domingo, 30 de outubro de 2016

NO TEMPO EM QUE OS MACGYVER ANDAVAM PELO ALENTEJO

Diz-se que a necessidade aguça o engenho e, se assim é, compreendemos por que razão há agora tanta gente que nada faz. Apesar do desemprego, da vida não estar fácil e o dinheiro estar muito caro, já passámos por momentos mais difíceis que não queremos ter de volta, tempos dominados pela economia de sobrevivência, aparentemente parados na História, onde cada um, por falta doutras opções, era obrigado a desenrascar-se conforme podia para valer-se a si e aos seus, quando caçar era uma necessidade e não um desporto, numa sociedade sustentada pela agricultura que apenas supria alguns e que condenava à penúria quase todos, fado antigo que antes nos obrigou à descoberta de novos mundos e séculos mais tarde à emigração, à sempiterna diáspora portuguesa. 
No Alentejo, graças aos caprichos da natureza, a caça vinha ao encontro das famílias carenciadas e cada um procurava apossar-se da que tinha à mão pelos meios ao seu dispor. Uma das espécies mais cobiçadas era o coelho bravo e os populares desenvolveram um conjunto de técnicas eficazes para a sua captura, numa época em que as armas de fogo não estavam ao alcance de qualquer um e importava não fazer alarido. Acerca deste assunto, registámos os relatos experientes do Sr. Bento Moedas, um octogenário alentejano, homem franco, de origem humilde, hábil caçador e profundo conhecedor da flora e da fauna das planícies do Sul, que a seu tempo viria a ser agente da autoridade, actividade que ainda hoje lhe garante a reforma.
Como as técnicas utilizadas pelos alentejanos eram muitas, apenas adiantaremos algumas que hoje parecem estranhas ao nosso viver urbano, que envolviam paus, laços, cães, furões e motorizadas, meios que usavam de acordo com as circunstâncias e longe dos olhares alheios, porque não faltavam proibições, a fiscalização era muita e as multas incomportáveis. Caçava-se coelhos a pau com o auxílio dos cães, que ao entrar nas moitas e nos silvados, expulsavam os coelhos das suas tocas, cabendo aos caçadores abatê-los a cajado ou varapau, alcançando alguns nessa arte rara mestria. Havia também quem caçasse a laço coelhos e javalis, método infalível quando usado nos trilhos de passagem ou em direcção à água destes animais, para além do uso de engenhosas armadilhas artesanais.
Foram os cães que melhor serviram os intentos destes caçadores por subsistência, companheiros que se tornaram exímios no auxílio aos homens, também eles votados a magras dietas, infortúnio que mais lhes desenvolveu o instinto caçador e que nunca impediu a fidelidade aos seus donos. Porém, a sagacidade dos cães era de pouco préstimo sem o ensino dos seus mestres, a quem cabia ensinar-lhes os buracos ou tocas onde deveriam internar-se. Todos os buracos nos silvados que tinham teias de aranha eram desprezados e os cães afastados deles, porque não tinham coelhos. Com o tempo e a experiência, os cães aprendiam a evitá-los avançando de imediato para outros.
Apesar de repetidas vezes proibida, a caça ao coelho com furões (Mustela putorius furo) é milenar no Alentejo, muito embora estes animais possam ser hoje aceites como pets, desde que registados no Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade como tal. O uso dos furões não podia ser arbitrário, particularmente nos buracos ou tocas onde as moscas-varejeiras se fizessem presentes, sinal da existência de uma coelha parida ali (com coelhinhos pequenos), o que interditava imediatamente o uso dos furões, porque uma vez dentro da lura, comiam os coelhinhos e adormeciam por lá. Havia criadores/caçadores com furões que os usavam como se fossem cães, mantendo com estes animais inaudita e proveitosa cumplicidade.
E quando ao passar de motorizada, velocípede a motor que poucos tinham, se avistava um número razoável de coelhos e a ocasião era favorável, não havendo como recorrer a cães ou furões para os fazer sair, era a motorizada que fazia o seu papel, ao prender-se uma mangueira com uma braçadeira de arame ao seu tubo de escape, que ao ser introduzida nos buracos, obrigava os coelhos atordoados a abandonar os seus abrigos, sendo depois caçados à mão. Até há poucas décadas atrás, nascer e viver no Alentejo, mercê da rudeza de vida, do clima e da paisagem, era tirar vários cursos de sobrevivência e aguçar o engenho, não sendo por isso de estranhar que muitos alentejanos viessem a ser incorporados nas tropas de elite dos três ramos das Forças Armadas Portuguesas.
Ao invés de querermos incentivar a actividade cinegética, dividimos este artigo com os nossos leitores para relembrar tempos idos, em que cada alentejano, independentemente do seu sexo, era um verdadeiro “Macgyver”, quer caçasse quer cozinhasse. E se os homens foram grandes, os cães não lhes ficaram atrás! Hoje a maior parte do Alentejo está a campo, os seus montes desertos ou quase desertos e os coelhos mal se vêem, vítimas de várias pragas, de agressões químicas, da agricultura ausente que também os sustentava e da crescente desertificação. Assim se caçou para comer nos Algarves mais próximos e não foi assim há tanto tempo!

