De acordo com um estudo
científico recente, tal como se julga ter acontecido há milhares de anos,
alguns lobos estão a entrar num novo processo de domesticação, começando a
transformar-se em cães por aproximação ao mundo humano e pela alteração dos
seus hábitos alimentares, procurando agora gado e sobras de comida ao invés das
suas presas selvagens. Esta alteração das dietas tem vindo a ser responsável
por alterações de comportamento, tornando-os cada vez mais próximos dos homens
e menos desconfiados. Oxalá não venha a acontecer um novo conflito entre homens
e animais com consequências trágicas para ambos.
Assim, no que concerne aos
lobos cinzentos, os alimentos humanos já somam 32% da sua dieta, os lobos da
Grécia consomem principalmente porcos, cabras e ovelhas, os de Espanha gado
equino (garranos preferencialmente) e outros animais, os do Irão comem
normalmente galinhas, cabras domésticas e lixo. Como já aconteceu com outros
carnívoros que comem alimentos próprios dos humanos, segundo Thomas Newsome,
biólogo evolucionista da Universidade Deakin, em Melbourne, Austrália, tudo
leva a crer que os lobos vão também alterar o seu comportamento, o que os torna
mais propensos a acasalar com cães e coiotes, como já está a acontecer com o
Dingo na Austrália. Se assim for, estaremos no alvor de uma nova espécie, tudo
por culpa da alteração das dietas que têm o poder não só de alterar o tamanho
dos grandes predadores mas também o seu comportamento.
A novidade não se fica
pelos lobos mas abrange também leões e raposas como acontece na Índia Ocidental
e em Israel. Os leões asiáticos da área protegida de Gir, na Índia, que matam e
comem maioritariamente gado, tornaram-se menos agressivos para as pessoas ao
crescerem, de tal modo que os turistas podem visitá-los a pé. As raposas
vermelhas que vivem em solo israelita, ao comerem o lixo em pequenos agregados
populacionais acabam por ter maior longevidade.
O presente estudo veio
comprovar duas coisas que há muito havíamos constatado, quando alimentámos
lobinhos no início do Grupo de Preservação do Lobo Ibérico e quando criávamos
cães para guarda: que o manjar faz a fera e o patrão da comida é o senhor do
animal. Perante isto, continuamos a aconselhar dietas próprias para os cães de
guarda e a insistir no treino da recusa de engodos. Deverão um cão de agility,
um de terapia e outro de guarda comer o mesmo? É óbvio que não, como é óbvio
não dar a um indivíduo avesso ao desporto uma dieta própria para um atleta.
Considerando o importante papel que a alimentação tem no desempenho canino, como
suspeitamos das rações (que grande lobby elas são!), nunca privamos os nossos
cães de uma refeição diária de comida fresca.
Retornando
aos lobos, a alteração das suas dietas pode ser um passo definitivo para a sua
anunciada extinção, pelo que importa restaurar os seus habitats naturais,
respeitar os seus territórios e não lhes desequilibrar os ecossistemas, porque
doutro modo podem desaparecer como espécie ou acabarem abatidos. Diante dos
factos científicos adiantados apetece-nos ironizar: agora que os lobos estão a
tornar-se cães, há cães que “querem” ser lobos! Quem será o responsável de tudo
isto? Porque matam os cães tanta gente? O responsável será o mesmo a quem
imputam as culpas do aquecimento global? Alguém anda a virar este mundo às
avessas!
PS:
A matéria científica divulgada neste artigo foi extraída do título “Are some
wolves being ‘redomesticated’ into dogs?”, editado em 05/03/2017, da autoria de
Virginia Morell, pela revista “Science (AAAS)”.
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