preto-afogueada. “Lobeiro” é um adjectivo português que designa um cão de cor idêntica à dos lobos, que é cinzento no dorso e calçado de fulvo (afogueado), sendo por isso bicolor e maioritariamente cinzento, identificado universalmente por azul parcial e nalguns casos simplesmente por azul-fogo.
O CPA nasceu lobeiro e negro, estabeleceu-se a partir da fusão destes dois factores cromáticos e evoluiu por opção para o preto-afogueado, exactamente a mesma que excluiu os brancos. Quase por milagre, os lobeiros não desapareceram, apesar de minoritários nesta raça de e para o trabalho. Como qualquer lobeiro carrega o factor azul, será a partir dele que chegaremos aos cães totalmente azuis, não sem o contributo doutra variedade cromática uniforme (branco ou negro), porque a pré-existência de uma garante o aparecimento da outra. A divisão histórica, chauvinista e caricata que impera dentro dos Pastores Alemães, que a uns considera de beleza e a outros de trabalho, manifesta na pseudo diferença entre linha antiga e linha moderna, fortemente ligada à economia que sustenta a estética, não consegue esconder a origem comum e reside essencialmente na diferença dos padreadores escolhidos, muitas vezes irmãos, do mesmo tronco e de pouca diferença. Todos tiveram com ancestrais o Honrad von Grafrath e o Hektor von Schwaben, ainda que alguns tenham rejeitado mais tarde o Utz Haus Schütting (por exemplo). A redenção do CPA, que tarda em chegar e se vier a acontecer, antes que outros ocupem o seu lugar, virá do reconhecimento dos erros e da fusão das linhas, redescobrindo dessa forma o potencial laboral da raça, para outras inatingível e ainda possível se procurado.
As mais-valias do Cão de Pastor Alemão não passaram desapercebidas a ninguém, a raça estendeu-se de Sul para Norte na Alemanha, chegou aos sudetas e acabou também abraçada pelos ingleses, que apesar da resistência inicial, movida pela sua condição insular e exacerbado sentimento patriótico (eram na altura a 1ª potencial mundial), acabaram por importar vários cães da raça preconizada por Max von Stephanitz, estendendo-os também às suas colónias ultramarinas. Nove anos após a criação da Verein für Deutscher Schaferhund, em 1908, chegam os primeiros CPA’S a Inglaterra. Em 1919 o Kennel Club do Reino Unido já regista 54 exemplares e em 1926 eles atingem o número de 8.000, facto a que não foi alheio o seu desempenho enquanto cão militar na I Guerra Mundial, apesar da Alemanha ter saído derrotada nesse conflito. O apadrinhamento precoce da raça efectuado tanto pelos ingleses como pelos sudetas, tangencial à sua origem, acabou por firmar nesses territórios grande número de cães parcialmente azuis (lobeiros) e os azuis uniformes deles decorrentes. O particular geográfico de Inglaterra, o ódio ao tempo a tudo o que era germânico e seu desejo incontido de direito à diferença, levaram os criadores ingleses à perpetuação das linhas originais em contraponto com as selecções continentais. Ainda hoje são visíveis essas diferenças e o património genético da raça é mais rico na Inglaterra e na América do Norte do que na Alemanha, o que se compreende. Como resultado do desfecho da II Guerra Mundial, a Cortina de Ferro acabou por preservar também na Checoslováquia grande número de cães azuis (totais ou parciais), extremamente funcionais e muito procurados, ainda que abalados pelo espectro da consanguinidade, praga também extensível aos exemplares nascidos nos territórios da antiga RDA (DDR). Os afamados CPA’s russos do Exército Vermelho ou de criadores a ele ligados tiveram a mesma origem e muitos vieram parar a Portugal, particularmente depois da “Perestroika”.