sábado, 29 de outubro de 2016

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O RANKING semanal dos textos mais lidos ficou assim ordenado:
1º _ OS FALSOS PASTORES ALEMÃES, editado em 24/02/2015
2º _ DEIXEM-ME FALAR DE ALGUÉM PERSEGUIDO QUE NÃO DEVERÍAMOS TER ESQUECIDO!, editado em 24/10/2016
3º _ UM FINLANDÊS POUCO CONHECIDO: O CÃO DE URSOS DA CARÉLIA, editado em 12/10/2014
4º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
5º _ NÓS POR CÁ: OS TOJOS E AS BOTAS, editado em 25/10/2016
6º _ NOVOS ROSTOS DA ACENDURA, editado em 25/10/2016
7º _ COMIDA FRESCA PARA COMBATER O PERNALTISMO E A APATIA, editado em 22/10/2016
8º _ VÁ AMIGO, QUE NÃO SE VAI ARREPENDER!, 25/10/2016
9º _ DENTES DE LEÃO EM MÃOS DE ALGODÃO, editado em 26/10/2016
10º _ A TERAPIA DO CHOUPO (POPOLUS ALBA), editado em 21/10/2016

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país ficou assim escalonado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Reino Unido, 4º Estados Unidos, 5º Lituânia, 6º Alemanha, 7º Angola, 8º França, 9º Espanha e 10º Quénia.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

SABE COMO É A MALTA DO TRABALHO!

