Há quem julgue que um candidato a adestrador deva ser um trinca-fortes, um flautista de Hamelin, um valentão das dúzias, um mago ou bad boy. Dependendo das expectativas de quem selecciona, alguns candidatos ver-se-ão sujeitos a cerimónias iniciáticas próximas do final dos tempos, vistas na ficção e desafortunadamente tornadas realidade. Independentemente do perfil psicológico de cada um, que necessitará de se adequar à técnica e arte do adestramento, três qualidades devem ser procuradas entre os candidatos para agilizar a sua formação, rentabilizar o investimento e trazer benefícios para a cinotecnia. São elas: a intuição, a capacidade de sacrifício e o apego à erudição, porque ainda que o treino canino seja um trabalho oficinal, ele não é para malhar ferro, ser encarado de ânimo leve ou ser separado do avanço científico. Estas qualidades raras são genéticas e podem despontar sem qualquer contacto prévio, surpreendendo inclusive os indivíduos seus portadores. Sim, nasce-se ou não para o adestramento, muito embora alguns permanecem nele forçados por outras condições, entupindo assim a paixão que nos une aos cães e condenando-os ao subaproveitamento.
A intuição que reclamamos é aquela que leva o indivíduo a “adivinhar” aquilo que poderá acontecer, um acto do conhecimento que o leva à apreensão dum objecto de forma directa e imediata, geralmente inconsciente, alheio ao raciocínio simples e desprovido dos favores da prática, do tipo 3 como alguns a classificariam, uma vez que ela possibilita a resolução de um problema complexo sem o recurso o raciocínio. Desconhecemos se essa intuição é um processo divino ou paranormal, mas sabemos que ela existe e é necessária à comunicação interespécies, estabelecendo a diferença gradativa entre os adestradores de acordo com as respostas afirmativas dos cães. Esse dom parece-nos genético e prefigura-se instintivo, lembra a telepatia, ultrapassa a regra, abrange um novo capítulo da antrozoologia e possibilita a constituição binomial automática, sendo geralmente subentendido como vocação. Ainda que muitos falem para os cães, somente alguns obterão deles resposta, factor dependente da reciprocidade que leva à identificação mútua sem o concurso do condicionamento (coercivo, indutivo ou persuasivo). Os indivíduos portadores desta excelente característica, porque a receberam gratuitamente e sem qualquer esforço da sua parte, não são competitivos, são naturalmente desleixados e tendem a desusá-la, desaproveitando assim o muito que lhes foi dado. Poucos permanecerão no adestramento e cedo partirão à procura doutros encontros, inter pares e na procura de um estatuto próprio. Os que ficam irão necessitar da constância de desafios como estímulo. No adestramento, a sublimidade desta característica individual é estéril sem o contributo da capacidade de sacrifício e do apego à erudição, necessários ao crescimento do indivíduo e à transmissão dos seus conhecimentos.
A capacidade de sacrifício que adiantamos pode ser aqui entendida, num âmbito mais vasto, como espírito de sacrifício, atendendo à relação causa-efeito, uma capacidade que nos leva aceitar, aqui e agora, momentos ou ocasiões desagradáveis no treino, em função de uma meta ou objectivo posteriores, que reputamos mais valiosos. As limitações do adestrador colocam-no sempre aquém do seu desejo, do seu sentimento e do seu pensamento. Por isso essa capacidade de se dividir, temporalmente, entre um objectivo posterior e uma meta deficitária anterior é-lhe co-natural, necessita de ser desenvolvida e exercitada, atendendo também ao particular dos alunos e às suas dificuldades apreensíveis. Saber lidar com as contrariedades e não desanimar, suportar os erros e encontrar soluções, incentivar perante o descalabro, confiar nas vitórias e nunca esmorecer, são manifestações inequívocas da capacidade de sacrifício, uma tarefa didáctica que o treino exige aos adestradores. Como adestrar é tratar com pessoas, importa estar preparado, porque elas não apresentam grandes dificuldades na identificação das suas fraquezas, mas têm dificuldade em aceitá-las e em levá-las de vencida, o que lhes causa transtorno, lança-nos no embaraço e prejudica de sobremaneira o rendimento das classes. O bom adestrador é aquele que, a despeito da sua simpatia pessoal, consegue criar empatia com todos os seus instruendos, formando um discipulado caracterizado pela força do colectivo e pela ajuda mútua. A maioria dos adestradores da nossa praça sobrevive pela sua capacidade de sacrifício, colmatando dessa forma a ausência duma intuição inata, vale pela parceria e vai adiante pela simpatia, ainda que os cães pouco evoluam, porque importa que os condutores se sintam bem e reconheçam a amizade que lhes é oferecida. A intuição define o mestre e o espírito de sacrifício a camaradagem, a primeira vale aos cães e a segunda socorre os donos. Disponibilidade é a palavra de ordem e há que fazer de tudo para todos.
A ausência de um verdadeiro apego à erudição é a pior das lacunas que pode afectar um adestrador, porque acabará ultrapassado e sufocado pelas suas rotinas, já que o mundo é feito de mudança e o nosso corre a uma velocidade vertiginosa (a evolução tecnológica é tal que os homens têm dificuldade em adaptar-se). O adestramento é uma arte sujeita ao avanço científico e à novidade das técnicas que ele oferece, o que obriga os seus agentes à actualização constante e à procura de novos subsídios pedagógicos. A verdadeira erudição consiste na simplicidade de processos que torna possível o apetrechamento de todos os binómios. Para que isso aconteça é necessário que o adestrador aprofunde os seus conhecimentos, melhor se instrua e aumente o seu leque cultural, actualização que garantirá a sua prestação enquanto agente de ensino. São muitas as ciências e artes que concorrem para a antrozoologia e ela não deverá ser separada do treino canino propriamente dito, porque o subsidia, mantém e induz à inovação. Erram aqueles maus adestradores que saltitam de método em método e que nunca chegam a dominar nenhum, porque a erudição vem do saber adquirido e avança para o seu aprofundamento. O adestrador deve dedicar a sua vida à investigação, a perscrutar novos subsídios de ensino que tornem o treino mais apetecível para os cães e mais simples para os donos. Em síntese, a intuição abre-lhe o caminho, a capacidade de sacrifício lima-lhe as arestas e a erudição levá-lo-á para mais longe.
