Neste último Sábado saímos
pela manhã com a maré vazia, aptos para receber da cidade aquilo que ela tinha
para oferecer-nos, debaixo de uma neblina que teimava em não se ir embora e que
encobria um sol baixo e envergonhado. Nada nos deteve ou afectou o ânimo e
acabámos por encontrar um sítio paradisíaco para treinar, com o turquesa do rio
à esquerda e com o verde da serra alcantilado à nossa direita. Com o Zéfiro(1) a bater-nos na face, deparámo-nos com um
jardim decorado com várias caixas que usámos como obstáculos. O primeiro
binómio a entrar em acção foi o constituído pelo José António e pelo Ben, que
executou em liberdade uma caixa transformada em janela.
Este binómio, ao
ultrapassar a “Janela” sem maiores dificuldades, veio também a vencer um
círculo bem maior, cuja dificuldade mais evidente foi a sua largura e
revestimento: 1 metro de chapa metálica. O convite para o obstáculo serviu mais
para o reforço da condução em liberdade do que para outra coisa qualquer (não é
fácil conduzir um cão que não nos pertence).
Tenho
por hábito introduzir o CPA Bohr aos obstáculos, não só por descender das
minhas linhas ou de ser um lobeiro de pêlo comprido, mas porque adoro Pastores
Alemães e dediquei muitos anos à sua criação, o suficiente para perceber que é
um cão mal-empregado nas mãos de muita gente.
Com um cão assim ninguém “fica
mal na fotografia”, porque é dedicado, fiel e valente, vive para agradar e
nunca abandona o seu dono. Confiantes no Bohr, adornámos o salto com mais dois
condutores, aumentando assim a sua dificuldade e beleza.
E porque quem tem um cão
assim não necessita de caçar com gato, apertámos a área a saltar, colocando
dentro do arco duas pessoas, certos que ao chamá-lo apareceria sem qualquer hesitação,
segundo a disponibilidade que há tanto nos acostumou.
A Nasha, a Fila vermelha,
é toda ela garra, velocidade e valentia, um animal atleticamente ímpar que
qualquer um gostaria de ter, particularmente para aqueles que não se satisfazem
apenas com a mediania. Com um condutor jovem, esta açoriana só lhe falta falar
e voar.
Segura e apaixonada pelo
seu condutor, acabou por saltar em sincronia com o Ben, criando desse modo uma
foto familiar ao juntar pai e filho na condução, um momento que se deseja ver
repetido e hoje infelizmente tão raro nas famílias.
Por mais alta que seja a
barreira e apertado que seja o caminho para o dono, o Bohr não teme e vai
adiante. Rápido que nem um tiro e com uma ligeireza raramente vista, este
lobeiro parece vocacionado para missões impossíveis.
E quando o fila-guia
escolar evidencia estas qualidades, quem o segue acaba por aceitar os mesmos desafios
e atingir as mesmas metas, porque os cães são curiosos e competitivos, o que
torna a classe escolar numa matilha espontânea e heterogénea. Onde o Bohr for,
a Nasha acompanhá-lo-á, ainda que nem sempre com “cara de bons amigos”.
Alguém duvida que a cadela
dedica-se ao trabalho com toda a sua força e genica? Os seus olhos não enganam
e evidenciam a sua determinação. Não sabemos o que aconteceu ao Paulo dentro da
janela para demonstrar tão boa disposição.
A foto seguinte prova a
unidade de propósitos do grupo escolar, o seu empenho pelo progresso colectivo
e a determinação do Bohr, que ao ouvir “up” ultrapassa tudo o que tiver na
frente, sejam barreiras ou pessoas.
Importava
ensinar ao Bohr o salto sobre a perna do condutor, valendo-nos primeiro de uma
pequena vara tornada em vertical crua
Depois foi só trocar a vara
pela perna do condutor (a vara deu muito
jeito ao Afonso que assim pode equilibrar-se melhor, ao apoiar-se nela). É
importante reparar, e isso diz algo sobre a qualidade do cão, que o animal
salta sobre a parte mais elevada da perna.
Tudo
o que o Bohr faz, a Nasha repete. Também ela precisava de aprender a saltar
sobre a perna do seu condutor e o procedimento repetiu-se. Ainda que seja o
Adestrador a conduzir a cadela, os comandos de salto são dados pelo seu dono.