Com a queda do Muro de Berlim e com o alargamento da CEE, com a abolição das fronteiras e com a livre circulação de pessoas e mercadorias, também porque o Leste da Europa estava depauperado, os cães do Leste chegaram ao Ocidente com preços irrisórios, bem abaixo dos praticados por aqui e geralmente transaccionados por intermediários espanhóis. Na Holanda ainda subsistem centros de treino canino que recebem cães dessa proveniência, de outras raças e de qualidade duvidosa, que depois de treinados, se destinam aos países meridionais da CEE para uso nas empresas de segurança privada. Como a continuidade de qualquer raça canina se encontra ligada ao factor económico, onde a procura alcança lugar de destaque, rapidamente os cães azuis foram assimilados pelos da variedade dominante, mais rentável, bem conhecida, melhor aceite e mais procurada. A formação do Lobo Checo, resultante do cruzamento do lobo europeu com o CPA, acabou também por contribuir para o desaparecimento do cão azul uniforme naquelas paragens, dotando-o de uma pelagem bicolor e mais próxima do seu progenitor silvestre. Para se aquilatar da influência do factor azul no Lobo Checo basta compará-lo com o Lobo Italiano, resultante do cruzamento do Lobo da Sardenha com o CPA, notoriamente mais vermelho ou achocolatado, mas igualmente desconfiado e de idêntico préstimo, pouco ou nenhum, considerando as dificuldades que apresentam na constituição binomial.
Ao Canadá, país profundamente dependente da Coroa Britânica nos alvores da raça, irão chegar CPA’S oriundos de Inglaterra e outros do final da I Guerra Mundial, exemplares azuis parciais, negros e brancos, para além dos afogueados que estão na origem dos actuais, acontecendo exactamente o mesmo nos Estados Unidos da América, prole que fundamentou o Pastor de Shiloh e o Pastor Canadiano, havendo nesses territórios pastores alemães cor de areia, tidos como dourados ou de manto vermelho (ver pág. 222 da obra “Enciclopédia do Cão, da autoria do Dr. Bruce Fogle, Ed. Livros e Livros, cuja 1ª edição remonta ao ano de 1998), que acabarão também por chegar à América Latina. A Inglaterra nunca se despojou totalmente dos exemplares que fundamentaram a raça no seu Kennel Club, muito embora os seus descendentes sejam raros, pouco badalados e procurados somente por apaixonados ou estudiosos do legado do Deutscher Schaferhund, apesar de mais robustos, funcionais, de garupa mais forte e desenvolvida. Foi graças a ter participado no contingente da Força Expedicionária Americana na I Guerra Mundial, que o Cabo Lee Duncan encontrou o Rin-Tin-Tin (Rinty), herói do cinema nas décadas de 20 e 30, que foi resgatado de um canil alemão bombardeado em Toul-Aux-Lorraine (França), também ele parcialmente azul (lobeiro) e que salvou a Warner Brothers da falência eminente.
Apesar de um bom Pastor Alemão poder custar o quádruplo dum Malinois de créditos firmados, não tem sido essa a razão principal para a sua substituição ou menor procura, muito embora não se possa ignorar o peso do factor económico. Estamos em crer, pela experiência que temos e pelo uso que fazemos destes cães ao longo de três décadas e meia, que o desuso do Pastor se deve à sua menor qualidade, ao desprezo pelo factor cromático azul que o levantou sobre os demais, enquanto génese das características psicológicas lupinas, porque para além da forma, o CPA é conteúdo e o cão cinzento isso garante. Na Europa já é difícil encontrar criadores de CPAS cinzentos, agora que o Leste ficou desfalcado e os ex-alemães orientais andam à procura de boleia. Contudo, lá para as bandas do Distrito de Wittenberg, ainda existem alguns criadores, pouco conhecidos mas conscientes da sua importância, gente que não vem anunciada nas revistas caninas e que não se sente molestada com a falta de deferência. Na Bélgica também os há, mas é na Inglaterra e dos Estados Unidos que existem em maior número. Os actuais lobeiros, chegados tarde e a más horas, fortemente ligados às linhas estéticas e pouco diferindo delas, são produzidos para o seu melhoramento e para a perpetuação da cor dominante, o que impede o retorno à variedade azul uniforme e quando a produz, mescla-a com lunares ou franjas vermelhas, como se o astro-rei (sol) sobre ela operasse. Em Portugal os cães cinzentos morreram com o Lobo da Alsácia, epitáfio francês que nunca escondeu a mentira que à data produziu.
