sábado, 10 de julho de 2010

O ADN e o fim da bastardia

Mais ou menos durante um século, os canicultores deram azo à sua liberdade criativa, enveredando por caminhos proibidos ou ignorados pelos seus pares, produzindo desse modo cães superiores ou mais apropriados para os fins procurados. Essa prática tem passado desapercebida, sendo somente desnudada, eventualmente, por algum remanescente genético. Face à degeneração evidente nas actuais raças caninas, vítimas de selecções impróprias ou lesivas, o retorno à qualidade original tem sido mais do que uma tentação, na procura da rusticidade e das diferenças que as caracterizaram. É importante não esquecer a influência dos modelos sociais que prevaleceram no século passado e o tipo de contribuição que deram à canicultura, factores visíveis no corpo, na regra e na linguagem dos estalões dessa época. Nas grandes criações e em paralelo, sempre se mantiveram as variedades originais que serviram de protótipo às da actual dominância, ainda que ocultas dos visitantes, entregues a vizinhos ou rotuladas de impróprias, como algo arrumado no sótão a aguardar ocasião. As alterações forçadas que aconteceram ultimamente nalgumas raças, devem-se ao uso desses exemplares históricos e ignotos, ainda que o seu nome não conste em parte alguma. Com o advento do ADN, exame já hoje obrigatório nalguns países, a estratégia cairá em desuso, muito do oculto será revelado e ninguém quererá ser desmascarado. A verdade virá ao de cima e a canicultura será cada vez mais dependente dos avanços da engenharia genética, que neste caso chega atrasada e carece de rápido avanço, estando sujeita à investigação e aos subsídios que a suportam.

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