segunda-feira, 7 de agosto de 2017

CASTELO DE VIDE, UMA VILA ALENTEJANA DIFERENTE

O que terão em comum o ilustre médico português Garcia de Orta (autor pioneiro da botânica, farmacologia, medicina tropical e antropologia), Mouzinho da Silveira (figura maior da Revolução Liberal, legislador e defensor acérrimo da Carta Constitucional) e Salgueiro Maia (militar e figura incontornável da Revolução do 25 de Abril)? Todos nasceram em Castelo de Vide e ali continuam a ser relembrados!
Castelo de Vide é uma Vila Alentejana pertencente ao Distrito de Portalegre, incaracterística quando comparada com outras por ser diferente nos seus hábitos costumes e gastronomia (ali até o porco cedeu lugar ao cabrito). Vila fortificada de origem medieval diz-se que foi considerada por D. Pedro V como a “Sintra do Alentejo”, cognome a que não deve ser estranha a sua proximidade com a Serra de S. Mamede, o seu clima ameno, vegetação luxuriante e múltiplos jardins. No périplo que encetámos ao redor da “Rota das Judiarias” decidimos ir até lá.
Vindos de Belmonte para Castelo de Vide não podemos deixar de compará-las, porque em ambas a presença de antigas comunidades judaicas é um facto histórico, ainda que a sua fixação tenha acontecido em momentos diferentes. Belmonte recebe melhor os turistas, tem mais informação para oferecer, encontra-se melhor organizada e tem funcionários turísticos mais solícitos. Em Castelo de Vide, pese embora o número de judeus que por lá viveu e que por ali passou, não tem ao momento qualquer livro disponível sobre a sua judiaria, descuido camarário que deverá ser reparado não se sabe quando.
Quanto às gentes, é inegável a presença de sangue hebreu na sua construção e morfologia, como é evidente a presença doutras etnias peninsulares na sua formação. Contrariamente aos judeus de Belmonte, os de Castelo de Vide mesclaram-se com a restante população, desconhecendo-se na maioria deles se são judeus conversos se cristãos inconfessos, porque não são uma coisa nem outra. Porém, os castelo-videnses não negam a sua herança judia e alguns deles são judeus cardíacos, plebe que se orgulha das suas origens e desconhece em absoluto qualquer letra de hebraico ou preceito da Torá.
A Rua da judiaria, onde se encontra a antiga sinagoga (por acaso bem sinalizada), tem vários prédios desabitados e em ruínas que não caíram ainda por força dos arcos góticos que os sustentam. A velha Sinagoga encontra-se limpa e bem conservada, é didáctica e ilustrativa do seu papel para a comunidade sefardita. E como nem sempre temos sorte, tivemos azar com a funcionária camarária que ali nos atendeu, mais apostada em não ser incomodada do que a dar as informações necessárias conforme a sua obrigação.
Visitámos ainda a Fonte da Vila instalada ao tempo no centro da judiaria, manancial de água fresca que refresca quem por lá passa no tórrido Verão e que é também símbolo da arquitectura medieval. A arquitectura de Castelo de Vide é diversificada e rica, com prédios idílicos que lembram de alguma forma os múltiplos palacetes que encontramos em Sintra e que exalam um ar romântico e ao mesmo tempo familiar. As calçadas nas zonas históricas e mais antigas da Vila são impróprias para senhoras de saltos altos, muito embora algumas delas tenham no seu centro uma estreita passadeira plana de lajes graníticas, o que se agradece e saúda.
Falta dar uma palavra final de agradecimento à Câmara e aos moradores da Vila, porque esta encontra-se exemplarmente limpa, bela e florida, sendo um verdadeiro oásis no meio do deserto de restolho e palha seca que a rodeia nesta altura do ano. Cães vimos por lá alguns e todos bem cuidados.

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