Todas as palavras são
estéreis quando imperceptíveis, desvinculadas da experiência, descontextualizadas
e destituídas de conteúdo, ainda mais quando endereçadas aos cães. Assim são
também as que transformamos em comandos verbais como parte de um código binomial
a instalar, quando não estão relacionadas com a experiência directa dos animais
e desconsideram tanto as emoções quanto os sentimentos que tornam possível a
sua rápida absorção e cumprimento. Como já todos sabemos, as delongas e o cumprimento
parcial das ordens verbais resultam maioritariamente de um débil
condicionamento, de uma mensagem precária ou do terror causado pelas
experiências negativas (medo do castigo).
Dito isto, chegamos à
conclusão que a eficácia dos comandos verbais depende mais do modo como são
ditos e muito pouco ou quase nada das palavras que utilizamos, muito embora todo
e qualquer comando trissilábico deva ser evitado para que o cumprimento da
ordem não sofra atrasos. E se porventura precisarmos de um comando de desaceleração,
ao invés de lhe atribuirmos uma palavra com mais sílabas, devemos baixar o
volume da voz e prolongar a sílaba tónica da palavra, exactamente como fazemos
com o comando alemão “langsam”
(devagar).
Para maximizar a eficácia
dos comandos verbais e até substituí-los se necessário (somente nos casos em
que importa garantir o sucesso operacional ou a segurança do cão, do líder ou do
binómio), importa que os comandos sejam ordenados e acompanhados pela postura
própria, pelo tom de voz adequado e pela sinalética empregue (gesto). Face ao
que acabámos de dizer, continuamos a achar curiosa a prática de certos
adestradores que, desconhecendo determinado idioma, extraem dele palavras para
dar ordens aos cães, como se isso só por si evitasse o controlo dos animais por
terceiros, apesar de sabermos que alguns fazem-no para concorrerem a provas
internacionais ou diante de juízes estrangeiros.
Todos conhecemos a canção
infantil que começa assim: “Todos os patinhos sabem bem nadar…”. Caso a melodia
encontre palavras com a mesma métrica, a letra poderá ser substituída
facilmente e até transmitir uma mensagem inversa, exemplo: “Os meus burrinhos
só sabem zurrar!”. Graças a isto, há por alguns cantores portugueses que fizeram
grande sucesso a cantar versões de músicas estrangeiras. O que importa guardar
é que mais vale a musicalidade da palavra do que ela mesma, que os comandos
verbais deverão ser maximizados pela postura, tom de voz e sinalética.
Terminamos
desejando aos nossos leitores e amigos um Feliz Ano Novo, pleno daquela
esperança que não teme as adversidades e que sempre acaba por vencê-las. Feliz
2019!
PS: Tudo o que dissemos de
pouco vale se desprezarmos a recompensa.
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