sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

MAIS UMA VÍTIMA DA TOLICE

Neste mundo em que ninguém se entende e tudo é permitido, ergue-se majestosa a tolice que abraçada à ignorância muitos vitima, nelas sobrando episódios revoltantes que não dispensam o assassínio dos mais vulneráveis. Vamos a mais um caso. Em Yaxley, Cambridgeshire, UK, um bebé de 1 mês de idade, a quem foi posto o nome de Reuben McNulty, foi atacado no mês passado, dentro de sua casa, por dois Staffordshire Terriers pertencentes aos seus pais (na foto abaixo), que lhe causaram graves e horríveis ferimentos, colocando-o entre a vida e a morte. Hospitalizado logo após o ataque, que ocorreu no passado dia 18 de Novembro, faleceu ontem no Hospital de Addenbrooke, em Cambridge, vítima dos ferimentos infligidos.
O avô da falecida criança ao referir-se ao ocorrido, disse que tudo se deveu a um “acidente esquisito” e que aqueles cães (Fizz e Dotty) eram dóceis (imaginem se não fossem!). Importa dizer que os Staffordshire já viviam naquela casa antes da chegada do bebé, apartamento exíguo constituído apenas por dois quartos, espaço óptimo para potenciar a territorialidade daqueles cães. Um vizinho que morava na frente do casal e pediu para permanecer anónimo, ao ver a mãe da criança grávida, perguntou ao seu companheiro o que iria ele fazer com os cães, porque podiam estranhar o bebé e tornar-se perigosos quando tomados de ciúme (palavras acertadas). Perante o aviso, Dan McNulty, de 31 anos, o pai do finado bebé, disse que aqueles cães eram os seus bebés, mas que ia tomar cuidado e que ele e a companheira, Amy Litchfield, de 28 anos, já estavam a pensar no assunto (ou não tiveram tempo para pensar ou pensaram errado).
Os cães (na foto seguinte), que até à passada Sexta-feira se encontravam nos canis policiais, acabaram por ser abatidos e os pais do bebé foram presos sob suspeita de negligência infantil, vindo depois a ser soltos debaixo de medidas de coacção, porquanto decorre a respectiva investigação criminal. O avô do bebé assassinado não se cansa de dizer que aqueles cães eram dóceis, que tudo se deveu a um acidente tolo e esquisito e que os pais do bebé se encontram despedaçados e que estão a ser retratados como pais horríveis, quando na verdade foram fantástico?!
Eu não sei do que é que o Governo de Sua Majestade está à espera para proibir o Staffordshire nas Ilhas Britânicas, não porque a raça seja substancialmente mais perigosa do que outras, mas porque é um dos cães que mais mata por lá, o que equivale a dizer que os britânicos não sabem ou não têm como controlá-la, sendo por isso proprietários impróprios para a raça, o que não deixa de causar alguma estranheza, quando ela é popular no Reino Unido. Os cães assassinos seriam meigos? Tudo leva a crer que sim e eu nem ponho isso em dúvida. Do que eu duvido é que tenham sido adequadamente educados e convenientemente preparados para a chegada do bebé, uma vez que também eles eram entendidos como “bebés”.
Não estranho este triste desfecho, porque a história tinha tudo para ter um final bárbaro e bastante infeliz. Justifico o que acabei de afirmar a partir da antiguidade dos cães naquela casa, do tratamento que lhes foi dado, da exiguidade do espaço e da intrusão do bebé, factores que somados ao facto dos cães serem de natureza territorial, facilmente resultariam no “inesperado” assassinato do Reuben. Tratados como filhinhos, sem liderança efectiva, donos do exíguo espaço e próprios para defendê-lo, não viram com bons olhos a chegada da criança, que ao merecer também os cuidados e a atenção dos donos, foi entendida pelos cães como uma indesejável intrusa: uma concorrente que não desejavam.
Face ao hábito que por aí vai, dos casais adquirem cães antes de terem filhos, torna-se indispensável educar convenientemente os animais antes da chegada dos filhos, para que a liderança dos donos seja capaz de controlar eficazmente os cães e salvaguardar a vida, a saúde e o bem-estar dos seus descendentes, o que obviamente só acontecerá se em simultâneo forem instituídas regras e limites no espaço doméstico, visando a coabitação harmoniosa de todos. Não me apraz o mal alheio, mas os pais do bebé, sem grandes entraves e depois do aviso feito pelo vizinho sobre a perigosidade daqueles cães, facilmente seriam acusados de homicídio involuntário, ao invés de serem apenas suspeitos de negligência infantil.

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