Devido à sua raridade e possível interesse, também porque a diferença vende e o exotismo cativa, aqui e ali, tal negócio que desponta, surgem alguns criadores na procura do cão azul uniforme (cinzento total). Havendo excepções, a maioria deles ronda os cinquenta e poucos anos de idade, são gente que conheceu os cães do passado e que aposta agora no seu retorno ou ressurreição. Como é escasso o número de exemplares negros, variedade mal quista nas exposições de beleza, porque é recessiva e necessitam de uma cor sólida que propicie o aparecimento dos azuis totais, é comum valerem-se de exemplares brancos, descendentes indevidos da sua prole padronizada ou oriundos de outras raças congéneres (Pastor Suíço ou Canadiano). A opção pelo branco é a mais profícua, porque do cruzamento resultarão poucos indivíduos dessa cor e o número de cinzentos aumentará, ainda que possam surgir indivíduos com alguma diferença de tom ou pigmentação. A assimilação do branco não é novidade nenhuma, porque a selecção racial nunca se prestou à sua dominância, já que dois indivíduos brancos podem, sem maior dificuldade, gerar filhotes preto-afogueados. Quando visitamos estes criadores, sempre somos surpreendidos, geralmente num canil dos fundos ou arredado da entrada principal, com um ou mais cães brancos, secundados por exemplares de pelo comprido, de quem obtemos pouca ou nenhuma explicação, o que a ninguém espanta, porque os brancos não podem ser registados no Livro de Origens e os seus descendentes virão a aparecer com um pedigree inquestionável. Uma coisa é chegar ao azul total pela recessividade e outra bem diferente é alcançá-lo pela despigmentação, apesar dela ter acontecido nos alvores da raça. Nada temos contra os Pastores brancos, muito pelo contrário, porque neles são invisíveis muitas das maleitas presentes nos actuais Pastores. Estamos é contra a mentira, contra a trapaça que cega e burla os mais confiados, que ainda reconhecem rara erudição a quem tão bem os engana.
Na década de 90, a Acendura propôs-se a produzir Pastores cinzentos uniformes, valendo-se de cães oriundos das fileiras da GNR, negros e lobeiros, produto da esmerada selecção operada pelo Sr. Capitão Colares Rodrigues na década anterior, que ordinariamente se deslocava à Alemanha afim de adquirir bons cães policiais. Isso obrigou-nos a abraçar uma política de “quadro aberto”, aos beneficiamentos entre os negros e os lobeiros, dando a cada uma das variedades a presença da outra. Alguns exemplares negros mostravam essa evidência com pelos lobeiros no pescoço e no remate das coxas, os chamados lobeiros-negros, geralmente com a cor dos olhos mais clara e maiores que os exemplares homozigóticos negros. Os exemplares lobeiros provenientes desses beneficiamentos apresentavam-se mais pequenos que os lobeiros homozigóticos e mais cedo aceitavam a sua investidura policial. Quando a construção dos progenitores era maioritariamente negra, o número de cinzentos totais rondava entre 1/5 e 1/6 do total das ninhadas e quando era maioritariamente lobeira, o seu número não sofria grande alteração, porque os lobeiros proliferavam. Em ambos os casos apareciam exemplares preto-afogueados, ainda que mais cinzentos do que vermelhos nos membros. Produzimos ao todo 15 exemplares cinzentos uniformes (totalmente azuis) e nunca operámos qualquer beneficiamento entre eles. Sobrevive até hoje um exemplar desses em Vale de Adares, no Restaurante O Moleiro, na estrada que vai da Lourinhã para Peniche. Dele são algumas das fotos que ilustram este texto.
Cabe agora ao nosso aluno Eduardo Santos, a viver temporariamente em França e agora de férias em Portugal, aceitar a tarefa sem nenhuma incumbência da nossa parte, porque voluntariamente se dispôs a procurar e a reproduzir cães totalmente azuis, tendo já encetado alguns contactos com criadores ingleses e franceses, porque entre nós o factor está a desaparecer e sentimos que já fizemos a nossa parte. Há que dar o lugar aos novos! O cão totalmente azul proveniente do preto é um cão fantasma, alguém que aparece quando menos se espera, que tem um raro sentido policial e que é duma lealdade inquestionável. Sem a contribuição dos lobeiros já há muito teriam desaparecido os cinzentos, cães raros que unem a raça desde os seus primórdios até aos nossos dias.
