terça-feira, 18 de outubro de 2016

NEW YORK: TWO FOR THE SAME GRAVE

Com o dia 1 de Novembro à porta, dia em que aqui se celebra “o dia de todos os santos e mártires católicos”, ocasião em que muitos rumam aos cemitérios para homenagear os seus entes queridos e embelezar as suas campas com flores, chamou-nos à atenção uma notícia adiantada no princípio deste mês pelo The New York Times, que dizia já ser possível enterrar os animais de estimação junto com os seus donos em Nova York, desde que os animais sejam cremados, não haja objecção dos cemitérios e estes não sejam religiosos. A lei aprovada veio ao encontro dos desejos daqueles que queriam repousar para sempre na companhia dos seus pets, que não lhe sobrando outro remédio antes, preferiam ser sepultados com eles num cemitério próprio para animais.
Este desejo não é de hoje, na Antiguidade houve quem se fizesse sepultar com os seus animais por crenças religiosas e actualmente há quem queira fazê-lo pelas mais variadas razões, numa mescla de sentimentos e religiosidade que não encobre a gratidão pelo serviço prestado pelos animais, companheiros exclusivos para alguns, auxiliares doutros como poucos e de méritos reconhecidos por quase todos. Engana-se quem pensar ser este desejo exclusivo dos nova-iorquinos, porque por todo o lado há quem não queira abdicar dele. Acerca deste assunto, veio-nos à memória a batalha legal travada pelo Sr. Karl Bartoni há 5 anos atrás no Reino Unido, que pretendia vir a ser sepultado ao lado dos seus cães no cemitério para animais onde estes já se encontravam. A justiça da Coroa anuiu ao seu pedido e o Sr. Bartoni foi o primeiro cidadão no Reino Unido a obter tal autorização.
E se “a cova para dois” se tornou legal em New York, breve outras cidades e outros países seguirão o seu exemplo, particularmente agora que o número de filhos diminui na mesma proporção em que aumenta o número de animais domésticos. A novidade não nos espanta, porque se assim fosse andaríamos constantemente de boca aberta, o que nos espanta é a rapidez com que se alteram conceitos e revolvem culturas. O tema dos cemitérios não foi pacífico entre nós, designadamente quando se instituíram os primeiros cemitérios públicos, que para os católicos devotos eram terrenos “infiéis”, logo impróprios para os fiéis, instituídos pelos decretos de 21 de Setembro e 8 de Outubro de 1835, obra do então “Ministro dos Negócios do Reino” Rodrigo da Fonseca Magalhães que também proibiam a partir daquela data o sepultamento dentro das igrejas. Esta inovação mereceu profunda contestação e houve revoltas populares em vários pontos do País, de tal forma que Braga, um dos maiores bastiões do catolicismo português, só teve o seu cemitério público 43 anos depois da publicação dos citados decretos, em 1878, apesar do aroma dos cadáveres putrefactos se entranhar na garganta dos fiéis quando entoavam os Salmos nas igrejas!
Menor ou nenhuma contestação terá aqui o sepultamento do animal doméstico junto do dono, mesmo em Braga, porque o mundo é feito de mudança, a religião está em queda e a adaptar-se, segue-se o pelotão da frente, os animais estão na berra e cada um faz como lhe aprouver, segundo a sua consciência e o livre arbítrio que julga ter. A “cova para dois” não é para nós ponto de honra mas pode ser importante para quem a deseja. Mais importante ainda é que homens e cães não fiquem a apodrecer a céu aberto como muitas vezes temos visto.

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