Como introdução importa
dizer que todos os rafeiros são de fácil controlo e que nem todos os cães com
pedigree o são, disparidade que se deve à intromissão humana no processo de
selecção dos últimos, que muitas vezes na procura da excelência, acaba por
produzir cães rufias de índole assassina, por desconsideração dos impulsos
herdados caninos que possibilitam a cumplicidade por detrás do trabalho de
equipa. Apesar de cada vez mais raros, os cães rijos exigem donos ainda mais
rijos (experientes) porque não se conformam com a recompensa, não acusam ou
fingem acusar o castigo, são manhosos e sempre aguardam ocasião para as suas
arremetidas, mormente quando robustos. E quando são assim é difícil arranjar-lhes
donos capazes de submetê-los e condicioná-los, porque a adopção da “lei do mais
forte” não está ao alcance de todos e estes cães tendem a subornar
psicologicamente os seus donos, comportando-se como “meninos de coro” nos
intervalos dos seus disparates, reclamando por protecção e meiguice entre as
suas arremetidas, dando a sensação que nunca mais voltam a fazer o mesmo, o que
não sucederá, já que os seus ataques, por força da repetição, serão cada vez
mais dissimulados, inesperados e violentos. Os ataques a que nos referimos são
contra outros cães, por isso mesmo fratricidas, desprezíveis e sem préstimo
algum.
A experiência tem-nos
ensinado que cães assim descendem de progenitores com características particulares,
potenciação que concorre para este comportamento indesejável e condenável,
alicerçado num superior impulso à luta e sustentado num impulso ao conhecimento
de igual monta. Apesar da manha não ser de origem genética, há uma predisposição
hereditária que a adopta facilmente e que obsta à autonomia condicionada
procurada, devolvendo para estes cães dominantes outra quase atávica e
instintiva que dificulta de sobremaneira a sua liderança e que obriga a
cuidados redobrados, porque persistem em iludir os seus condutores ou donos e
dificilmente desistem dos seus intentos. O comum dos proprietários, temendo o
disparate, quando não os castra por desejo próprio ou por conselho, acaba por
arredá-los da disciplina de guarda, receando a confrontação e o agravamento do seu
desnorte, optando por cativá-los para outras áreas de ensino e fazendo uso de
métodos onde a coerção e a repressão não têm lugar, sendo substituídos pela
recompensa que ratifica a sua aprovação, opção dissuasora de todo inválida diante
da sua natureza, esforço que apenas retarda o inevitável.
Como liderar estes cães
não é tarefa fácil, quando os donos não primam pela liderança e não necessitam
dum cão de guarda, o melhor que há a fazer é castrá-los e quanto mais cedo
melhor! Mas caso haja a necessidade dum cão guardião, a melhor opção é entregá-lo
aos bons ofícios dum adestrador profissional, que entre outras tarefas o
disciplinará irrepreensivelmente e trocar-lhe-á os alvos dos seus ataques,
opção nem sempre fiável atendendo ao medo anterior dos seus proprietários, medo
inúmeras vezes percursor e indutor de ataques não-ordenados (geralmente o cão
acaba por ser oferecido ao adestrador que não se faz rogado por saber o que tem
em mãos ou a um corpo policial agradecido como sempre tem sucedido).
É importante não esquecer
que cães com este comportamento são considerados perigosos à luz da lei,
sujeitando-se e sujeitando os seus proprietários às pesadas punições por ela
estipuladas. Sempre que existe um sério conflito de vontades entre donos e cães
ou se assiste ao domínio dos últimos sobre os primeiros, estamos na presença de
uma escolha de trágicas consequências. Assim, quando desejar adquirir um
cachorro, não o faça arbitrariamente e valha-se do parecer dum expert para não se vir a lamentar, porque
é melhor ter um companheiro que um inimigo dentro de portas (a lei prevê a
reeducação destes cães).
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