A intuição que reclamamos é aquela que leva o indivíduo a “adivinhar” aquilo que poderá acontecer, um acto do conhecimento que o leva à apreensão dum objecto de forma directa e imediata, geralmente inconsciente, alheio ao raciocínio simples e desprovido dos favores da prática, do tipo 3 como alguns a classificariam, uma vez que ela possibilita a resolução de um problema complexo sem o recurso o raciocínio. Desconhecemos se essa intuição é um processo divino ou paranormal, mas sabemos que ela existe e é necessária à comunicação interespécies, estabelecendo a diferença gradativa entre os adestradores de acordo com as respostas afirmativas dos cães. Esse dom parece-nos genético e prefigura-se instintivo, lembra a telepatia, ultrapassa a regra, abrange um novo capítulo da antrozoologia e possibilita a constituição binomial automática, sendo geralmente subentendido como vocação. Ainda que muitos falem para os cães, somente alguns obterão deles resposta, factor dependente da reciprocidade que leva à identificação mútua sem o concurso do condicionamento (coercivo, indutivo ou persuasivo). Os indivíduos portadores desta excelente característica, porque a receberam gratuitamente e sem qualquer esforço da sua parte, não são competitivos, são naturalmente desleixados e tendem a desusá-la, desaproveitando assim o muito que lhes foi dado. Poucos permanecerão no adestramento e cedo partirão à procura doutros encontros, inter pares e na procura de um estatuto próprio. Os que ficam irão necessitar da constância de desafios como estímulo. No adestramento, a sublimidade desta característica individual é estéril sem o contributo da capacidade de sacrifício e do apego à erudição, necessários ao crescimento do indivíduo e à transmissão dos seus conhecimentos.
A capacidade de sacrifício que adiantamos pode ser aqui entendida, num âmbito mais vasto, como espírito de sacrifício, atendendo à relação causa-efeito, uma capacidade que nos leva aceitar, aqui e agora, momentos ou ocasiões desagradáveis no treino, em função de uma meta ou objectivo posteriores, que reputamos mais valiosos. As limitações do adestrador colocam-no sempre aquém do seu desejo, do seu sentimento e do seu pensamento. Por isso essa capacidade de se dividir, temporalmente, entre um objectivo posterior e uma meta deficitária anterior é-lhe co-natural, necessita de ser desenvolvida e exercitada, atendendo também ao particular dos alunos e às suas dificuldades apreensíveis. Saber lidar com as contrariedades e não desanimar, suportar os erros e encontrar soluções, incentivar perante o descalabro, confiar nas vitórias e nunca esmorecer, são manifestações inequívocas da capacidade de sacrifício, uma tarefa didáctica que o treino exige aos adestradores. Como adestrar é tratar com pessoas, importa estar preparado, porque elas não apresentam grandes dificuldades na identificação das suas fraquezas, mas têm dificuldade em aceitá-las e em levá-las de vencida, o que lhes causa transtorno, lança-nos no embaraço e prejudica de sobremaneira o rendimento das classes. O bom adestrador é aquele que, a despeito da sua simpatia pessoal, consegue criar empatia com todos os seus instruendos, formando um discipulado caracterizado pela força do colectivo e pela ajuda mútua. A maioria dos adestradores da nossa praça sobrevive pela sua capacidade de sacrifício, colmatando dessa forma a ausência duma intuição inata, vale pela parceria e vai adiante pela simpatia, ainda que os cães pouco evoluam, porque importa que os condutores se sintam bem e reconheçam a amizade que lhes é oferecida. A intuição define o mestre e o espírito de sacrifício a camaradagem, a primeira vale aos cães e a segunda socorre os donos. Disponibilidade é a palavra de ordem e há que fazer de tudo para todos.
A ausência de um verdadeiro apego à erudição é a pior das lacunas que pode afectar um adestrador, porque acabará ultrapassado e sufocado pelas suas rotinas, já que o mundo é feito de mudança e o nosso corre a uma velocidade vertiginosa (a evolução tecnológica é tal que os homens têm dificuldade em adaptar-se). O adestramento é uma arte sujeita ao avanço científico e à novidade das técnicas que ele oferece, o que obriga os seus agentes à actualização constante e à procura de novos subsídios pedagógicos. A verdadeira erudição consiste na simplicidade de processos que torna possível o apetrechamento de todos os binómios. Para que isso aconteça é necessário que o adestrador aprofunde os seus conhecimentos, melhor se instrua e aumente o seu leque cultural, actualização que garantirá a sua prestação enquanto agente de ensino. São muitas as ciências e artes que concorrem para a antrozoologia e ela não deverá ser separada do treino canino propriamente dito, porque o subsidia, mantém e induz à inovação. Erram aqueles maus adestradores que saltitam de método em método e que nunca chegam a dominar nenhum, porque a erudição vem do saber adquirido e avança para o seu aprofundamento. O adestrador deve dedicar a sua vida à investigação, a perscrutar novos subsídios de ensino que tornem o treino mais apetecível para os cães e mais simples para os donos. Em síntese, a intuição abre-lhe o caminho, a capacidade de sacrifício lima-lhe as arestas e a erudição levá-lo-á para mais longe.
Sem comentários:
Enviar um comentário