Com o dia 1 de Novembro à
porta, dia em que aqui se celebra “o dia de todos os santos e mártires
católicos”, ocasião em que muitos rumam aos cemitérios para homenagear os seus
entes queridos e embelezar as suas campas com flores, chamou-nos à atenção uma
notícia adiantada no princípio deste mês pelo The New York Times, que dizia já
ser possível enterrar os animais de estimação junto com os seus donos em Nova
York, desde que os animais sejam cremados, não haja objecção dos cemitérios e
estes não sejam religiosos. A lei aprovada veio ao encontro dos desejos
daqueles que queriam repousar para sempre na companhia dos seus pets, que não
lhe sobrando outro remédio antes, preferiam ser sepultados com eles num
cemitério próprio para animais.
Este desejo não é de hoje,
na Antiguidade houve quem se fizesse sepultar com os seus animais por crenças
religiosas e actualmente há quem queira fazê-lo pelas mais variadas razões,
numa mescla de sentimentos e religiosidade que não encobre a gratidão pelo
serviço prestado pelos animais, companheiros exclusivos para alguns, auxiliares
doutros como poucos e de méritos reconhecidos por quase todos. Engana-se quem
pensar ser este desejo exclusivo dos nova-iorquinos, porque por todo o lado há
quem não queira abdicar dele. Acerca deste assunto, veio-nos à memória a
batalha legal travada pelo Sr. Karl Bartoni há 5 anos atrás no Reino Unido, que
pretendia vir a ser sepultado ao lado dos seus cães no cemitério para animais
onde estes já se encontravam. A justiça da Coroa anuiu ao seu pedido e o Sr.
Bartoni foi o primeiro cidadão no Reino Unido a obter tal autorização.
E se “a cova para dois” se
tornou legal em New York, breve outras cidades e outros países seguirão o seu
exemplo, particularmente agora que o número de filhos diminui na mesma proporção
em que aumenta o número de animais domésticos. A novidade não nos espanta, porque
se assim fosse andaríamos constantemente de boca aberta, o que nos espanta é a
rapidez com que se alteram conceitos e revolvem culturas. O tema dos cemitérios
não foi pacífico entre nós, designadamente quando se instituíram os primeiros
cemitérios públicos, que para os católicos devotos eram terrenos “infiéis”, logo
impróprios para os fiéis, instituídos pelos decretos de 21 de Setembro e 8 de
Outubro de 1835, obra do então “Ministro dos Negócios do Reino” Rodrigo da
Fonseca Magalhães que também proibiam a partir daquela data o sepultamento
dentro das igrejas. Esta inovação mereceu profunda contestação e houve revoltas
populares em vários pontos do País, de tal forma que Braga, um dos maiores
bastiões do catolicismo português, só teve o seu cemitério público 43 anos
depois da publicação dos citados decretos, em 1878, apesar do aroma dos
cadáveres putrefactos se entranhar na garganta dos fiéis quando entoavam os Salmos
nas igrejas!
Menor ou nenhuma
contestação terá aqui o sepultamento do animal doméstico junto do dono, mesmo
em Braga, porque o mundo é feito de mudança, a religião está em queda e a
adaptar-se, segue-se o pelotão da frente, os animais estão na berra e cada um
faz como lhe aprouver, segundo a sua consciência e o livre arbítrio que julga
ter. A “cova para dois” não é para nós ponto de honra mas pode ser importante
para quem a deseja. Mais importante ainda é que homens e cães não fiquem a apodrecer
a céu aberto como muitas vezes temos visto.
Sem comentários:
Enviar um comentário