O CPA nasceu lobeiro e negro, estabeleceu-se a partir da fusão destes dois factores cromáticos e evoluiu por opção para o preto-afogueado, exactamente a mesma que excluiu os brancos. Quase por milagre, os lobeiros não desapareceram, apesar de minoritários nesta raça de e para o trabalho. Como qualquer lobeiro carrega o factor azul, será a partir dele que chegaremos aos cães totalmente azuis, não sem o contributo doutra variedade cromática uniforme (branco ou negro), porque a pré-existência de uma garante o aparecimento da outra. A divisão histórica, chauvinista e caricata que impera dentro dos Pastores Alemães, que a uns considera de beleza e a outros de trabalho, manifesta na pseudo diferença entre linha antiga e linha moderna, fortemente ligada à economia que sustenta a estética, não consegue esconder a origem comum e reside essencialmente na diferença dos padreadores escolhidos, muitas vezes irmãos, do mesmo tronco e de pouca diferença. Todos tiveram com ancestrais o Honrad von Grafrath e o Hektor von Schwaben, ainda que alguns tenham rejeitado mais tarde o Utz Haus Schütting (por exemplo). A redenção do CPA, que tarda em chegar e se vier a acontecer, antes que outros ocupem o seu lugar, virá do reconhecimento dos erros e da fusão das linhas, redescobrindo dessa forma o potencial laboral da raça, para outras inatingível e ainda possível se procurado.
As mais-valias do Cão de Pastor Alemão não passaram desapercebidas a ninguém, a raça estendeu-se de Sul para Norte na Alemanha, chegou aos sudetas e acabou também abraçada pelos ingleses, que apesar da resistência inicial, movida pela sua condição insular e exacerbado sentimento patriótico (eram na altura a 1ª potencial mundial), acabaram por importar vários cães da raça preconizada por Max von Stephanitz, estendendo-os também às suas colónias ultramarinas. Nove anos após a criação da Verein für Deutscher Schaferhund, em 1908, chegam os primeiros CPA’S a Inglaterra. Em 1919 o Kennel Club do Reino Unido já regista 54 exemplares e em 1926 eles atingem o número de 8.000, facto a que não foi alheio o seu desempenho enquanto cão militar na I Guerra Mundial, apesar da Alemanha ter saído derrotada nesse conflito. O apadrinhamento precoce da raça efectuado tanto pelos ingleses como pelos sudetas, tangencial à sua origem, acabou por firmar nesses territórios grande número de cães parcialmente azuis (lobeiros) e os azuis uniformes deles decorrentes. O particular geográfico de Inglaterra, o ódio ao tempo a tudo o que era germânico e seu desejo incontido de direito à diferença, levaram os criadores ingleses à perpetuação das linhas originais em contraponto com as selecções continentais. Ainda hoje são visíveis essas diferenças e o património genético da raça é mais rico na Inglaterra e na América do Norte do que na Alemanha, o que se compreende. Como resultado do desfecho da II Guerra Mundial, a Cortina de Ferro acabou por preservar também na Checoslováquia grande número de cães azuis (totais ou parciais), extremamente funcionais e muito procurados, ainda que abalados pelo espectro da consanguinidade, praga também extensível aos exemplares nascidos nos territórios da antiga RDA (DDR). Os afamados CPA’s russos do Exército Vermelho ou de criadores a ele ligados tiveram a mesma origem e muitos vieram parar a Portugal, particularmente depois da “Perestroika”.
