domingo, 27 de agosto de 2017

SIMPLES TRUQUES OU ALTERAÇÃO DE CARÁCTER?

Quando hoje se pergunta a alguém se o seu cão se encontra treinado, é comum obter-se como resposta: “ Sim, alguns truques fui eu que lhe ensinei e outros aprendeu numa escola” e “Sim, ele faz «give me five», senta, deita, rebola e com um auxílio de um biscoito consegue andar somente apoiado nas patas de trás!”. Resumir-se-á o adestramento a uns tantos truques? Ao olhar para o trabalho que alguns profissionais desenvolvem com os seus cães juraríamos que sim mas sabemos que não!
Conseguirá algum método de ensino subsistir tendo como base unicamente um conjunto de truques? Os ditos truques conseguirão adestrar convenientemente um cão? Serão os seus resultados perpétuos? Às três interrogações respondemos com um peremptório não, considerando primeiro a salvaguarda dos cães e depois as alterações de carácter necessárias à sua inserção harmoniosa no lar e na sociedade. Pelo contrário, sabemos que os truques prestam-se de sobremaneira para enganar os binómios e quem os aprecia, coisa que não é de hoje já que sempre se ouviu que “com papas e bolos se enganam os tolos”.
Como não faltam por aí cães com uma forte personalidade e mau carácter (há quem diga que homens também não), ao adestramento digno desse nome cabe adequar o carácter dos animais para que venham a ser companheiros melhor adaptados e mais úteis, pelo aproveitamento da plasticidade presente nos seus ciclos infantis e pelo concurso da experiência variada e rica, dotando-os assim de um comportamento que por si mesmos não atingiriam, por vezes aparentemente contrário à sua propensão genética, quando comparados com outros iguais e dispensados de idêntico cuidado.
Ao contrário do que acontece com a personalidade (individualidade) canina, que ao invés do carácter não é boa nem má, mas sim forte ou fraca, o carácter da maioria dos cães carece de ser melhorado e a sua capacidade de aprendizagem aumentada, visando a sua salvaguarda e possível uso. Se entendermos o carácter como uma componente de grande importância na personalidade de um cão como um todo, então podemos dizer que a sua personalidade é também alterável em grande parte pelo enriquecimento do seu carácter, alteração que não se pode alhear da dependência canina, da idade da cópia que todos os cães atravessam, do seu quadro experimental, do condicionamento havido e dos méritos de quem o educa.
Um cão quando devidamente adestrado terá sempre duas filiações graças à sua natureza social: uma biológica e outra pedagógica, podendo facilmente substituir os seus rituais naturais por outros atempadamente absorvidos, compreendidos, experimentados e necessariamente aprovados. Esta transformação que não acontece por artes mágicas e que dificilmente será efectuada por um “encantador”, resulta do conhecimento dos animais, da individualidade de cada um, da comunhão de vida e do tempo dispensado ao seu estudo e apetrechamento.
 
Não é nenhum crime ensinar um cão a andar de trotineta, mas melhor será ensiná-lo a atravessar uma estrada. Varremos os animais selvagens do circo, quando expulsaremos os cães de lá? Basta de enganar os cães!

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