A Ceia de Natal
portuguesa, também entendida entre nós como “Consoada”, é para os que podem um
manjar principesco que chega a envergonhar os outrora faustosos banquetes de
imperadores e reis, pela sua qualidade, variedade e quantidade. A comida sempre
acaba por sobrar, porque foi requisitada debaixo do princípio “quando sobra é
que está bem!” As entradas recaem normalmente sobre queijos amanteigados,
salpicões, paios e camarões. Os pratos mais comuns e que se sucedem uns aos
outros são: o bacalhau cozido com batatas e couves, o peru; o cabrito e polvo
regado com bastante azeite.
Estas iguarias, normalmente antecedidas por sopa de
caldo verde com rodelas de chouriço, são por norma acompanhadas por vinho de
boa a excelente qualidade. Há ainda quem faça ou encomende pastéis e rissóis,
nomeadamente pastéis de bacalhau e os rissóis de massa tenra, assim como marisco
“à Bulhão Pato”. No que às sobremesas diz respeito, temos: os sonhos; as
rabanadas (que poderão ser bêbadas ou não); os coscorões; o arroz-doce; pudins;
lampreia de ovos, mousse, alguns bolos cremosos e também tigeladas.
O que sobra, e sobra
muito, é transformado no dia seguinte em “Roupa Velha”, num menu que engloba as
sobras destinadas a quem já está farto de comer e deita comida pelos olhos.
Todos os anos alguém diz: “Isto é uma brutalidade e um desperdício, não havia
necessidade disto, para o ano vai ser diferente!” Mas a promessa nunca se
cumpre e no ano seguinte a história repete-se, mesmo que os convidados para a
consoada sofram de tensão alta, de colesterol elevado, de diabetes ou de ácido
úrico! Não seria melhor, atendendo ao bem-estar de todos e ao aumento dos
portugueses no limiar da pobreza, que os excessivos jantares de natal fossem
distribuídos por quem tem e passa fome?
Não seria mais razoável e fraterno
distribuir do que encher o bandulho? Esta ideia é do agrado de todos, mas serão
muito poucos os que virão a abraçá-la. E no meio disto tudo, onde fica o Natal
e a sua mensagem? Provavelmente nas espinhas do bacalhau ou na cabeça do
cabrito que foi parar ao caixote do lixo. Somos um País cristão? Provavelmente
não, porque elevámos o profano sobre o sagrado e fizemos do Natal sinónimo de “encher
a pança!”
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