As VIAS ACESSÓRIAS ATRIOVENTRICULARES
responsáveis por arritmias cardíacas que afectam homens e cães, colocando-os em
risco de vida, são feixes musculares congénitos que conectam electricamente os átrios
aos ventrículos, possibilitando uma condução eléctrica para além do sistema
normal de condução. Falando dos homens, o mais frequente das vias acessórias
atrioventriculares é o “Feixe de Kent”, observado na síndrome de
Wolff-Parkinson-White.
Ainda que esses feixes
possam estar localizados em inúmeras posições, a sua localização mais comum é
próximo do anel mitral. As vias acessórias podem ser ocultas, quando conduzem
os impulsos eléctricos unicamente no sentido retrógrado (do ventrículo para o
átrio) ou manifestas, quanto também são capazes de conduzir no sentido
anterógrado (do átrio para o ventrículo). Enquanto as vias ocultas não são identificadas
pelo electrocardiograma de rotina, as manifestas são-no pelos feixes, o que
torna possível o seu diagnóstico. Diversas taquiarritmias podem acometer os
portadores de vias acessórias atrioventriculares. O tratamento da crise de
arritmia nos humanos deverá ser feito em hospital ou ambulatório com auxílio de
medicamentos. Para se evitar a repetição das crises, o tratamento é a ablação
por cateter com energia de radiofrequência, que atinge um índice de cura
superior aos 95%, ainda que os fármacos possam também vir a ser utilizados.
Esta técnica minimamente
invasiva, a da ablação por radiofrequência (RFCA) para combater as vias
acessórias, foi adaptada pela Dr.ª KATHY
N. WRIGHT e pelos seus colegas da MEDVET,
um grupo de hospitais veterinários norte-americanos de emergência com várias
especialidades. A equipa de pesquisadores foi financiada pela MORRIS ANIMAL FOUNDATION e
desenvolveu um tratamento para cães portadores duma arritmia rara, que
normalmente coloca a vida dos animais em risco, causada pelas vias acessórias
atrioventriculares, a partir da técnica da ablação por cateter de radiofrequência,
procedimento cardiológico humano, alcançando igual taxa de sucesso à verificada
nas pessoas – superior a 95%. Os resultados do trabalho desta equipa de
veterinários foram publicados no JOURNAL
OF VETERINARY INTERNAL MEDICINE.
A Dr.ª Wright disse a
propósito: “As vias acessórias ventriculares (APs) são uma das causas mais comuns
de ritmo cardíaco rápido em cães jovens e tivemos o prazer de provar que elas
são curáveis com a ablação por cateter de radiofrequência" e “Os cães
podem finalmente ter seus corações em recuperação e livrar-se de todos os
fármacos dentro de um período de três meses, continuando a viver vidas
normais." Como atrás já dissemos, as APs são circuitos eléctricos anormais
no coração que podem activar-se e superar as vias normais de corrente do
coração, prejudicando gravemente a sua capacidade de bombear. O RFCA usa
radiofrequências para destruir esses circuitos e permite que a função normal do
coração seja retomada.
A Dr.ª KELLY DIEHL (na
foto abaixo), vice-presidente interina de programas científicos da Morris
Animal Foundation, disse sobre a importância do presente estudo: “O estudo da
Dr.ª Wright demonstrou que a ablação por cateter de radiofrequência é uma
alternativa segura e altamente eficaz a medicamentos para toda a vida e
repetidas visitas aos veterinários" e ainda: "Melhor ainda é que é
uma solução a longo prazo para um problema que pode ser fatal se não for
tratado”. A equipa de investigadores usou o RFCA para tratar 89 cães com
arritmia relacionada com AP, num total de 23 raças caninas, ainda que mais de
metade dos cães tenham sido labradores, já que as APs são mais prevalentes
nesta raça. Os investigadores introduziram um cateter em cada cão e enviaram
ondas de rádio em direcção às APs. Cada cão foi monitorado por telemetria, num
mínimo de 16 horas, após o procedimento e antes de receber alta.
Durante 2 meses a
actividade do coração dos cães foi medida para determinar a eficácia do
tratamento. Oitenta e seis cães viram curada a sua arritmia apenas com o
tratamento inicial de RFCA e os 3 restantes foram curados num segundo tratamento.
As vias acessórias ventriculares (APs) são conhecidas por causar ritmos
cardíacos rápidos que podem resultar em insuficiência cardíaca congestiva ou
morte súbita. Os seus sintomas podem incluir extrema fadiga e desconforto
gastrointestinal, incluindo falta de apetite e vómitos. Como estes sintomas
estão também associados a outros problemas de saúde, a afecção torna-se de
difícil diagnóstico. Continua a ignorar-se como APs são criadas.
Estamos numa era em que a
medicina e a veterinária se encontram cada vez mais próximas, contribuindo cada
uma delas para o benefício da outra, o que se saúda pelos avanços que vão
tendo.
Sem comentários:
Enviar um comentário