segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

COMO MAXIMIZAR A EFICÁCIA DOS COMANDOS VERBAIS

Todas as palavras são estéreis quando imperceptíveis, desvinculadas da experiência, descontextualizadas e destituídas de conteúdo, ainda mais quando endereçadas aos cães. Assim são também as que transformamos em comandos verbais como parte de um código binomial a instalar, quando não estão relacionadas com a experiência directa dos animais e desconsideram tanto as emoções quanto os sentimentos que tornam possível a sua rápida absorção e cumprimento. Como já todos sabemos, as delongas e o cumprimento parcial das ordens verbais resultam maioritariamente de um débil condicionamento, de uma mensagem precária ou do terror causado pelas experiências negativas (medo do castigo).
Dito isto, chegamos à conclusão que a eficácia dos comandos verbais depende mais do modo como são ditos e muito pouco ou quase nada das palavras que utilizamos, muito embora todo e qualquer comando trissilábico deva ser evitado para que o cumprimento da ordem não sofra atrasos. E se porventura precisarmos de um comando de desaceleração, ao invés de lhe atribuirmos uma palavra com mais sílabas, devemos baixar o volume da voz e prolongar a sílaba tónica da palavra, exactamente como fazemos com o comando alemão “langsam” (devagar).
Para maximizar a eficácia dos comandos verbais e até substituí-los se necessário (somente nos casos em que importa garantir o sucesso operacional ou a segurança do cão, do líder ou do binómio), importa que os comandos sejam ordenados e acompanhados pela postura própria, pelo tom de voz adequado e pela sinalética empregue (gesto). Face ao que acabámos de dizer, continuamos a achar curiosa a prática de certos adestradores que, desconhecendo determinado idioma, extraem dele palavras para dar ordens aos cães, como se isso só por si evitasse o controlo dos animais por terceiros, apesar de sabermos que alguns fazem-no para concorrerem a provas internacionais ou diante de juízes estrangeiros.
Todos conhecemos a canção infantil que começa assim: “Todos os patinhos sabem bem nadar…”. Caso a melodia encontre palavras com a mesma métrica, a letra poderá ser substituída facilmente e até transmitir uma mensagem inversa, exemplo: “Os meus burrinhos só sabem zurrar!”. Graças a isto, há por alguns cantores portugueses que fizeram grande sucesso a cantar versões de músicas estrangeiras. O que importa guardar é que mais vale a musicalidade da palavra do que ela mesma, que os comandos verbais deverão ser maximizados pela postura, tom de voz e sinalética.
Terminamos desejando aos nossos leitores e amigos um Feliz Ano Novo, pleno daquela esperança que não teme as adversidades e que sempre acaba por vencê-las. Feliz 2019!
PS: Tudo o que dissemos de pouco vale se desprezarmos a recompensa.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

MEIA DÚZIA DE SALTOS E “QUIETO” COM FARTURA

A ênfase do trabalho de hoje recaiu sobre o comando de imobilização “quieto”, mas o aquecimento foi executado com saltos consecutivos sobre humanos. Na foto acima vemos o binómio Carla/Prada a fazê-lo e na seguinte o binómio Paulo/Bohr.
O binómio Svetlana/Zeus, ainda com algumas dificuldades na marcação dos saltos, executou o aquecimento com alegria e naturalidade. Quem tem acompanhado o crescimento do Doberman é unânime: o bicho está grande!
Apostados em alcançar o “quieto” incondicional, começámos por desafiar os cães a correr atrás de uma bola, manobra de distracção que todos ignoraram, um pela chamada de atenção da condutora e os outros dois por acção deste comando de imobilização e travamento.
Depois pedimos ao menino Lourenço Leitão que provocasse e ameaçasse os cães com um pingalim. Nenhum cão se intimidou ou respondeu agressivamente, o que muito satisfez o Adestrador, normalmente ávido de vitórias e resultados palpáveis.
Ainda pouco convencidos da assimilação do comando, mandámos o mesmo menino gatinhar entre os cães, provocando-os com comandos indutores de segurança. Também nenhum cão reagiu á provocação e todos permaneceram no seu lugar, 12 metros distantes dos donos.
Como todos os cães em classe eram machos, optámos por desafiá-los a seguir uma fêmea muito brincalhona do seu agrado. Todos ficaram imóveis enquanto a garbosa cadela, a Bull Terrier Maggie, pavoneava a cauda na frente dos seus focinhos.
Depois optou-se pelo “jogo da imobilização à linha”, onde o CPA Bohr se destacou debaixo das ordens do adestrador. Todos os condutores conseguiram imobilizar os seus cães próximo da linha pretendida. Este exercício irá ser recapitulado quantas vezes for necessário, para que todos os condutores consigam travar os seus cães num ponto previamente indicado.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Carla/Prada; Paulo/Bohr e Svetlana/Zeus. O fotógrafo-de-dia foi o Zé António, a Svetlana foi a condutora, a Andreia tomou conta das pequenas Doberman e o Lourenço Leitão, para além de chamar a CPA Prada, não hesitou em fazer de obstáculo e desafiar os cães. E mais não fizemos nesta agradável manhã, mais próxima da Primavera do que do Inverno (16º celsius).