Esta semana chegou-nos uma Malinois, recém-parida, mal nutrida, com marcas de fractura na cauda e varrida de molares e pré-molares no seu maxilar inferior. Espantados com o infortúnio daquele animal, perguntámos ao seu proprietário, um jovem pouco fundamentado e dado ao entusiasmo, porque razões a cadela tinha fracturado a cauda e ficado desdentada. O rapaz, com a maior naturalidade do mundo e esboçando um sorriso nos lábios, respondeu-nos: “Sabe como é a malta do trabalho!”  A cauda quebrou-a pela excitação e a ênfase na mordida levou-lhe os dentes de leite, violência que obrigou também à extracção dos definitivos por terem ficado irremediavelmente inclusos!? Tudo isto aconteceu numa insuspeita escola canina, debaixo da confiança cega que leva os alunos a obedecer aos seus “mestres”.
Como este não é um episódio isolado, porque situações idênticas repetem-se com os mesmos intervenientes, importa diferenciar o que é a guarda real e a desportiva, os currículos de uma e de outra para melhor se entender as suas diferentes filosofias, práticas, metas e objectivos. Ainda que os seus mentores o neguem, a maioria dos cães destinados à guarda desportiva será imprópria para a guarda efectiva (real), vindo a executar exclusivamente as suas performances condicionadas em provas e exibições, descansando da sua azáfama em casa, quando deveriam estar a guardá-la. E quando indevidamente se vêem obrigados a fazê-lo, são alvos fáceis de abater ou de ludibriar, porque avisam em demasia, denunciam a sua presença e jogam-se aos portões, porque são mais ofensivos que defensivos e não conseguem dissimular-se, vícios que poderão comprometer a sua vida e serviço.
A guarda real é por natureza mais defensiva que ofensiva e por causa disso, para além da surpresa, preocupa-se mais com a defesa dos cães, sabendo que eles se encontram em desvantagem no confronto directo com o homem. Aos ataques deliberados e estridentes, tirados a partir da ânsia, dos instintos e por vezes da fome, a guarda real contrapõe a atribuição de um lugar de vigia para os cães (treina-os para não serem vistos nem ouvidos), condiciona-os a só avançar debaixo de vantagem e a carregar sobre os invasores só depois da intrusão. E se há que ter um cão de aviso, esse não será o guardião, mas outro próprio para isso, um cão mais pequeno, sensível, activo, barulhento e nada atemorizador.
Para além dos ataques e do desarme, a recusa de engodos torna-se imperativa, o ataque a alvos imóveis imprescindível (um invasor imobilizado ou com uma pistola não se mexe), também a progressão desenfiada em direcção a um homem munido de arma de fogo, a retirada estratégica é enfatizada, o afastamento dos portões é condicionamento obrigatório, pois há que arredar os cães do raio de acção dos laços e dos sprays, ensiná-los a diminuir a sua silhueta e a procurarem áreas de ocultação, porque todo o cão que é visto é de fácil eliminação, o que torna a ocultação palavra de ordem na guarda real (o cão não reage à provocação, aguarda silencioso o seu tempo de acção e não perturba o sono dos vizinhos). Se na guarda desportiva a autonomia do cão visa a captura, na real ela procura a sua salvaguarda. Alcançar tamanha autonomia não dispensa a riqueza de personalidade presente nos cães curiosos, que evoluem pela vontade do dono e não pela cegueira dos seus instintos. E depois, os cães da guarda desportiva estão acostumados a vencer, os destinados à guarda real não podem perder, uns atacam por rotina e os outros lutam pela própria vida.
De que nos servirá um cão amputado ou fragilizado que marche em direcção à morte? Treinar cães para guarda não é um espectáculo, é tudo fazer para que permaneçam ao nosso lado por mais tempo, evitar que se exponham desnecessariamente e torná-los vencedores - fazer um guardião é apostar na sua sobrevivência!

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

UM RATINHO DO TAMANHO DUM RATÃO E UMA CADELA-EXPLOSÃO

O Manuel Delgado, homem da Beira Baixa, entendido no Alentejo como “ratinho”, que pelo seu porte é mais um ratão, tem treinado connosco as suas duas cadelas: a CPA negra “Jafa” e a Border Collie “Coli”, salvando esta última de morte certa, por a ter encontrado abandonada numa auto-estrada ainda cachorra. Ultimamente tem-lhe dedicado mais tempo que à pastora, porque a “Coli” é muito nervosa, activa e explosiva e necessita de sociabilizar-se com as pessoas, das quais parece não guardar boa memória. Devido ao seu comportamento, esta Collie mereceu-nos o título de “cadela-explosão”, porque faz tudo em alta velocidade e desaparece da nossa vista em fracções de segundo. Com o tempo e o treino, somados ao amor do seu dono, que a traz consigo para todo o lado, a “Coli” nem parece a mesma e a sua plena recuperação está para breve. Destinada às ovelhas do seu proprietário, a cadela vai-se entretendo a perseguir pardais e pombos, animais que não considera bem-vindos no estabelecimento comercial do seu dono. Queremos agradecer ao Manuel o amor que tem por ela, porque não é só grande em tamanho, é-o também de coração. Bem hajas ratão pelo teu coração!

