Ontem pelo meio-dia,
alguém pediu-me para comentar o vídeo constante em https://www.youtube.com/watch?v=USUyXKJHxn8,
que manifestasse o meu parecer técnico sobre uma série de ataques caninos
realizados lá para os lados da Rússia e presentes no Youtube, tarefa para mim
cansativa pela ausência de novidade. Todavia, excepcionalmente, acabei por
aceder ao pedido, atendendo à delicadeza e interesse de quem o formulou. Como
recebemos cerca de 3.000 emails mensais a exigir resposta, não temos como
responder por escrito a quem nos pode contactar pessoalmente sem prejudicar
alguns dos nossos assíduos leitores, facto que transmitimos a este nosso interlocutor.
Aos olhos dos menos
experimentados, este vídeo, com uma duração de 15:06 minutos, parece exaltar a bravura
e eficácia dos cães nele constantes, como se fossem guardiões indomáveis e
predadores impiedosos pelo uso decidido do seus dentes. Mas um olhar mais
atento põe a nu as suas fragilidades e o logro dos métodos utilizados, se
tivermos em conta as vantagens que os cães não dispensam neste tipo de trabalho
e o indispensável controlo dos seus donos, porque o que se espera não
surpreende e os acidentes acontecem. Estamos assim perante um excelente vídeo
de propaganda, muito ao estilo dos filmes alemães das décadas de 30 e 40, diante
um conjunto de verdades subjectivas que tiram partido das ilusões que as
aparências oferecem.
Torna-se evidente e o
vídeo não encobre, que a agressividade dos cães foi tirada a partir da prisão,
do velho método da corrente, acessório que coloca os cães “entre a espada e a
parede” quando provocados, que suscita e potencia o seu sentimento territorial,
graças ao seu pequeno raio e à impossibilidade de fuga. Obter-se-ia o mesmo
efeito com os cães seguros e amparados pelos donos, apesar da opção ser para
estes mais cansativa ou extenuante. Ali, aqueles “fabricantes de cães de guerra”
juntaram dois em um ao prender os cães à corrente e ao sentar os seus donos ou
condutores num banco lateral, para que o seu incentivo fosse mais activo e
eficaz.
Há neste vídeo o desejo de
mostrar que aqueles cães, quando instigados a atacar, não se distraem seja com o que for, daí o lançamento dum pesado embrulho que é jogado em
intercepção durante os ataques lançados. Contudo, o embrulho é invariavelmente
lançado sem em bater contra os cães, estratégia que visa a aprovação de todos e
que impede a avaliação séria do carácter de cada um deles. Simultaneamente
tenta-se vender que os cães filmados são impolutos e incorruptíveis, quando lhes
lançam iscos durante a provocação, o que é gratuito caso se encontrem de barriga
cheia, estejam condicionados a atacar a partir da corrente e os seus ataques
tenham sido bem-sucedidos. Outra coisa seria lançar-lhes os iscos com a barriga
vazia sem terem razão e incentivos para atacar (assim se enganam os tolos!).
Para além destes aspectos,
há cinco (5) principais menos valias que são por demais evidentes nos cães
guardiões constantes no vídeo: 1 _ Faltam ataques superiores e a zonas vitais,
o que facilita de sobremaneira a defesa dos agressores e a eliminação dos
animais em situações reais; 2 _ Fica claro que aqueles cães encontram-se
fixados tanto no fato como no homem que o veste, porque jamais atacaram o
agressor munido de moca quando o do fato se fez presente, o que não deixa de
ser ridículo diante da necessária defesa dos animais; 3 _ Todos os cães
convidados para atacar mostraram sérias dificuldades em cessar os seus ataques,
o que tanto pode ter sido intencional (para demonstrar a pseudo raiva dos
cães), como uma dificuldade acrescida resultante da inexistência de uma verdadeira
acção de travamento, o que ainda é pior;
4 _ Depois de atacados, os
figurantes não reagem e nem esboçam qualquer tipo de contra-ataque digno desse
nome, o que encobre a verdadeira natureza dos cães, desnuda os métodos
utilizados e serve perfeitamente à propaganda; 5 _ No final do vídeo há uma
clara tentativa de mostrar ataques a alvos imóveis, tirados a partir da queda
simulada dos figurantes, pormenor que denota dificuldades objectivas neste tipo
de ataques, que deverão ser treinados a partir da imobilidade plena dos
agressores, já que um homem armado não precisa de se mexer e não opta por
provocar os cães. Em síntese, estamos perante um filme de ficção cujos
realizadores tentaram aproximar o mais possível da realidade, literalmente diante
de mais um exemplo de descarada publicidade enganosa.
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