quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O QUE MAIS EXALTA UMA LINHA DE CRIAÇÃO: OS CÃES OU AS CADELAS?

Tenho reparado aqui e noutras partes do mundo por onde tenho andado, quando observo os reprodutores usados pela maioria dos canicultores, e aqui não há distinção entre os amadores e os profissionais, que muitos deles possuem excelentes machos e fêmeas a rasar o desprezível, descuido que a breve trecho condenará a sua linha de criação pela lástima dos seus produtos. E quando digo “fêmeas a rasar o desprezível”, digo-o dos pontos de vista físico, psicológico e cognitivo, que uma vez usadas como matriarcas geram cachorros débeis (carentes de robustez e envergadura), irritadiços ou medrosos, por demais dependentes, com baixa capacidade de aprendizagem e incapazes de ultrapassar as adversidades que irão ter pela frente.
Quer se trate da morfologia, da psicologia ou da cognição dos cachorros, estes sempre ficarão a dever mais às mães que aos pais, considerando o papel primordial das primeiras no seu sustento, desenvolvimento, adaptação e ensino, o que torna a selecção, compra e aquisição das fêmeas num assunto muito sério e merecedor de toda a atenção, já que as primeiras interacções entre os cachorros e as mães parecem ser de efeito duradouro. Assim fizemos e temos aconselhado outros a fazê-lo, porque não nos envergonhamos de fazer o bem e quem nos dá ouvidos nunca se deu mal.
A corroborar o que acabámos de dizer, surgiu recentemente um estudo oriundo da Universidade do Arizona/US e publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”, que se debruçou sobre o papel das mães no sucesso e insucesso dos cães destinados a guiar invisuais (cães-guia). A principal autora deste estudo, Emily Bray, pesquisadora pós-doutorada do “Arizona Canine Cognition Center” da Universidade de Antropologia do Arizona, adiantou que as cinco semanas que os cachorros passam com as suas mães influem directamente sobre o seu sucesso dois anos mais tarde, que nesse período inicial das suas vidas necessitam de lidar com pequenos desafios e que se não o fizerem virão a penar mais tarde.
O estudo aconteceu nas instalações da associação “The Seeing Eye” que se dedica à formação de cães-guia e abrangeu 23 cadelas e os seus 98 cachorros durante as primeiras cinco semanas da sua vida. A análise dos dados obtidos revelou que havia diversidade de comportamentos nas mães, sendo umas mais atenciosas que outras. Ao observar-se dois anos mais tarde esses cães, verificou-se que os cachorros que tiveram mães mais atenciosas (mães-galinha) foram os menos propensos a formar-se como cães-guia, particularmente os que tiveram uma mãe que os amamentava invariavelmente deitada, ao invés de o fazer de pé ou sentada.
Robert Seyfarth, co-autor deste mesmo estudo e professor de psicologia na Universidade da Pensilvânia, acerta do pormenor acima citado (o das mães que invariavelmente amamentam deitadas) adiantou: “Se uma mãe está deitada sobre o seu estômago, os cachorros têm acesso gratuito ao leite, mas se ela estiver de pé terão que trabalhar para obtê-lo”, o que realça a importância das matriarcas na criação de pequenos desafios ao alcance dos cachorros, para que mais tarde possam desenvencilhar-se e ter sucesso na vida, aumentando assim as suas chances de sobrevivência pelo desenvolvimento cognitivo.
Este assunto só agora está a ser abordado e ainda há muito por descobrir e comprovar. Todavia, não se pode confundir uma cadela com uma coelha e uma boa cadela é aquela que começa a ensinar a sua prole bem cedo, dotando-a da curiosidade que melhor a servirá para a vida e conduzirá ao sucesso. Já havíamos abordado este assunto, ainda que noutra perspectiva no texto “A PARAQUEDISTA E A LOBEIRA”, editado em 13/12/2012.
Tendo em visto a utilidade da generalidade dos cães e não a dos cães-guia em particular, apraz-nos dizer: cadelas carentes de envergadura, disfuncionais, desaprumadas e medrosas, com fracos impulsos ao alimento, movimento, à defesa e à luta, ao poder e ao conhecimento - não, obrigado! 

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