Neste mundo em que ninguém
se entende e tudo é permitido, ergue-se majestosa a tolice que abraçada à
ignorância muitos vitima, nelas sobrando episódios revoltantes que não
dispensam o assassínio dos mais vulneráveis. Vamos a mais um caso. Em Yaxley,
Cambridgeshire, UK, um bebé de 1 mês de idade, a quem foi posto o nome de
Reuben McNulty, foi atacado no mês passado, dentro de sua casa, por dois
Staffordshire Terriers pertencentes aos seus pais (na foto abaixo), que lhe
causaram graves e horríveis ferimentos, colocando-o entre a vida e a morte.
Hospitalizado logo após o ataque, que ocorreu no passado dia 18 de Novembro, faleceu
ontem no Hospital de Addenbrooke, em Cambridge, vítima dos ferimentos
infligidos.
O avô da falecida criança
ao referir-se ao ocorrido, disse que tudo se deveu a um “acidente esquisito” e
que aqueles cães (Fizz e Dotty) eram dóceis (imaginem se não fossem!). Importa
dizer que os Staffordshire já viviam naquela casa antes da chegada do bebé,
apartamento exíguo constituído apenas por dois quartos, espaço óptimo para
potenciar a territorialidade daqueles cães. Um vizinho que morava na frente do
casal e pediu para permanecer anónimo, ao ver a mãe da criança grávida, perguntou
ao seu companheiro o que iria ele fazer com os cães, porque podiam estranhar o
bebé e tornar-se perigosos quando tomados de ciúme (palavras acertadas). Perante
o aviso, Dan McNulty, de 31 anos, o pai do finado bebé, disse que aqueles cães
eram os seus bebés, mas que ia tomar cuidado e que ele e a companheira, Amy
Litchfield, de 28 anos, já estavam a pensar no assunto (ou não tiveram tempo
para pensar ou pensaram errado).
Os cães (na foto seguinte),
que até à passada Sexta-feira se encontravam nos canis policiais, acabaram por
ser abatidos e os pais do bebé foram presos sob suspeita de negligência
infantil, vindo depois a ser soltos debaixo de medidas de coacção, porquanto
decorre a respectiva investigação criminal. O avô do bebé assassinado não se
cansa de dizer que aqueles cães eram dóceis, que tudo se deveu a um acidente
tolo e esquisito e que os pais do bebé se encontram despedaçados e que estão a ser
retratados como pais horríveis, quando na verdade foram fantástico?!
Eu não sei do que é que o
Governo de Sua Majestade está à espera para proibir o Staffordshire nas Ilhas
Britânicas, não porque a raça seja substancialmente mais perigosa do que outras,
mas porque é um dos cães que mais mata por lá, o que equivale a dizer que os britânicos
não sabem ou não têm como controlá-la, sendo por isso proprietários impróprios
para a raça, o que não deixa de causar alguma estranheza, quando ela é popular
no Reino Unido. Os cães assassinos seriam meigos? Tudo leva a crer que sim e eu
nem ponho isso em dúvida. Do que eu duvido é que tenham sido adequadamente
educados e convenientemente preparados para a chegada do bebé, uma vez que também
eles eram entendidos como “bebés”.
Não estranho este triste
desfecho, porque a história tinha tudo para ter um final bárbaro e bastante
infeliz. Justifico o que acabei de afirmar a partir da antiguidade dos cães
naquela casa, do tratamento que lhes foi dado, da exiguidade do espaço e da
intrusão do bebé, factores que somados ao facto dos cães serem de natureza
territorial, facilmente resultariam no “inesperado” assassinato do Reuben.
Tratados como filhinhos, sem liderança efectiva, donos do exíguo espaço e
próprios para defendê-lo, não viram com bons olhos a chegada da criança, que ao
merecer também os cuidados e a atenção dos donos, foi entendida pelos cães como
uma indesejável intrusa: uma concorrente que não desejavam.
Face ao hábito que por aí
vai, dos casais adquirem cães antes de terem filhos, torna-se indispensável
educar convenientemente os animais antes da chegada dos filhos, para que a
liderança dos donos seja capaz de controlar eficazmente os cães e salvaguardar
a vida, a saúde e o bem-estar dos seus descendentes, o que obviamente só
acontecerá se em simultâneo forem instituídas regras e limites no espaço
doméstico, visando a coabitação harmoniosa de todos. Não me apraz o mal alheio,
mas os pais do bebé, sem grandes entraves e depois do aviso feito pelo vizinho
sobre a perigosidade daqueles cães, facilmente seriam acusados de homicídio
involuntário, ao invés de serem apenas suspeitos de negligência infantil.
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