Se
fizéssemos esta mesma pergunta aos pais de há 50 anos atrás, a resposta seria
quase unânime: não! Se a fizermos aos pais actuais as opiniões dividem-se,
havendo quem diga que sim e quem diga que não, apesar de morrerem agora mais
crianças à boca dos cães do que nunca! Ainda antes de respondermos à questão,
vamos tentar explicar quais as principais razões por detrás de tantos ataques
caninos a crianças sendo grande número deles fatal:
1.
_ Nunca houve tantos cães a coabitar debaixo do mesmo tecto com os donos;
2.
_ Nesta coabitação os cães encontram-se invariavelmente soltos;
3.
_ Muitos dos cães urbanos alcançaram um estatuto de “filhos” e de “crianças”;
4.
_ Na maioria dos lares onde há crianças, os cães já lá haviam chegado primeiro;
5.
_ O aumento do número de cães familiares não foi acompanhado pelo conhecimento
necessário para tê-los;
6.
_ A apropriação da falsa filosofia que diz não haver cães maus e que a maldade
canina sempre é de origem ambiental.
7.
_ Autoridade deficitária ou circunstancial da maioria dos proprietários caninos
relativas aos seus cães.
8.
– Ausência de transmissão de regras que possibilitem a interacção entre
crianças e cães para se evitarem escusadas situações de conflito.
Nunca
houve tão grande número de cães a coabitarem debaixo do mesmo tecto com os
donos como agora, facto a que não é estranha a fuga das populações do interior
para o litoral e dos vilarejos para as grandes urbes, locais onde há trabalho, melhores
remunerações e por consequência melhores condições de vida (o campo desceu à
cidade e foi à procura dos cães que por lá deixou). Este enriquecimento súbito
das populações possibilitou-lhes a aquisição de toda a sorte de cães, mesmo
aqueles que não lhes convinham (mais cães, maior risco de acidente). Os cães
que outrora eram deixados à solta pelo campo, confinados nos currais ou presos em
correntes às portas das habitações, passaram a ter permissão para andarem em
liberdade dentro das casas dos seus donos, considerando-as também suas e reclamando
ali um espaço próprio (com os animais soltos os seu controlo torna-se mais
difícil).
Com
homens e mulheres a trabalhar e ambos interessados nas suas carreiras laborais,
o desejo de ter filhos tem passado para segundo plano, vindo os cães a preencher
o seu lugar, passando a ser entendidos como crianças e tratados como filhos,
promoção para eles inesperada mas da qual dificilmente abrirão mão porque não
gostam de ser despromovidos. O mais comum de acontecer nos lares que têm
crianças e cães é que os últimos tenham lá chegado primeiro, vendo os infantes
por vezes como intrusos, invasores do seu espaço e concorrentes pela atenção
dos seus donos (o cão também entende “que a velhice é um posto” e não abdica
gratuitamente dos direitos adquiridos). Diante destas verdades, aconselham-se
os futuros pais que são proprietários caninos a ensinarem ou mandarem ensinar
os seus cães antes da vinda dos filhos para que tudo corra sem novidade,
ninguém se magoe e todos se sintam felizes.
Apesar
dos cães serem um produto bastante vendável e rentável nas mais evoluídas
sociedades contemporâneas, o seu aumento nos lares não foi acompanhado pela
informação necessária em lado nenhum, sendo ao invés sobrecarregado com muita
desinformação, atendendo ao volume de negócios que eles representam (o segredo
é a alma do negócio), negócios donde também não podemos excluir os canicultores
“que vendem gato por lebre” e que empandeiram para os incautos qualquer cão de
luta como o mais doce dos anjinhos, muito embora os piores aldrabões sejam
encontrados entre os fabricantes de rações. De um momento para o outro e sem
razão plausível para isso, os cães passaram a ser mensageiros da paz e da felicidade
nos lares, isentos de qualquer maldade e emissários de um deus bondoso e longínquo
que nos bate à porta. E no meio desta ficção toda, a televisão e o cinema ajudam
à festa, porque vivem das audiências, sabem do que o povo gosta, exploram as suas
emoções e alimentam os seus sonhos despudoradamente.
As
mentiras sucedem-se umas às outras e ninguém se entende, por todo o lado sobram
evangelhos apócrifos sobre comportamento animal, elevam-se doutores de coisa
nenhuma e todos se armam em sapientes, tomando por verdades mentiras que
poderão comprometer a sua integridade, a dos seus familiares, a de terceiros e
a vida dos seus cães. Uma delas, que se expandiu como erva em Abril, diz que os
cães só são maus por causa do tratamento que lhes dão, já que são por natureza
bonzinhos, o que não corresponde em absoluto à verdade, porque os cães nascem
diferentes, continuam a ser predadores, tentam impor a sua vontade, procuram a
ascensão social e alguns até são geneticamente seleccionados para serem maus e
causarem grande dolo, quer sejam melhor ou pior tratados (há cães estuporados,
por via natural ou fabricados).
Com
os cães dentro de casa, tornados seus proprietários, com liberdade de movimentos,
constituídos em filhos e tidos como anjos, qualquer exercício de autoridade torna-se
escusável e gratuito perante tanta bondade e companheirismo, predicados que têm
levado muitos donos a considerar exclusivamente os direitos caninos em prejuízo
das suas obrigações, insanidade que normalmente põe os racionais ao serviço dos
irracionais por se isentarem da liderança, correndo invariavelmente atrás dos
prejuízos causados pelos animais. Nenhum cão pode viver sem regras e se não lhas
estipularem, porque é um animal social, será ele a estabelecê-las para os
demais e nem sempre da maneira mais conveniente!
Respondendo
à pergunta “PODEMOS DEIXAR À VONTADE
CÃES E CRIANÇAS JUNTOS?”, que subentende a ausência de supervisão de um
adulto na ocasião, tanto poderemos dizer sim como não - sim, se o cão houver
sido preparado e aprovado para lidar com crianças; não, caso não possua essa
qualificação, porque cães e crianças de tenra idade nunca foram uma boa
associação e raramente se associam sem a contribuição de um adulto, porque aos
primeiros importa refrear e aos últimos regrar.
De
qualquer modo, nunca é 100% seguro deixar um bebé sozinho com um cão, não só
por aquilo que o animal possa fazer-lhe mas também por aquilo a que não pode
valer-lhe. Porque tantas crianças são hoje atacadas e mortas pelos cães? Basicamente
por causa da incúria dos donos e usurpação da sua autoridade por parte dos
cães, que agem assim por ausência de reparo, preparo e regra, também porque
crianças e bebés nunca coabitaram em tão larga escala juntos. A quem caberá
estabelecer ao cão quais os seus limites? Parece-nos que a resposta é óbvia! Há cães que sem nenhum tipo de ensino são óptimos companheiros para as crianças? Há, são os excepcionais!
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