Com a queda do Muro de Berlim e com o alargamento da CEE, com a abolição das fronteiras e com a livre circulação de pessoas e mercadorias, também porque o Leste da Europa estava depauperado, os cães do Leste chegaram ao Ocidente com preços irrisórios, bem abaixo dos praticados por aqui e geralmente transaccionados por intermediários espanhóis. Na Holanda ainda subsistem centros de treino canino que recebem cães dessa proveniência, de outras raças e de qualidade duvidosa, que depois de treinados, se destinam aos países meridionais da CEE para uso nas empresas de segurança privada. Como a continuidade de qualquer raça canina se encontra ligada ao factor económico, onde a procura alcança lugar de destaque, rapidamente os cães azuis foram assimilados pelos da variedade dominante, mais rentável, bem conhecida, melhor aceite e mais procurada. A formação do Lobo Checo, resultante do cruzamento do lobo europeu com o CPA, acabou também por contribuir para o desaparecimento do cão azul uniforme naquelas paragens, dotando-o de uma pelagem bicolor e mais próxima do seu progenitor silvestre. Para se aquilatar da influência do factor azul no Lobo Checo basta compará-lo com o Lobo Italiano, resultante do cruzamento do Lobo da Sardenha com o CPA, notoriamente mais vermelho ou achocolatado, mas igualmente desconfiado e de idêntico préstimo, pouco ou nenhum, considerando as dificuldades que apresentam na constituição binomial.
Ao Canadá, país profundamente dependente da Coroa Britânica nos alvores da raça, irão chegar CPA’S oriundos de Inglaterra e outros do final da I Guerra Mundial, exemplares azuis parciais, negros e brancos, para além dos afogueados que estão na origem dos actuais, acontecendo exactamente o mesmo nos Estados Unidos da América, prole que fundamentou o Pastor de Shiloh e o Pastor Canadiano, havendo nesses territórios pastores alemães cor de areia, tidos como dourados ou de manto vermelho (ver pág. 222 da obra “Enciclopédia do Cão, da autoria do Dr. Bruce Fogle, Ed. Livros e Livros, cuja 1ª edição remonta ao ano de 1998), que acabarão também por chegar à América Latina. A Inglaterra nunca se despojou totalmente dos exemplares que fundamentaram a raça no seu Kennel Club, muito embora os seus descendentes sejam raros, pouco badalados e procurados somente por apaixonados ou estudiosos do legado do Deutscher Schaferhund, apesar de mais robustos, funcionais, de garupa mais forte e desenvolvida. Foi graças a ter participado no contingente da Força Expedicionária Americana na I Guerra Mundial, que o Cabo Lee Duncan encontrou o Rin-Tin-Tin (Rinty), herói do cinema nas décadas de 20 e 30, que foi resgatado de um canil alemão bombardeado em Toul-Aux-Lorraine (França), também ele parcialmente azul (lobeiro) e que salvou a Warner Brothers da falência eminente.
Apesar de um bom Pastor Alemão poder custar o quádruplo dum Malinois de créditos firmados, não tem sido essa a razão principal para a sua substituição ou menor procura, muito embora não se possa ignorar o peso do factor económico. Estamos em crer, pela experiência que temos e pelo uso que fazemos destes cães ao longo de três décadas e meia, que o desuso do Pastor se deve à sua menor qualidade, ao desprezo pelo factor cromático azul que o levantou sobre os demais, enquanto génese das características psicológicas lupinas, porque para além da forma, o CPA é conteúdo e o cão cinzento isso garante. Na Europa já é difícil encontrar criadores de CPAS cinzentos, agora que o Leste ficou desfalcado e os ex-alemães orientais andam à procura de boleia. Contudo, lá para as bandas do Distrito de Wittenberg, ainda existem alguns criadores, pouco conhecidos mas conscientes da sua importância, gente que não vem anunciada nas revistas caninas e que não se sente molestada com a falta de deferência. Na Bélgica também os há, mas é na Inglaterra e dos Estados Unidos que existem em maior número. Os actuais lobeiros, chegados tarde e a más horas, fortemente ligados às linhas estéticas e pouco diferindo delas, são produzidos para o seu melhoramento e para a perpetuação da cor dominante, o que impede o retorno à variedade azul uniforme e quando a produz, mescla-a com lunares ou franjas vermelhas, como se o astro-rei (sol) sobre ela operasse. Em Portugal os cães cinzentos morreram com o Lobo da Alsácia, epitáfio francês que nunca escondeu a mentira que à data produziu.
