Quantas vezes temos ouvido
que um cão próprio para o pastoreio não mostra nenhuma aptidão para esse
serviço, desinteressa-se dele ou que atacou e matou várias ovelhas? Estamos
convencidos que muitas! A culpa destes despropósitos raramente é atribuída aos
donos, como se os cães envolvidos fossem de índole assassina e igual à dos
“lobos-maus”, sabendo-se que o consenso popular se queda pela apreciação dos
efeitos e desconsidera ou dá pouca importância às causas. O grupo somático
canino mais envolvido nestes disparates é o dos lupinos, onde o Cão de Pastor
Alemão se destaca dos outros e é secundado pelo Husky Siberiano. Sem
dificuldade entendemos o instinto predador do “cão das neves”, que pode e deve
se contrariado, o que não aceitamos é que o cão alemão, criado como cão de
gado, se comporte dessa maneira, muito embora saibamos que esses ataques são
obra de cães tornados urbanos e arredados do pastoreio.
O cão pastor nasce pastor,
apesar de qualquer um poder vir a sê-lo quando adequado desde tenra idade, o
que não implica que venha a ser um mestre nesse ofício, muito embora todos
melhorem consideravelmente com o tempo e o treino, ele nasce pastor porque descende
de cães com a mesma propensão e idêntico perfil psicológico, sendo por isso
objecto de selecção, selecção que considera a morfologia para o efeito e que
recai sobre animais com comportamentos mais ou menos submissos, curiosos e
não-caçadores, considerando a salvaguarda dos indivíduos do rebanho/manada que
virá a guiar ou defender.
A submissão ou dependência
destes cães irá também facilitar o seu uso e direccionamento pelo pastor, a
quem deverá obedecer sem demoras, unidade de propósitos que dificilmente
aconteceria com cães extraordinariamente dominantes, já que o verdadeiro cão de
pastoreio é um serviçal que não avança para além do que lhe é ordenado, pelo
que deverá ser fácil de treinar, territorial e ao mesmo tempo sociável. Como se
depreende, a esmagadora maioria dos cães próprios para os “Shows de
Conformação” é imprópria para a tarefa por ser de menor rusticidade, provir
doutros critérios de selecção e ver desconsiderado o seu uso funcional (mais
depressa se arranjará um rafeiro para o pastoreio que um cão com grande
pedigree).
Independentemente do cão
se destinar ao pastoreio ou à guarda do gado (a acumulação de funções não está
ao alcance de todos os cães e pode obrigar ao uso de dois ou mais cães
diferentes nas áreas mais extensas e batidas por predadores), ele deverá ser
instalado no curral dos animais por volta dos dois meses de idade, beber onde
eles bebem e possuir um abrigo próprio onde se alimentará, descansará e estará
a salvo das investidas dos animais mais ariscos ou obrigados à protecção das
suas crias, estratégia que visa a sua familiarização com eles e que mais tarde
o levará a considerá-los como membros da sua matilha.
Depois de habituado ao
gado, adaptação que dificilmente acontecerá antes das duas semanas de
permanência no bardo, o cachorro começará a sair com ele em pequenas distâncias,
seguindo-o nas suas deslocações ao exterior debaixo do apoio e conforto do
pastor, que pouco a pouco e dando o exemplo, lhe dará a conhecer o que espera
dele. Um cão de rebanho deverá limitar o seu relacionamento aos animais, ao
pastor e aos seus familiares, para não abandonar o gado e seguir outras pessoas
na procura de comida e afagos.
Por volta dos 4 meses de
idade, por vezes dos 5, depois da troca dos dentes e antes da maturidade
sexual, quando os cachorros se encontram na “idade da cópia” e iniciam o seu
escalonamento social, alguns deles tendem a mordiscar borregos e cabritos,
comportamento indesejável que deverá ser imediatamente corrigido atendendo à
sua impropriedade e possíveis repercussões, correcção que deverá ser feita
debaixo de alguma tolerância caso tais brincadeiras espelhem a necessidade do
cachorro se identificar com o rebanho, porque não se pode esperar dele o
comportamento visível num cão adulto.
A mestria de um cão adulto
em muito ajuda o processo de aprendizagem dum cachorro, ensinando-o inclusive a
trabalhar em grupo. A maioria dos cachorros de pastoreio começa a evidenciar o
seu potencial entre os 7 e os 10 meses de idade, mostrando-se apta entre os 12
e 15 meses no trabalho isolado e entre os 18 e 24 no trabalho colectivo. Os
cães destinados à guarda dos rebanhos atingirão a autonomia condicionada
pretendida entre os 18 e 24 meses de idade (as cadelas depois do 2º cio).
Voltaremos a este assunto para explicar como treinar cães de pastoreio e para
guarda de gado.
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