Estamos no final da
Primavera, será que a muda do pêlo afia os dentes aos cães? Parece que sim,
porque de um momento para o outro três crianças são agredidas à dentada: uma em
Leça do Balio, outra em Ílhavo e outra ainda em Arouca. Nas agressões caninas a
crianças, tanto aqui como lá fora, sempre se tenta culpabilizar os cães como se
fossem nossos pares e isentar de culpas os responsáveis pelas crianças pela sua
ingenuidade. Também o tratamento dado às notícias não é o melhor, porque mais
importa o sensacionalismo que a verdade, cujo apuramento cabe aos tribunais e
não a quem deita as notícias cá para fora.
Pelos anos que levo atrás dos cães,
não penso que os actuais sejam mais agressivos que os do passado, penso até que
os do presente são mais mansos e causam menos acidentes. Mas se os cães estão
melhores, por que razão há tantas crianças que são rasgadas à dentada? E o mais
curioso, se assim se puder dizer, é que na maioria dos casos elas são mordidas
por cães pertencentes à sua própria família e não pelos alheios. O que estará
em falta, andarão as crianças menos vigiadas? Nós pensamos que sim!
E se assim é, o que tem
feito “baixar a guarda” dos seus responsáveis? Para além de um maior descuido,
muitas vezes justificado pela idade e menor destreza física de quem toma conta
delas, sobressai em simultâneo um estatuto impróprio atribuído aos cães por
ser-lhes inalcançável e um grande desrespeito pela sua espécie, ambos
provenientes da ignorância e suportados por desejos idílicos, que tidos como
artigos de fé, são diariamente alimentados pelos media na já célebre e não
menos triste exploração das emoções. Também contribuem e nalguns casos de
sobremaneira, as dificuldades que alguns pais têm em educar os filhos, que
ensurdecendo-se para o que lhes é dito, acabam por correr riscos
desnecessários. Não está fácil educar crianças, será que alguma vez foi? E
depois, para agravar ainda mais a situação, nunca houve tanto cão a coabitar
debaixo do mesmo tecto com os donos como agora.
Esta coabitação
exponencial não foi acompanhada pelos cuidados necessários e os resultados estão
à vista. Se queremos evitar os ataques caninos capazes de causar grande dolo e
até a morte, tanto de crianças como de adultos, não nos sobra outra solução que
educar os donos, tarefa que o governo e as autarquias deveriam tornar
obrigatória a pensar no bem-estar geral, exigindo dos proprietários caninos uma
formação específica que melhor os habilitasse a compreender e a controlar os
seus cães, porque doutro modo o problema continuará por resolver e de nada
valerá o abate sistemático e inglório dos animais. Não são os cães que são
perigosos, são os donos!
Entendemos que essa
formação, condição essencial para o licenciamento dos donos (que é isso que
está em falta), deveria ser solicitada junto das companhias cinotécnicas
militares e das diversas polícias, porque se a endereçarmos a entidades
privadas, bem depressa se venderão licenciamentos ao domicílio sem a devida formação.
Retornando aos ataques
caninos por detrás deste artigo, não temos dúvidas em afirmar que todos aconteceram
por negligência dos donos, devendo ser estes penalizados e não os animais.
Todos os cães carecem de ser ensinados independentemente da sua raça, sexo ou
tamanho, de adquirir comportamentos que possibilitem a sua coabitação
harmoniosa na sociedade, alteração que cabe aos seus proprietários encetar e
que raramente observam. Até quando nos morderão os cães por negligência dos
donos? Mais cedo ou mais tarde, ontem já era tarde, a formação dos donos terá
que acontecer!
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