AS VACAS DO PANTANAL E OS CÃES NO QUINTAL

Nas minhas andanças por terras brasileiras, lá para as bandas do Estado do Mato Grosso do Sul, graças a um episódio rocambolesco que meteu pangarés e um pingente irrascível, conheci um fazendeiro e pecuarista tão rico que seria impossível haver outro igual aqui, sendo inclusive primeiro produtor mundial de uma gramínea em particular. Meão de altura, de tez escura, olhos pequenos e sorriso aberto, mais largo de barriga do que de ombros, a reluzir em ouro, com chapéu à cowboy e com a mocidade a fugir-lhe, o homem era temido pelos seus jagunços, que apresentava oficialmente como funcionários ou capatazes, indivíduos na sua maioria esgalgados, andrajosos, pouco limpos, nada parecidos uns com os outros, de rosto inexpressivo e desdentados, tropa sempre pronta para o que desse e viesse, que os empregados das fazendas não queriam ver nem por perto e os caciques muito menos, especialmente quando o cupim invadia as terras do homem e precisava de outras.
Certo dia, por deferência, convidou-me para almoçar em sua casa. Como a sua esposa tinha ido à cidade fazer compras, exceptuando os empregados que nos serviam, éramos os únicos naquela grande, bem recheada e majestosa sala, que suspeitei não ter sido decorada ao gosto dos seus proprietários. Depois de comermos um conjunto de iguarias que ainda hoje guardo na memória e após acender um charuto, o homem mandou um empregado abrir uma porta, dizendo-me “Agora vou apresentar-lhe as minhas meninas!” Para grande espanto meu, as “meninas” eram vacas, muitas vacas de raça europeia própria para o abate e que em adultas chegam a ultrapassar a tonelada, todas impecavelmente limpas naquele prado e adornadas com coleiras e chocalhos ao gosto suíço. Surpreendido, perguntei-lhe para que as queria. Com um sorriso nos lábios e sem hesitar, respondeu-me que não as queria para outra coisa a não ser para as ver, porque ao vê-las sentia uma enorme felicidade e que eram o seu melhor cartão-de-visita, o que para mim não fez qualquer sentido.
Volvidos 30 anos, voltei a lembrar-me deste episódio ao associá-lo aos inúmeros cães jogados nos quintais que vejo por aqui, animais arredados da interacção com o donos, abusivamente confinados, dispensados de qualquer tipo de ensino, rodeados de brinquedos danificados, cercados de ossos e dejectos, de mantos descuidados e unhas por gastar, entregues ao modo de vida silvestre, afastados dos bons ofícios dos veterinários, normalmente atribulados pelo stresse ou condicionados pela letargia, parcos de curiosidade e isentos de qualquer préstimo, a não ser o de estarem por perto e serem vistos, apesar de correrem o risco de virem a ser envenenados, cães gordos e reluzentes tal qual vacas, que também são tratados por “meninos” e “meninas”, pese embora a sua má sorte, genuínos cartões-de-visita de quem pouco se importa com eles e que apenas lhe dá gozo tê-los, amigos esquecidos e encarcerados dentro de quintais, que serão tanto ou mais valiosos quanto menos aborrecerem os seus donos, gente que se diz sensível e gostar de animais.
Diante desta arbitrária política de encarceramento, que é um verdadeiro atentado aos direitos dos animais, quando inadvertidamente uma porta se abre, sempre surge um disparate: ou o cão sai magoado ou acaba por magoar alguém, porque ignora o que espera na rua e desconfia das intenções ou presença de qualquer desconhecido. Estes cães de quintal são de sobremaneira afectados dos pontos de vista físico, psicológico, cognitivo e social. Fisicamente não se desenvolvem como seria expectável por ausência de novidade e desafios, porquanto estão sujeitos a uma experiência repetitiva e pobre, a mesma que irá atentar contra o seu desenvolvimento cognitivo. Do ponto de vista psicológico sempre espelharão medos ou aversões resultantes do reforço da sua carga instintiva, porque foram entregues a si próprios e obrigados a desenrascar-se. E se o panorama até aqui não é famoso, do ponto de vista social ainda é pior, porque o isolamento dificultará de sobremaneira a sua sociabilização graças à desconfiança, seja ela entre iguais ou com outros animais, dificultando de igual modo a parceria e cumplicidade com os humanos.
Animais alojados nestas condições são cães que gostariam de ser lobos ou lobos que desejariam ser cães. Mas como nem uma coisa nem outra sucedem automaticamente, estamos perante um gigantesco retrocesso na domesticação que iniciámos há milhares de anos e diante de um acto deveras cruel sobre quem veio para nos ajudar e acompanhar – o cão! Que bom seria para os cães, que todos pudessem passear uma hora diariamente. Estaremos a pedir demasiado? Eu acho que não!

