Por uma soturna viela duma
velha cidade medieval que nos é grata, apinhada de gente nos dois sentidos à da
luz da lua, uma senhora circulava com a sua pequena cadela à trela e aos
ziguezagues, com o animal na sua frente a bater os dois lados daquele estreito
caminho, progressão que incomodava a dona e que a fazia avançar como se tivesse
ultrapassado a taxa de alcoolemia permitida por lei, embaraçando também os
restantes transeuntes, que não sabiam para que lado haviam de se virar com medo
de pisarem o pobre animal. Perante o caricato da situação e por descargo de
consciência, aquela proprietária canina dizia em voz alta: “Niquita, quantas
vezes já te disse que quando vais à frente é a direito e não às curvas”, reparo
que a cadelita não ouviu e continuou na mesma, quiçá pela senhora não se ter
feito entender ou por ter pouca prática com a trela. Assistimos à cena
consternados e com pena do pequeno animal esganado.
O despreparo daquela
inocente senhora, sem dúvida uma pessoa sensível e bem-intencionada, reavivou-nos
a memória acerca de um procedimento a ter no exterior quando saímos com os
nossos cães à rua, que deverão evoluir invariavelmente debaixo de ordem e não a
seu belo prazer, considerando os riscos existentes, a possibilidade de desafios
dispensáveis, a protecção da sua salvaguarda e de terceiros, a ocorrência de
surpresas e a segurança dos seus condutores, que consoante as suas intenções e
particular dos trajectos deverão dar-lhes os comandos certos para que essa
excursão corra sem atropelos, direccionais e de imobilização segundo as
necessidades encontradas.
Não terão os cães direito
a ser quem são? Claro que sim! Eles necessitam e não dispensam de momentos de
evasão diários para o seu bem-estar, o que não significa que transformemos as
ruas por onde passamos com eles em pistas de corrida, num Carnaval canino ou
numa barafunda onde ninguém se entende, incomodando quem não tem que os aturar
ou causando dolo a alguém, cuidados que à partida poucos donos têm e que normalmente
dão azo a dispensáveis, acaloradas e menos decorosas discussões. É evidente que
no aconchego do lar, por terem já assimilado as suas rotinas, os cães não
necessitam de comandos. Os cães de serviço que trabalham isoladamente fazem-no
por condicionamento prévio e também debaixo de ordem, cumprimento que invariavelmente
dispensa a presença física dos donos.
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