quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

COMO O LOBO SE TORNOU CÃO SEGUNDO KARL KOTRSCHAL

Para que não se julgue estarmos a difundir o parecer de algum “encantador de cães” ou de um erudito “do espírito santo de orelha”, vamos primeiro divulgar quem é Kurt Kotrschal, um biólogo austríaco, cientista comportamental e autor de vasta obra, nascido a 05 de Maio de 1953. Actualmente professor na Universidade de Viena, Kotrschal estudou biologia em Salzburgo, completando os seus estudos em 1979, recebendo dois anos depois o doutoramento e a sua habilitação em 1987. De 1981 a 1989, foi professor assistente na Universidade de Salzburgo e de 1989 a 1990 foi assistente na Universidade de Colorado, Denver/USA. Kotrschal tem uma cátedra da Universidade de Viena, na Faculdade de Ciências da Vida, no Departamento de Biologia comportamental, onde lida com os aspectos hormonais e cognitivos da organização social, assim como pesquisa a relação humano-animal, especialmente a relação entre o homem e o cão. Desde Julho de 1990, encontra-se à frente da Estação de Pesquiza Konrad Lorenz sediada em Grünau, onde foi também co-fundador do Lobo Science Center. Muito mais haveria a dizer sobre Kurt Kotrschal, mas julgo ser bastante o que já dissemos sobre este pesquisador, que foi eleito o cientista austríaco de 2010.
Segundo este reconhecido cientista, no período do neolítico, há cerca de 30.000 atrás, no meio de mutos predadores que espreitavam nas estepes da Europa e na Ásia, os nossos antepassados acabariam por escolher o lobo como companheiro de caçadas, escolha que se ficou a dever à semelhança social entre os seres humanos e os lobos, que em pequenos grupos praticavam a caça em comum, cooperando uns com os outros, como foi o caso da caça aos Mamutes, não sendo por isso de estranhar que os primeiros cães tenham aparecido em paralelo com o surgimento da cultura dos caçadores de mamutes na Europa e na Ásia. Mesmo com a melhoria tecnológica das armas da época, não era trivial para o s homens matar um mamute, porquanto este grande animal precisava primeiro de ser encurralado (cercado), tarefas que os primeiros cães-lobos assumiam e executavam na perfeição.
Para além dos benefícios relativos à caça, a proximidade dos lobos cada vez mais domesticados oferecia outra grande vantagem: a das pessoas não poderem ser tão facilmente atacadas à noite, já que o lobo manso emitia avisos da presença de algo suspeito para ele, podendo alertar atempadamente os humanos para a presença de ursos e de outros animais selvagens, serviço que poderá tê-lo tornado indispensável. Ainda que possa ter sido o lobo a dar o primeiro passo na futura amizade homem-cão, por ser bastante curioso, os homens apenas seleccionaram os que não atacavam as suas crianças, acabando por dizimar os restantes. Por outro lado, os nossos antepassados bem depressa se aperceberam que, se queriam os seus filhos vivos, manter a cooperação com os lobos e continuar a merecer a sua confiança, teriam também que criar as suas crias, prática que só se generalizou com a sedentarização humana, com o cultivo dos cereais e a produção pecuária.    
Esta selecção operada pelo homem no cão-lobo, ao fim de algumas gerações, tornou-o mais manso e utilizável, tornando-se próprio para guardar gado, casas e outros bens. Para além destes aspectos, esta selecção trouxe consigo as características que distinguem os cães do lobos: focinhos mais curtos, dentes menores, orelhas de abano e mantos malhados. Com o surgimento das colheitas, gradualmente os cereais começaram a entrar na alimentação daqueles cães, novidade que se mantém até à presente data, já que os cães podem digerir o amido e os lobos não.
Kotrschal diz que “o ladrar canino também fez parte do desenvolvimento da relação havida entre cães e homens”, já que os cães não gemem tanto como os lobos, surgindo o ladrar como uma adaptação à vida com os humanos, já que os últimos melhor interpretam o ladrar do que o uivar. Como curiosidade adianta-se que nos últimos 35.000, quase todos os grupos humanos viveram acompanhados pelos cães, excepção feita aos aborígenes na Austrália, que chegaram aquele longínquo continente há 40.000 atrás sem cães. Só há 3.000 atrás, os cães povoaram o continente em forma de dingos, possivelmente introduzidos por contactos comerciais com o sudoeste asiático.  
PS: o texto que serviu de base a este artigo foi “WIE WURDE DER WOLF ZUM HUND?“, da autoria de KAI STOPPELL, datado de 25/12/2018 e publicado pelo n-tv, canal aberto de notícias em alemão.

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