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos ficou assim ordenado:
1º _ OS FALSOS PASTORES ALEMÃES, editado em 24/02/2015  
2º _ HÍBRIDO DE CHOW-CHOW/PASTOR ALEMÃO: MÁQUINA OU DESASTRE?, editado em 12/05/2016
3º _ GINÁSTICA, SOCIABILIZAÇÃO E EVOLUÇÃO POR ESQUADRAS, editado em 22/12/2018
4º _ O ÚLTIMO TREINO ANTES DO DIA DE NATAL, editado em 24/12/2018
5º _ PORQUE TANTO INSISTIMOS NOS OBSTÁCULOS?, editado em 24/12/2018
6º _ PASTORES ALEMÃES LOBEIROS: O QUE OS TORNA ESPECIAIS, editado em 02/11/2015
7º _ CANE CORSO: O CÃO QUE NÃO BRINCA EM SERVIÇO, editado em 30/01/2017
8º _ CONVERSAS SOBRE PASTORES ALEMÃES À MESA DO CAFÉ, editado em 09/08/2014
9º _ COMO O LOBO SE TORNOU CÃO SEGUNDO KARL KOTRSCHAL, editado em 26/12/2018
10º _ OUTRO E TARDE DEMAIS!, editado em 24/12/2018

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país obedeceu à seguinte ordem:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º Alemanha, 5º Reino Unido, 6º Moçambique, 7º França, 8º Rússia, 9º Região Desconhecida e 10º Angola.

JANELA, PARA TRÁS E APC

Realizámos ontem à tarde uma curta sessão de treino, aproveitando a presença dos dois binómios mais adiantados. Como iniciámos os trabalhos a meio da tarde e os dias são agora mais pequenos, limitámos os conteúdos de ensino a 3 exercícios, à intrusão numa janela elevada a 140cm (na foto acima), ao ensino do “para trás” (recuar) e à iniciação do APC, conjunto binomial de várias figuras dinâmicas. Na foto seguinte podemos ver a Svetlana a ensinar o “para trás” ao Zeus, valendo-se na circunstância de um muro como subsídio de ensino.
Apesar do andamento ser antinatural quando continuado, nem o Zeus nem o CPA Bohr experimentaram grandes dificuldades ou ofereceram grande resistência. Ao invés, demonstrarem grande disponibilidade e à vontade na aquisição deste andamento.
Depois foi a vez da iniciação ao APC, que começámos de trás para a frente, ao pedirmos aos cães que saltassem por cima dos seus condutores (C), exercício iniciado à trela e depois feito em liberdade. Na foto seguinte podemos ver o adestrador a ajudar o binómio Paulo/Bohr.
Especialmente agradado pelo exercício, o Doberman Zeus acabou por executá-lo em liberdade depois de meia-dúzia de passagens à trela. No entanto, carece de aprender que as costas da sua dona não são nenhum poleiro.
Curiosos com tudo o que se passava, estiveram o João Mendonça e uma das pequenas Doberman vinda hoje da Rússia. A tarde esteve maravilhosa e o aproveitamento da reduzida classe foi excelente.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

JÁ CÁ ESTÃO!

Chegaram hoje, vindas da longínqua Rússia e depois de alguns dias de viagem, duas Doberman pretas com 2 meses de idade para a Família Mendonça. Estas cachorras, produto do canil “Pride of Russia”, encontram-se bem e estão a adaptar-se com facilidade ao seu novo lar nestas terras do sul. Apresentam-se bem conformadas e com invejáveis aprumos para a idade que têm. Doravante passarão a ser companheiras do Zeus, o Doberman castanho da casa que tudo faz para não as assustar ou magoar. Desejamos as maiores felicidades para donos e cães, convencidos que as cachorras ainda irão dar muito que falar.

