segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

SAIR COM A MARÉ VAZIA E REGRESSAR DE BARRIGA CHEIA

Neste último Sábado saímos pela manhã com a maré vazia, aptos para receber da cidade aquilo que ela tinha para oferecer-nos, debaixo de uma neblina que teimava em não se ir embora e que encobria um sol baixo e envergonhado. Nada nos deteve ou afectou o ânimo e acabámos por encontrar um sítio paradisíaco para treinar, com o turquesa do rio à esquerda e com o verde da serra alcantilado à nossa direita. Com o Zéfiro(1) a bater-nos na face, deparámo-nos com um jardim decorado com várias caixas que usámos como obstáculos. O primeiro binómio a entrar em acção foi o constituído pelo José António e pelo Ben, que executou em liberdade uma caixa transformada em janela.
Este binómio, ao ultrapassar a “Janela” sem maiores dificuldades, veio também a vencer um círculo bem maior, cuja dificuldade mais evidente foi a sua largura e revestimento: 1 metro de chapa metálica. O convite para o obstáculo serviu mais para o reforço da condução em liberdade do que para outra coisa qualquer (não é fácil conduzir um cão que não nos pertence).
Tenho por hábito introduzir o CPA Bohr aos obstáculos, não só por descender das minhas linhas ou de ser um lobeiro de pêlo comprido, mas porque adoro Pastores Alemães e dediquei muitos anos à sua criação, o suficiente para perceber que é um cão mal-empregado nas mãos de muita gente.
Com um cão assim ninguém “fica mal na fotografia”, porque é dedicado, fiel e valente, vive para agradar e nunca abandona o seu dono. Confiantes no Bohr, adornámos o salto com mais dois condutores, aumentando assim a sua dificuldade e beleza.