Como
seria de esperar, a Nasha aprendeu a saltar a perna quase imediatamente,
demonstrando rara capacidade de concentração e de aprendizagem.
Independentemente das fotografias que lhe tiremos, o seu olhar apresenta-se frio
e impenetrável.
O
José Maria também se propôs a fazer o mesmo com a CPA Mel, ainda que
desajeitadamente, já que não respeitou os 3 momentos do salto nem agiu em
conformidade com eles. A Mel aparece rebocada pelo pescoço e é visível o
inusitado esforço do seu condutor, denunciado pela sua expressão facial e
contracção do pescoço.
A
determinada altura do treino reparámos num casal que se mostrou interessado no
nosso trabalho. De um momento para o outro pusemo-los a conduzir alguns dos
nossos cães para que experimentassem os benefícios do condicionamento.
“E
como não há duas sem três – dizem, homem e mulher acabaram por colaborar
connosco num conjunto de exercícios a pensar na sociabilização dos nossos cães
e na supressão de medos que importa irradiar.
Num
deles a senhora desempenhou o papel de “assaltada” e o Afonso de ladrão, tudo
para que o Bohr conseguisse guardar automaticamente qualquer coisa que lhe fosse
confiada, quer pertencesse ao seu dono ou não. Despedimo-nos do casal
expressando-lhe a nossa gratidão pela colaboração e desejando-lhe festas
felizes.
Dois
ciclistas que estavam por perto foram também convidados a colaborar connosco.
Junto com as suas bicicletas fizeram de obstáculo para o CPA Bohr ultrapassar.
Acostumado a saltos verticais superiores a 120 cm, o Pastor Alemão transpôs os
ciclistas com naturalidade.
E
para que não restem dúvidas, mostramos na foto seguinte a saída do CPA sobre
aquele obstáculo extraordinário. Se o trabalho do cão não nos surpreendeu, o
mesmo não aconteceu com aqueles ciclistas, que saíram dali maravilhados e com
algo para contar em casa.
A
princípio tristonha e a olhar para os seus botões, uma jovem mulher foi também
convidada para colaborar connosco, convite que aceitou sem qualquer reticência,
estendendo uma das s pernas para os cães saltarem, como complemento do trabalho
anteriormente desenvolvido.
Como
prémio pela sua colaboração pusemo-la a conduzir a Nasha. Sem que ninguém o
esperasse, evidenciou uma aptidão louvável e uma postura irrepreensível.
Soubemos que tem uma cadela, oxalá opte por vir treiná-la connosco.
Mas
a “estrela do dia” ainda estava para chegar, um miúdo com 3 anos de idade,
seguro e mandado para a frente, que ao ver os cães, desejou de imediato
conduzi-los. Espantados com tal resolução, fizemos-lhe a vontade e não nos
arrependemos, porque o menino mostrou-se à altura e saiu dali radiante.
Com
um monumento ali ao lado, elevado a 150 cm do solo e de projecção negativa,
optámos por mandar a Nasha para lá com o objectivo de tirar uma foto alegórica
à nossa passagem pelo local.
Apesar
da idade e da animosidade dos filas contra ela, a Cozita, a Pitbull da
Svetlana, gosta de acompanhar-nos e havendo recompensa não há nada que não faça.
Pondo de parte o seu excelente impulso ao alimento, a cadela é extremamente
doce, fiel e amiga.
E
como o Afonso é o “afilhado” do Adestrador, sempre é sujeito a trabalho extra e
a tarefas suplementares. Na foto abaixo vemo-lo a saltar com o CPA Bohr, para
que aprenda a colocar-se nos saltos com cães de diferente convergência sobre os
obstáculos.
Participaram
nos trabalhos os seguintes binómios: Afonso/Nasha; João/Ben; José António/Ben;
José Maria/Mel; Paulo/Bohr e Svetlana/Cozita. A Jessy e o Henrique colaboraram
connosco. O Paulo e o José António, como de costume, foram os fotógrafos. A
chuva poupou-nos e a temperatura foi subindo gradualmente. Terminámos os
trabalhos de “barriga cheia” mercê da variedade dos conteúdos de ensino.
Para a semana voltaremos com mais
novidades se a tempestade que se avizinha (Elsa) nos permitir. Uma semana
proveitosa para todos e Boas Festas.
(1)Vento de Oeste.
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