UM NATAL PARA NÃO ESQUECER!

Ontem, após uma hora de busca, as equipas de resgate de montanha conseguiram resgatar um garoto de 12 anos levado por uma avalanche de 400 metros nos Alpes franceses, junto à Estação de Ski de La Plagne, segundo anunciou a Gendarmerie ao jornal La Dauphine.
O garoto foi encontrado por um cão de salvamento, consciente e depois de 15 minutos soterrado debaixo da neve, que felizmente formou uma bolsa de ar. O rapaz, que pertencia a um grupo de sete atletas de inverno, encontrava-se sem equipamento especial para ski e sem qualquer transceptor de avalanche (LSV).
O Ministro do Interior francês, Christophe Castaner, agradeceu o contributo daquele binómio pró resgate daquele garoto, binómio do qual se sabe pouco, apenas que o cão se chama Gétro. Este membro do governo gaulês escreveu acerca do sucedido no Twitter: “Bravo para estes heróis do dia”. Afinal, ainda acontecem milagres no Natal!

A MESMA BRIGITTE DE SEMPRE: SEM PAPAS NA LÍNGUA!

Numa carta aberta endereçada anteontem ao Presidente Emmanuel Macron, Presidente ultimamente muito contestado pelos franceses, a ex-actriz Brigitte Bardot, agora com 84 anos de idade, pede-lhe um milagre de Natal na defesa dos animais, acusando o mais alto dignitário francês de ter transformado a França num centro de lazer para extermínio de animais, ao fidelizar-se aos caçadores na procura de votos, indivíduos que a ex-actriz considera vulgares e cruéis. Por detrás de tudo isto está a alteração das leis da caça acontecidas em Agosto último, ocasião em que Macron expressou o seu apoio à actividade cinegética e que resultou na redução para metade dos custos da licença nacional de caça, que passou assim de 400 para 200 euros anuais.
Diante destes factos, Brigitte Bardot acusa Macron de se ter ajoelhado diante dos caçadores. A octogenária reclama também como indispensável a videovigilância nos matadouros: “locais de terror onde 3 milhões de animais são sacrificados todos os dias em França, em condições de barbaridade indignas e aterrorizantes”. Apesar de ser muito mais fácil reverter as medidas relativas à caça do que fazer retornar Brigitte Bardot à sua mocidade, tudo leva a crer que não será ainda neste Natal que o seu “milagre” acontecerá.  

ONTEM TIVEMOS DUAS VISITAS DO KOSOVO

Ontem tivemos as nossas primeiras duas visitas do Kosovo, país dos Balcãs, outrora pertencente à República Federal da Jugoslávia, maioritariamente muçulmano, apesar do cristianismo ser ali mais antigo que o islão, reconhecido somente por 111 países dos 193 com assento nas Nações Unidas, que enfrentou uma guerra sangrenta de características étnicas entre 05/03/98 e 11/06/1999 e que obrigou à intervenção da NATO. Felizmente o Kosovo vive agora momentos de paz e a emblemática Ponte de Mostar, que remonta ao Séc. XVI e que foi destruída em Novembro de 1993, vindo a ser reconstruída e reaberta em Julho de 2004, ergue-se imponente sobre o Rio Neretva como símbolo da unidade e independência kosovares.
Quanto aos dois visitantes kosovares, estendemos-lhes o nosso mais sincero bem-vindo e esperamos que os nossos artigos continuem a merecer o seu interesse para que continuem a visitar-nos, desejando-lhes em simultâneo prosperidade e paz, votos que entendemos também ao seu pequeno país montanhoso que contrasta com a sua grande riqueza histórica.
PS: Portugal, que teve ali militares no terreno entre 1991 e 2012, já reconheceu o Kosovo como país independente.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