Devido à sua raridade e possível interesse, também porque a diferença vende e o exotismo cativa, aqui e ali, tal negócio que desponta, surgem alguns criadores na procura do cão azul uniforme (cinzento total). Havendo excepções, a maioria deles ronda os cinquenta e poucos anos de idade, são gente que conheceu os cães do passado e que aposta agora no seu retorno ou ressurreição. Como é escasso o número de exemplares negros, variedade mal quista nas exposições de beleza, porque é recessiva e necessitam de uma cor sólida que propicie o aparecimento dos azuis totais, é comum valerem-se de exemplares brancos, descendentes indevidos da sua prole padronizada ou oriundos de outras raças congéneres (Pastor Suíço ou Canadiano). A opção pelo branco é a mais profícua, porque do cruzamento resultarão poucos indivíduos dessa cor e o número de cinzentos aumentará, ainda que possam surgir indivíduos com alguma diferença de tom ou pigmentação. A assimilação do branco não é novidade nenhuma, porque a selecção racial nunca se prestou à sua dominância, já que dois indivíduos brancos podem, sem maior dificuldade, gerar filhotes preto-afogueados. Quando visitamos estes criadores, sempre somos surpreendidos, geralmente num canil dos fundos ou arredado da entrada principal, com um ou mais cães brancos, secundados por exemplares de pelo comprido, de quem obtemos pouca ou nenhuma explicação, o que a ninguém espanta, porque os brancos não podem ser registados no Livro de Origens e os seus descendentes virão a aparecer com um pedigree inquestionável. Uma coisa é chegar ao azul total pela recessividade e outra bem diferente é alcançá-lo pela despigmentação, apesar dela ter acontecido nos alvores da raça. Nada temos contra os Pastores brancos, muito pelo contrário, porque neles são invisíveis muitas das maleitas presentes nos actuais Pastores. Estamos é contra a mentira, contra a trapaça que cega e burla os mais confiados, que ainda reconhecem rara erudição a quem tão bem os engana.
Na década de 90, a Acendura propôs-se a produzir Pastores cinzentos uniformes, valendo-se de cães oriundos das fileiras da GNR, negros e lobeiros, produto da esmerada selecção operada pelo Sr. Capitão Colares Rodrigues na década anterior, que ordinariamente se deslocava à Alemanha afim de adquirir bons cães policiais. Isso obrigou-nos a abraçar uma política de “quadro aberto”, aos beneficiamentos entre os negros e os lobeiros, dando a cada uma das variedades a presença da outra. Alguns exemplares negros mostravam essa evidência com pelos lobeiros no pescoço e no remate das coxas, os chamados lobeiros-negros, geralmente com a cor dos olhos mais clara e maiores que os exemplares homozigóticos negros. Os exemplares lobeiros provenientes desses beneficiamentos apresentavam-se mais pequenos que os lobeiros homozigóticos e mais cedo aceitavam a sua investidura policial. Quando a construção dos progenitores era maioritariamente negra, o número de cinzentos totais rondava entre 1/5 e 1/6 do total das ninhadas e quando era maioritariamente lobeira, o seu número não sofria grande alteração, porque os lobeiros proliferavam. Em ambos os casos apareciam exemplares preto-afogueados, ainda que mais cinzentos do que vermelhos nos membros. Produzimos ao todo 15 exemplares cinzentos uniformes (totalmente azuis) e nunca operámos qualquer beneficiamento entre eles. Sobrevive até hoje um exemplar desses em Vale de Adares, no Restaurante O Moleiro, na estrada que vai da Lourinhã para Peniche. Dele são algumas das fotos que ilustram este texto.
Cabe agora ao nosso aluno Eduardo Santos, a viver temporariamente em França e agora de férias em Portugal, aceitar a tarefa sem nenhuma incumbência da nossa parte, porque voluntariamente se dispôs a procurar e a reproduzir cães totalmente azuis, tendo já encetado alguns contactos com criadores ingleses e franceses, porque entre nós o factor está a desaparecer e sentimos que já fizemos a nossa parte. Há que dar o lugar aos novos! O cão totalmente azul proveniente do preto é um cão fantasma, alguém que aparece quando menos se espera, que tem um raro sentido policial e que é duma lealdade inquestionável. Sem a contribuição dos lobeiros já há muito teriam desaparecido os cinzentos, cães raros que unem a raça desde os seus primórdios até aos nossos dias.
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