terça-feira, 18 de abril de 2017

PODEMOS DEIXAR À VONTADE CÃES E CRIANÇAS JUNTOS?

Se fizéssemos esta mesma pergunta aos pais de há 50 anos atrás, a resposta seria quase unânime: não! Se a fizermos aos pais actuais as opiniões dividem-se, havendo quem diga que sim e quem diga que não, apesar de morrerem agora mais crianças à boca dos cães do que nunca! Ainda antes de respondermos à questão, vamos tentar explicar quais as principais razões por detrás de tantos ataques caninos a crianças sendo grande número deles fatal:
1. _ Nunca houve tantos cães a coabitar debaixo do mesmo tecto com os donos;
2. _ Nesta coabitação os cães encontram-se invariavelmente soltos;
3. _ Muitos dos cães urbanos alcançaram um estatuto de “filhos” e de “crianças”;
4. _ Na maioria dos lares onde há crianças, os cães já lá haviam chegado primeiro;
5. _ O aumento do número de cães familiares não foi acompanhado pelo conhecimento necessário para tê-los;
6. _ A apropriação da falsa filosofia que diz não haver cães maus e que a maldade canina sempre é de origem ambiental.
7. _ Autoridade deficitária ou circunstancial da maioria dos proprietários caninos relativas aos seus cães.
8. – Ausência de transmissão de regras que possibilitem a interacção entre crianças e cães para se evitarem escusadas situações de conflito. 
Nunca houve tão grande número de cães a coabitarem debaixo do mesmo tecto com os donos como agora, facto a que não é estranha a fuga das populações do interior para o litoral e dos vilarejos para as grandes urbes, locais onde há trabalho, melhores remunerações e por consequência melhores condições de vida (o campo desceu à cidade e foi à procura dos cães que por lá deixou). Este enriquecimento súbito das populações possibilitou-lhes a aquisição de toda a sorte de cães, mesmo aqueles que não lhes convinham (mais cães, maior risco de acidente). Os cães que outrora eram deixados à solta pelo campo, confinados nos currais ou presos em correntes às portas das habitações, passaram a ter permissão para andarem em liberdade dentro das casas dos seus donos, considerando-as também suas e reclamando ali um espaço próprio (com os animais soltos os seu controlo torna-se mais difícil).
Com homens e mulheres a trabalhar e ambos interessados nas suas carreiras laborais, o desejo de ter filhos tem passado para segundo plano, vindo os cães a preencher o seu lugar, passando a ser entendidos como crianças e tratados como filhos, promoção para eles inesperada mas da qual dificilmente abrirão mão porque não gostam de ser despromovidos. O mais comum de acontecer nos lares que têm crianças e cães é que os últimos tenham lá chegado primeiro, vendo os infantes por vezes como intrusos, invasores do seu espaço e concorrentes pela atenção dos seus donos (o cão também entende “que a velhice é um posto” e não abdica gratuitamente dos direitos adquiridos). Diante destas verdades, aconselham-se os futuros pais que são proprietários caninos a ensinarem ou mandarem ensinar os seus cães antes da vinda dos filhos para que tudo corra sem novidade, ninguém se magoe e todos se sintam felizes.
Apesar dos cães serem um produto bastante vendável e rentável nas mais evoluídas sociedades contemporâneas, o seu aumento nos lares não foi acompanhado pela informação necessária em lado nenhum, sendo ao invés sobrecarregado com muita desinformação, atendendo ao volume de negócios que eles representam (o segredo é a alma do negócio), negócios donde também não podemos excluir os canicultores “que vendem gato por lebre” e que empandeiram para os incautos qualquer cão de luta como o mais doce dos anjinhos, muito embora os piores aldrabões sejam encontrados entre os fabricantes de rações. De um momento para o outro e sem razão plausível para isso, os cães passaram a ser mensageiros da paz e da felicidade nos lares, isentos de qualquer maldade e emissários de um deus bondoso e longínquo que nos bate à porta. E no meio desta ficção toda, a televisão e o cinema ajudam à festa, porque vivem das audiências, sabem do que o povo gosta, exploram as suas emoções e alimentam os seus sonhos despudoradamente.
As mentiras sucedem-se umas às outras e ninguém se entende, por todo o lado sobram evangelhos apócrifos sobre comportamento animal, elevam-se doutores de coisa nenhuma e todos se armam em sapientes, tomando por verdades mentiras que poderão comprometer a sua integridade, a dos seus familiares, a de terceiros e a vida dos seus cães. Uma delas, que se expandiu como erva em Abril, diz que os cães só são maus por causa do tratamento que lhes dão, já que são por natureza bonzinhos, o que não corresponde em absoluto à verdade, porque os cães nascem diferentes, continuam a ser predadores, tentam impor a sua vontade, procuram a ascensão social e alguns até são geneticamente seleccionados para serem maus e causarem grande dolo, quer sejam melhor ou pior tratados (há cães estuporados, por via natural ou fabricados).
Com os cães dentro de casa, tornados seus proprietários, com liberdade de movimentos, constituídos em filhos e tidos como anjos, qualquer exercício de autoridade torna-se escusável e gratuito perante tanta bondade e companheirismo, predicados que têm levado muitos donos a considerar exclusivamente os direitos caninos em prejuízo das suas obrigações, insanidade que normalmente põe os racionais ao serviço dos irracionais por se isentarem da liderança, correndo invariavelmente atrás dos prejuízos causados pelos animais. Nenhum cão pode viver sem regras e se não lhas estipularem, porque é um animal social, será ele a estabelecê-las para os demais e nem sempre da maneira mais conveniente!
Respondendo à pergunta “PODEMOS DEIXAR À VONTADE CÃES E CRIANÇAS JUNTOS?”, que subentende a ausência de supervisão de um adulto na ocasião, tanto poderemos dizer sim como não - sim, se o cão houver sido preparado e aprovado para lidar com crianças; não, caso não possua essa qualificação, porque cães e crianças de tenra idade nunca foram uma boa associação e raramente se associam sem a contribuição de um adulto, porque aos primeiros importa refrear e aos últimos regrar.
De qualquer modo, nunca é 100% seguro deixar um bebé sozinho com um cão, não só por aquilo que o animal possa fazer-lhe mas também por aquilo a que não pode valer-lhe. Porque tantas crianças são hoje atacadas e mortas pelos cães? Basicamente por causa da incúria dos donos e usurpação da sua autoridade por parte dos cães, que agem assim por ausência de reparo, preparo e regra, também porque crianças e bebés nunca coabitaram em tão larga escala juntos. A quem caberá estabelecer ao cão quais os seus limites? Parece-nos que a resposta é óbvia! Há cães que sem nenhum tipo de ensino são óptimos companheiros para as crianças? Há, são os excepcionais!

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