LOURDES: A MÃE QUE NÃO SAÍA À RUA

Do alto das suas setenta e poucas primaveras, a Lourdes, mãe extremosa de três, raramente saía à rua, entregando-se debaixo de telha aos múltiplos afazeres domésticos, tarefa que abraçou logo após o seu casamento. Senhora jovial, simpática e de bom trato, bem-disposta e solidária, mais dada a confortar que a ser confortada, passou a render o seu filho na condução do Icx, um Caniche alegre, empertigado e vaidoso, que tem tanto de pequeno como de guloso. A presença de ambos no treino é um bálsamo para os seus companheiros de classe, porque a condutora irradia alegria e o pequeno cão charme. Graças ao cãozinho, a Lourdes sai mais vezes à rua e acaba por melhorar a sua forma física, apesar de nem sempre pegar na trela como deve ser. Sentimo-nos agradecidos com a sua presença e companheirismo, ao ponto de a desafiarmos amiúde para sair de casa. Obrigado mãezinha, que Deus te conserve e que sempre mantenhas o teu sorriso.

ALVÍSSARAS, HOJE TIVEMOS O PRIMEIRO LEITOR DO LAOS!

Cambojanos, chineses, coreanos, malaios, vietnamitas e tailandeses são leitores assíduos deste blogue, mas só hoje tivemos o primeiro leitor do Laos, país do sudeste asiático sem saída para o mar, com uma área duas vezes e meia superior a Portugal Continental mas com menor população. Os portugueses chegaram ao actual Laos antes de qualquer povo europeu (Séc.XVI). Nação de profunda influência budista, ainda comunista, também consumidora de carne de cão, possui monumentos únicos e paisagens para mais tarde recordar ou para nunca mais se esquecer. Alegra-nos deveras a chegada deste leitor inesperado e esperamos que outros daquelas paragens sigam o seu exemplo. ເພື່ອນຍິນດີຕ້ອນຮັບ (bem-vindo amigo).

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

DENTES DE LEÃO EM MÃOS DE ALGODÃO

Quando tínhamos criação própria de Pastores Alemães, nunca entregámos cachorros a clientes sem os conhecer primeiro, saber a quem destinavam o animal, averiguar do seu agregado familiar e aquilatar das suas expectativas em relação ao cachorro que pretendiam adquirir, para além das condições que tinham para lhe oferecer, cuidado que alguns entendiam como antipatia, quando perguntávamos para que queriam o animal. Certa vez, um possível interessado farto desse “interrogatório” disse-nos: “ Você tem cachorros para vender, eu tenho dinheiro para os comprar e ponto final!” É evidente que saiu mais depressa do que entrou e sem levar cachorro algum. A nossa relutância em entregar arbitrariamente cachorros a outrem prendia-se com a salvaguarda e felicidade das famílias e também com o bem-estar dos cachorros, já que importava entregá-los às pessoas certas, não concorrer para descalabros de vária ordem e não contribuir para actividades criminosas, preocupações que outros não tinham e cuja ausência lhes caía de feição.
Sabemos por experiência própria que Pastor Alemão é uma das raças mais versáteis do panorama canino, que apresenta uma capacidade de adaptação muito alta e que é extremamente fiel aos seus donos, predicados que não invalidam o facto de ter sido seleccionado para o trabalho e recorrentemente usado como cão de guerra. Quando o cachorro pretendido se destinava à companhia habitual de crianças, tínhamos o cuidado de procurar um submisso, menos frenético mas activo, de fácil sociabilização e que não viesse a ser muito grande. Não o havendo e tendo nós uma cachorra com essas características, de imediato a recomendávamos. Nestes casos optávamos normalmente por cachorros lobeiros, que como é sabido têm uma curva de crescimento mais longa e são hábeis em escapar-se quando sujeitos a abuso, sem contudo ripostarem ou serem agressivos, apesar de os haver com um comportamento diametralmente oposto pela selecção operada. Caso entregássemos um cachorro fortemente territorial, com excelentes impulsos ao alimento, ao movimento, à luta e ao poder, as crianças correriam certos riscos que não teriam como evitar, podendo inclusive vir a ser mordidas.
Quando o cachorro se destinava a um idoso ou casal de idosos, também a gente frágil ou arredada do exercício e da boa forma física, destinávamos-lhes cachorros mais curiosos do que activos, meigos e mais dependentes, sociáveis e cúmplices, para que a sua adaptação decorresse sem atropelos e os seus donos pudessem coabitar com eles descontraidamente sem maiores contratempos e atritos. Caso alguma desta gente reclamasse para si um cachorro mais valente, convidávamos os interessados para a condução de um cão adulto assim, experiência que os elucidava acerca da escolha mais acertada. Sabendo que a variedade negra é a que larga menos odor, a que tem uma curva de crescimento mais curta e a que mais cedo se estabiliza, havendo cachorros negros com o perfil psicológico atrás exigido, de pronto os recomendaríamos, porque sabíamos que iriam fazer as delícias dos seus compradores, gente mais propensa ao conforto que à aventura. Entregar um cachorro fogoso, brigão e resistente a pessoas incapazes de lhe fazerem frente é atentar contra a sua salvaguarda e a de terceiros, um disparate de variadas e gravíssimas consequências.
Sabe-se que os jovens são por norma irreverentes, providos de poucas cautelas e dados a paixões e, quando assim não são, é possível que não se encontrem bem. Grande número deles reclama pela companhia ou pela parceria de um cão, pedido que muitos pais satisfazem estrategicamente, conscientes que o animal irá ajudá-los a crescer e a prepará-los para a entrada no Mundo dos adultos, pela evasão que propicia, pelos cuidados que exige, pelas regras que não dispensa, pela cumplicidade que oferece, pela necessidade de liderança e pela responsabilidade a que obriga. Tanto é que existe uma tradição europeia que consiste na entrega de um cão a um jovem recém-saído da puberdade visando esses propósitos. 

