Para que não se julgue
estarmos a difundir o parecer de algum “encantador de cães” ou de um erudito “do
espírito santo de orelha”, vamos primeiro divulgar quem é Kurt Kotrschal, um
biólogo austríaco, cientista comportamental e autor de vasta obra, nascido a 05
de Maio de 1953. Actualmente professor na Universidade de Viena, Kotrschal
estudou biologia em Salzburgo, completando os seus estudos em 1979, recebendo dois
anos depois o doutoramento e a sua habilitação em 1987. De 1981 a 1989, foi
professor assistente na Universidade de Salzburgo e de 1989 a 1990 foi assistente
na Universidade de Colorado, Denver/USA. Kotrschal tem uma cátedra da
Universidade de Viena, na Faculdade de Ciências da Vida, no Departamento de
Biologia comportamental, onde lida com os aspectos hormonais e cognitivos da
organização social, assim como pesquisa a relação humano-animal, especialmente
a relação entre o homem e o cão. Desde Julho de 1990, encontra-se à frente da
Estação de Pesquiza Konrad Lorenz sediada em Grünau, onde foi também co-fundador
do Lobo Science Center. Muito mais haveria a dizer sobre Kurt Kotrschal, mas
julgo ser bastante o que já dissemos sobre este pesquisador, que foi eleito o
cientista austríaco de 2010.
Segundo este reconhecido
cientista, no período do neolítico, há cerca de 30.000 atrás, no meio de mutos
predadores que espreitavam nas estepes da Europa e na Ásia, os nossos
antepassados acabariam por escolher o lobo como companheiro de caçadas, escolha
que se ficou a dever à semelhança social entre os seres humanos e os lobos, que
em pequenos grupos praticavam a caça em comum, cooperando uns com os outros,
como foi o caso da caça aos Mamutes, não sendo por isso de estranhar que os
primeiros cães tenham aparecido em paralelo com o surgimento da cultura dos
caçadores de mamutes na Europa e na Ásia. Mesmo com a melhoria tecnológica das
armas da época, não era trivial para o s homens matar um mamute, porquanto este
grande animal precisava primeiro de ser encurralado (cercado), tarefas que os
primeiros cães-lobos assumiam e executavam na perfeição.
Para além dos benefícios
relativos à caça, a proximidade dos lobos cada vez mais domesticados oferecia
outra grande vantagem: a das pessoas não poderem ser tão facilmente atacadas à
noite, já que o lobo manso emitia avisos da presença de algo suspeito para ele,
podendo alertar atempadamente os humanos para a presença de ursos e de outros
animais selvagens, serviço que poderá tê-lo tornado indispensável. Ainda que possa
ter sido o lobo a dar o primeiro passo na futura amizade homem-cão, por ser
bastante curioso, os homens apenas seleccionaram os que não atacavam as suas crianças,
acabando por dizimar os restantes. Por outro lado, os nossos antepassados bem
depressa se aperceberam que, se queriam os seus filhos vivos, manter a
cooperação com os lobos e continuar a merecer a sua confiança, teriam também
que criar as suas crias, prática que só se generalizou com a sedentarização
humana, com o cultivo dos cereais e a produção pecuária.
Esta selecção operada pelo
homem no cão-lobo, ao fim de algumas gerações, tornou-o mais manso e utilizável,
tornando-se próprio para guardar gado, casas e outros bens. Para além destes
aspectos, esta selecção trouxe consigo as características que distinguem os
cães do lobos: focinhos mais curtos, dentes menores, orelhas de abano e mantos
malhados. Com o surgimento das colheitas, gradualmente os cereais começaram a
entrar na alimentação daqueles cães, novidade que se mantém até à presente
data, já que os cães podem digerir o amido e os lobos não.
Kotrschal
diz que “o ladrar canino também fez parte do desenvolvimento da relação havida
entre cães e homens”, já que os cães não gemem tanto como os lobos, surgindo o
ladrar como uma adaptação à vida com os humanos, já que os últimos melhor
interpretam o ladrar do que o uivar. Como curiosidade adianta-se que nos
últimos 35.000, quase todos os grupos humanos viveram acompanhados pelos cães, excepção
feita aos aborígenes na Austrália, que chegaram aquele longínquo continente há
40.000 atrás sem cães. Só há 3.000 atrás, os cães povoaram o continente em
forma de dingos, possivelmente introduzidos por contactos comerciais com o
sudoeste asiático.
PS: o texto que serviu de
base a este artigo foi “WIE WURDE DER WOLF ZUM HUND?“, da autoria de KAI
STOPPELL, datado de 25/12/2018 e publicado pelo n-tv, canal aberto de notícias
em alemão.
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