DOS NARCÓTICOS PARA A PATRULHA

O mal alheio não traz riqueza a ninguém, a não ser para quem vive dele. Mas, quem espera justiça, sempre se alegra quando ela acontece. Carl Ellis, um polícia, pertencente à equipa de narcóticos do Departamento de Polícia de Jackson, no Mississippi/USA, foi recentemente arredado do cargo e relegado para o serviço de patrulha porque, sem dar cavaco a ninguém e usando de alguma maldade, recambiou o seu parceiro canino aposentado, um Labrador amarelo chamado Ringo, com 9 anos de idade que lhe foi confiado, para um abrigo dedicado ao realojamento canino. Para sorte do cão, Randy Hare, o homem que o havia treinado para a polícia, reconheceu-o e acabou por resgatá-lo. Quem não se agradou do sucedido foi o Chefe do Departamento Policial, James E. Davis, que ao ter conhecimento do ocorrido, despromoveu imediatamente Carl Ellis, remetendo-o para o serviço de patrulha, proibindo-o ainda de prestar quaisquer declarações aos media locais. Entretanto, decorre um inquérito para averiguar a situação por parte dos Assuntos internos daquele corpo policial.

COMO O LOBO SE TORNOU CÃO SEGUNDO KARL KOTRSCHAL

Para que não se julgue estarmos a difundir o parecer de algum “encantador de cães” ou de um erudito “do espírito santo de orelha”, vamos primeiro divulgar quem é Kurt Kotrschal, um biólogo austríaco, cientista comportamental e autor de vasta obra, nascido a 05 de Maio de 1953. Actualmente professor na Universidade de Viena, Kotrschal estudou biologia em Salzburgo, completando os seus estudos em 1979, recebendo dois anos depois o doutoramento e a sua habilitação em 1987. De 1981 a 1989, foi professor assistente na Universidade de Salzburgo e de 1989 a 1990 foi assistente na Universidade de Colorado, Denver/USA. Kotrschal tem uma cátedra da Universidade de Viena, na Faculdade de Ciências da Vida, no Departamento de Biologia comportamental, onde lida com os aspectos hormonais e cognitivos da organização social, assim como pesquisa a relação humano-animal, especialmente a relação entre o homem e o cão. Desde Julho de 1990, encontra-se à frente da Estação de Pesquiza Konrad Lorenz sediada em Grünau, onde foi também co-fundador do Lobo Science Center. Muito mais haveria a dizer sobre Kurt Kotrschal, mas julgo ser bastante o que já dissemos sobre este pesquisador, que foi eleito o cientista austríaco de 2010.
Segundo este reconhecido cientista, no período do neolítico, há cerca de 30.000 atrás, no meio de mutos predadores que espreitavam nas estepes da Europa e na Ásia, os nossos antepassados acabariam por escolher o lobo como companheiro de caçadas, escolha que se ficou a dever à semelhança social entre os seres humanos e os lobos, que em pequenos grupos praticavam a caça em comum, cooperando uns com os outros, como foi o caso da caça aos Mamutes, não sendo por isso de estranhar que os primeiros cães tenham aparecido em paralelo com o surgimento da cultura dos caçadores de mamutes na Europa e na Ásia. Mesmo com a melhoria tecnológica das armas da época, não era trivial para o s homens matar um mamute, porquanto este grande animal precisava primeiro de ser encurralado (cercado), tarefas que os primeiros cães-lobos assumiam e executavam na perfeição.
Para além dos benefícios relativos à caça, a proximidade dos lobos cada vez mais domesticados oferecia outra grande vantagem: a das pessoas não poderem ser tão facilmente atacadas à noite, já que o lobo manso emitia avisos da presença de algo suspeito para ele, podendo alertar atempadamente os humanos para a presença de ursos e de outros animais selvagens, serviço que poderá tê-lo tornado indispensável. Ainda que possa ter sido o lobo a dar o primeiro passo na futura amizade homem-cão, por ser bastante curioso, os homens apenas seleccionaram os que não atacavam as suas crianças, acabando por dizimar os restantes. Por outro lado, os nossos antepassados bem depressa se aperceberam que, se queriam os seus filhos vivos, manter a cooperação com os lobos e continuar a merecer a sua confiança, teriam também que criar as suas crias, prática que só se generalizou com a sedentarização humana, com o cultivo dos cereais e a produção pecuária.    
Esta selecção operada pelo homem no cão-lobo, ao fim de algumas gerações, tornou-o mais manso e utilizável, tornando-se próprio para guardar gado, casas e outros bens. Para além destes aspectos, esta selecção trouxe consigo as características que distinguem os cães do lobos: focinhos mais curtos, dentes menores, orelhas de abano e mantos malhados. Com o surgimento das colheitas, gradualmente os cereais começaram a entrar na alimentação daqueles cães, novidade que se mantém até à presente data, já que os cães podem digerir o amido e os lobos não.
Kotrschal diz que “o ladrar canino também fez parte do desenvolvimento da relação havida entre cães e homens”, já que os cães não gemem tanto como os lobos, surgindo o ladrar como uma adaptação à vida com os humanos, já que os últimos melhor interpretam o ladrar do que o uivar. Como curiosidade adianta-se que nos últimos 35.000, quase todos os grupos humanos viveram acompanhados pelos cães, excepção feita aos aborígenes na Austrália, que chegaram aquele longínquo continente há 40.000 atrás sem cães. Só há 3.000 atrás, os cães povoaram o continente em forma de dingos, possivelmente introduzidos por contactos comerciais com o sudoeste asiático.  
PS: o texto que serviu de base a este artigo foi “WIE WURDE DER WOLF ZUM HUND?“, da autoria de KAI STOPPELL, datado de 25/12/2018 e publicado pelo n-tv, canal aberto de notícias em alemão.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