E porque quem tem um cão assim não necessita de caçar com gato, apertámos a área a saltar, colocando dentro do arco duas pessoas, certos que ao chamá-lo apareceria sem qualquer hesitação, segundo a disponibilidade que há tanto nos acostumou.
A Nasha, a Fila vermelha, é toda ela garra, velocidade e valentia, um animal atleticamente ímpar que qualquer um gostaria de ter, particularmente para aqueles que não se satisfazem apenas com a mediania. Com um condutor jovem, esta açoriana só lhe falta falar e voar.
Segura e apaixonada pelo seu condutor, acabou por saltar em sincronia com o Ben, criando desse modo uma foto familiar ao juntar pai e filho na condução, um momento que se deseja ver repetido e hoje infelizmente tão raro nas famílias.
Por mais alta que seja a barreira e apertado que seja o caminho para o dono, o Bohr não teme e vai adiante. Rápido que nem um tiro e com uma ligeireza raramente vista, este lobeiro parece vocacionado para missões impossíveis.
E quando o fila-guia escolar evidencia estas qualidades, quem o segue acaba por aceitar os mesmos desafios e atingir as mesmas metas, porque os cães são curiosos e competitivos, o que torna a classe escolar numa matilha espontânea e heterogénea. Onde o Bohr for, a Nasha acompanhá-lo-á, ainda que nem sempre com “cara de bons amigos”.
Alguém duvida que a cadela dedica-se ao trabalho com toda a sua força e genica? Os seus olhos não enganam e evidenciam a sua determinação. Não sabemos o que aconteceu ao Paulo dentro da janela para demonstrar tão boa disposição.
A foto seguinte prova a unidade de propósitos do grupo escolar, o seu empenho pelo progresso colectivo e a determinação do Bohr, que ao ouvir “up” ultrapassa tudo o que tiver na frente, sejam barreiras ou pessoas.
Importava ensinar ao Bohr o salto sobre a perna do condutor, valendo-nos primeiro de uma pequena vara tornada em vertical crua
Depois foi só trocar a vara pela perna do condutor (a vara deu muito jeito ao Afonso que assim pode equilibrar-se melhor, ao apoiar-se nela). É importante reparar, e isso diz algo sobre a qualidade do cão, que o animal salta sobre a parte mais elevada da perna.
Tudo o que o Bohr faz, a Nasha repete. Também ela precisava de aprender a saltar sobre a perna do seu condutor e o procedimento repetiu-se. Ainda que seja o Adestrador a conduzir a cadela, os comandos de salto são dados pelo seu dono.
Como seria de esperar, a Nasha aprendeu a saltar a perna quase imediatamente, demonstrando rara capacidade de concentração e de aprendizagem. Independentemente das fotografias que lhe tiremos, o seu olhar apresenta-se frio e impenetrável.
O José Maria também se propôs a fazer o mesmo com a CPA Mel, ainda que desajeitadamente, já que não respeitou os 3 momentos do salto nem agiu em conformidade com eles. A Mel aparece rebocada pelo pescoço e é visível o inusitado esforço do seu condutor, denunciado pela sua expressão facial e contracção do pescoço.
A determinada altura do treino reparámos num casal que se mostrou interessado no nosso trabalho. De um momento para o outro pusemo-los a conduzir alguns dos nossos cães para que experimentassem os benefícios do condicionamento.
“E como não há duas sem três – dizem, homem e mulher acabaram por colaborar connosco num conjunto de exercícios a pensar na sociabilização dos nossos cães e na supressão de medos que importa irradiar.
Num deles a senhora desempenhou o papel de “assaltada” e o Afonso de ladrão, tudo para que o Bohr conseguisse guardar automaticamente qualquer coisa que lhe fosse confiada, quer pertencesse ao seu dono ou não. Despedimo-nos do casal expressando-lhe a nossa gratidão pela colaboração e desejando-lhe festas felizes.
Dois ciclistas que estavam por perto foram também convidados a colaborar connosco. Junto com as suas bicicletas fizeram de obstáculo para o CPA Bohr ultrapassar. Acostumado a saltos verticais superiores a 120 cm, o Pastor Alemão transpôs os ciclistas com naturalidade.
E para que não restem dúvidas, mostramos na foto seguinte a saída do CPA sobre aquele obstáculo extraordinário. Se o trabalho do cão não nos surpreendeu, o mesmo não aconteceu com aqueles ciclistas, que saíram dali maravilhados e com algo para contar em casa.
A princípio tristonha e a olhar para os seus botões, uma jovem mulher foi também convidada para colaborar connosco, convite que aceitou sem qualquer reticência, estendendo uma das s pernas para os cães saltarem, como complemento do trabalho anteriormente desenvolvido.
Como prémio pela sua colaboração pusemo-la a conduzir a Nasha. Sem que ninguém o esperasse, evidenciou uma aptidão louvável e uma postura irrepreensível. Soubemos que tem uma cadela, oxalá opte por vir treiná-la connosco.
Mas a “estrela do dia” ainda estava para chegar, um miúdo com 3 anos de idade, seguro e mandado para a frente, que ao ver os cães, desejou de imediato conduzi-los. Espantados com tal resolução, fizemos-lhe a vontade e não nos arrependemos, porque o menino mostrou-se à altura e saiu dali radiante.
Com um monumento ali ao lado, elevado a 150 cm do solo e de projecção negativa, optámos por mandar a Nasha para lá com o objectivo de tirar uma foto alegórica à nossa passagem pelo local.
Apesar da idade e da animosidade dos filas contra ela, a Cozita, a Pitbull da Svetlana, gosta de acompanhar-nos e havendo recompensa não há nada que não faça. Pondo de parte o seu excelente impulso ao alimento, a cadela é extremamente doce, fiel e amiga.
E como o Afonso é o “afilhado” do Adestrador, sempre é sujeito a trabalho extra e a tarefas suplementares. Na foto abaixo vemo-lo a saltar com o CPA Bohr, para que aprenda a colocar-se nos saltos com cães de diferente convergência sobre os obstáculos.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Afonso/Nasha; João/Ben; José António/Ben; José Maria/Mel; Paulo/Bohr e Svetlana/Cozita. A Jessy e o Henrique colaboraram connosco. O Paulo e o José António, como de costume, foram os fotógrafos. A chuva poupou-nos e a temperatura foi subindo gradualmente. Terminámos os trabalhos de “barriga cheia” mercê da variedade dos conteúdos de ensino.
Para a semana voltaremos com mais novidades se a tempestade que se avizinha (Elsa) nos permitir. Uma semana proveitosa para todos e Boas Festas.
(1)Vento de Oeste.

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