Quando importa combater o
pernaltismo nos cachorros (ausência de envergadura) e libertá-los da apatia, a administração
de comida fresca surge como o nosso melhor aliado. O pernaltismo, quando não
resulta de dietas pobres, é sempre de origem genética, independentemente dessa
origem ser física ou psicológica, por serem os progenitores dos cachorros
também assim ou por lhes haverem transmitido um fraco impulso ao alimento.
Pernaltismo e pouca apetência andam quase sempre de mãos dadas, concorrendo um
para o outro, o que reforça a apatia canina, condiciona o crescimento dos
cachorros, fragiliza-os e virá a condenar o seu uso. Como se depreende, as
alterações fisionómicas fornecidas pela alteração das dietas não se estenderão
à sua descendência (muito menos as adiantadas por várias drogas), pelo que os exemplares
nascidos pernaltas não deverão ser usados para reprodução por mais excelentes que
sejam os seus pretensos companheiros de cópula.
As causas do pernaltismo sempre
assentam sobre a má escolha dos progenitores (por perpetuarem o pior que há em
si, por ser grande a disparidade da altura entre eles, pelo recurso a
exemplares acima do estalão, por serem portadores de fraco impulso ao alimento,
por provirem de linhas de criação saturadas, pelo uso abusivo de variedades
recessivas e pela vã tentativa de se produzir numa ninhada aquilo que se
desprezou para trás).
Como
pode a comida fresca combater o pernaltismo e a apatia dele resultante, quando
animais assim não primam pela gula e normalmente têm estômagos apertados?
Comecemos pelo fim. É sabido que existe uma relação entre o volume do crânio e tamanho
do estômago nos cães, facto também comprovado nos animais pernaltos, que
invariavelmente apresentam pouco crânios leves. Sabemos também que a comida
fresca é mais apelativa que a ração e que um cachorro ao comer mais na sua fase
de crescimento virá também a aumentar o seu crânio, devido à plasticidade
anatómica que o acompanha nessa fase da vida. Por outro lado, a avidez pela
comida fresca levá-lo-á à sua procura e defesa, tornando-se mais atento para o
mundo que o rodeia e para quem lhe dá de comer, estabelecendo assim vínculos
afectivos mais sólidos com o seu grupo, o que irá facilitar a sua coabitação e
uso (o que defenderá um cão mais depressa: um punhado de ração ou um naco de
carne?). Sim, a comida fresca suscita a gula nos cães, promove o crescimento
equilibrado dos cachorros (a correlação entre o seu tamanho e envergadura) e
ainda fortalece o seu carácter.
A
que cachorros e em que idade deveremos dar comida fresca? Como
prevenção ou debaixo de suspeita, logo após do desmame (obrigação do criador) e
sempre que os cachorros se encontrem com um défice de peso igual ou superior a
25% do valor indicado pela curva de crescimento da sua raça. Como a maioria dos
criadores não atenta para este pormenor, o que dá muito jeito atendendo à
despesa, normalmente a distribuição da comida fresca irá ser feita pelos seus
proprietários, o que não causa maiores atrasos, porque o maior pique de
crescimento dos cachorros acontece dos 2 para os 4 meses de idade (distribuir
comida fresca não implica em desprezar a ração, porque a primeira presta-se
como reforço da comida seca).
Até
quando daremos comida fresca? Para quem se poder dar ao
trabalho e suportar a despesa sempre! Dependendo das raças e das suas
diferentes curvas de crescimento, sabendo-se que há umas mais precoces do que
outras, passaremos para a distribuição exclusiva da ração entre os 12 e os 18
meses, quando o seu crescimento vertical cessa. Deverão todos os cachorros comer comida fresca? Não. Os cachorros
mal aprumados tendentes ou portadores de problemas articulares não deverão
consumi-la, porque o aumento de peso só iria agravar os seus defeitos e
impropriedades, sucedendo o mesmo aos desarticulados e demasiado côncavos. É evidente
que a sua distribuição também se encontra vetada aos obesos, aos cães muito
agressivos e aos afectados por várias enfermidades das quais destacamos a insuficiência
pancreática exócrina (IPE).
Como tanto a quantidade quanto
a qualidade da comida fresca a distribuir se encontram cativas ao particular
etário dos indivíduos e à curva de crescimento da sua raça, não podemos aqui
adiantar receitas balanceadas universais, o que não nos dispensa, depois de
conhecedores dos casos, de adiantarmos a mais conveniente para quem a
solicitar. Como a conversa sobre a distribuição da comida fresca tem “pano para
mangas”, voltaremos ao assunto quando tal se justificar ou assim entendermos.
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