O ÚLTIMO TREINO ANTES DO DIA DE NATAL

Realizámos o último treino antes do Dia de Natal no passado Sábado e optámos pela serra. A recapitulação dos exercícios propostos nos dias anteriores presidiu aos trabalhos e começámos pela passagem de arcos e pela transposição de uma vertical levantada a 130 cm, cujo remate coube ao Tomás Mendonça.
Todos os cães presentes conseguiram saltar um muro de 100 cm em liberdade. Na foto abaixo podemos ver o CPA Capo a executar essa transição em liberdade, obra do João Pedro que dedicadamente o conduziu.
O Doberman Zeus também não sentiu dificuldades ao saltar aquela vertical, nem tão pouco em fazê-la por entre as pernas do Tomás. Problemas teve o rapaz com as múltiplas marradas que o Doberman lhe deu em parte dolorosa.
Ainda que há partida ninguém julgasse possível, a foto seguinte está a testemunhá-lo, o Paulo Motrena, pouco a pouco e não tão rápido como seria desejável, lá vai conseguindo conduzir em liberdade o CPA Bohr, um excelente e esforçado atleta.
Como de costume, o Tomás Mendonça teve que “dar corda aos sapatos” e servir de cobaia nas perseguições (a continuar assim, ainda vai correr os 100 metros no campeonato nacional). Na foto abaixo podemos vê-lo a fugir em alta velocidade à frente do Zeus, Doberman que tem por ele uma predilecção muito especial: se pudesse, fazia-o em dois!
A animosidade do cão contra o moço é tal, que até intenta subir redes atrás dele ou apanhar boleia num dos seus sapatos. Felizmente que não conseguiu e Tomás escapou por uma unha negra.
Muito mais à justa foi a fuga que encetou à frente do CPA Bohr, animal extremamente veloz que chega a atingir 50 km/h de velocidade instantânea em pequenos percursos. Na foto abaixo vemos o aperto em que o Tomás se viu envolvido e o derrote felizmente falhado do cão.
Também o CPA negro Capo fez menção de agarrar o moço, apesar de desacompanhado e pouco motivado por quem o conduzia naquele momento. Caso aquela perseguição tivesse lugar na casa onde o cão se encontra alojado tudo seria diferente.
O João Pedro Leitão, que de bom grado aceitou o nosso convite para vir ao treino, merece nota de destaque, porque foi ele que levou o CPA Capo ao cumprimento das metas propostas, sem maiores dúvidas ou delongas (está-lhe a fazer muito bem ir ao ginásio).
Os cães mais aptos foram depois convidados a passar sobre um pequeno murete com 10 cm de lado, tarefa que venceram satisfatoriamente sem pôr as patas fora dele. Na foto seguinte podemos ver o CPA Bohr a marchar confiante e solto sobre o murete.
Apesar da sua condutora duvidar da capacidade do Zeus, o Doberman surpreendeu-a e fez aquele murete de modo confiante e irrepreensível. O que a Svetlana não sabia e acabou por ficar a saber, é que os cães são tão bons quanto bons forem os seus donos, lição que tão depressa não esquecerá.
No final dos trabalhos incentivámos mais uma vez o CPA Capo a alcançar o Tomás, que apanhado de surpresa, não esperava ver o Pastor Alemão tão perto de si.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Carla/Capo; João Pedro/Capo; Paulo/Bohr e Svetlana/Zeus. O Tomás foi a Cobaia, o Afonso não foi convocado e assistiu da bancada, o Pedro andou pelo mato e teve esporadicamente a companhia do Lourenço leitão. O condutor de dia foi o suspeito do costume, que acabou por dar o almoço a quem tão galhardamente se esforçou – a todos!