Na escolha dum cachorro para um jovem há que considerar o seu perfil psicológico, grau de responsabilidade, quadro experimental, o seu desenvolvimento físico e cognitivo, capacidade de resolução e as suas expectativas, para que se reveja no cão e vá para diante. E como na juventude precisamos de companheiros que nos ajudem a crescer, não devemos entregar aos jovens cães que aumentem as suas frustrações, que contribuam para o seu desalento e que os induzam ao isolamento. Será sempre o jovem a determinar, depois de devidamente avaliado, qual o cachorro que lhe é próprio pelas vantagens que lhe dá. Se não atentarmos para o seu particular individual, mais cedo que o esperado, o cão acabará desprezado e condenado a um futuro nada promissor.
Em síntese, não devemos dar um cão valente a quem não nasceu para ser líder, um muito activo a quem não se pode mexer, um muito agressivo a quem não irá ter mão nele, um indolente a quem é atleta, um rufia para quem é tolerante, um extraordinariamente forte para quem é fraco e um teimoso a quem não se impõe. É obrigatório que os criadores saibam identificar o que põem à venda, reconhecendo nas suas ninhadas os diferentes indivíduos que melhor se prestam aos clientes que os procuram. E quando assim não acontece, é a raça que indevidamente sai defraudada. Estamos fartos de ver donos a serem rebocados pelos cães, donos a rebocar cães e feras conduzidas por cordeiros - dentes de leão em mãos de algodão! Mais importante do que discutir genealogias, é conhecer a “prata da casa” e endossá-la a quem melhor a aproveitará. Se por acaso necessitar, estamos ao seu dispor para o ajudar na escolha do seu cão, antes que outros o façam por si e venha a arrepender-se. 

terça-feira, 25 de outubro de 2016

NÓS POR CÁ: OS TOJOS E AS BOTAS

Parece-me que esta noite sonhei com tojos, julgo que estava no meio de uma floresta de pinheiros, cravejada deste mato espinhoso e que alguém andava com os seus cães à procura duma pessoa desaparecida. Como o mato era denso e os seus picos não poupavam os animais, cortando-os sem piedade, quem coordenava as buscas decidiu dispensar os cães. Espantado com aquele desfecho, gritava e ninguém me ouvia no meio daquele arvoredo, dizendo a viva voz que há botas e mais equipamento para o efeito.
Quando já estava desesperançado por ninguém me ouvir, uma voz vinda não se sabe donde retorquiu-me: “ Não nos dão botas para os cães e mesmo que as dessem, não teríamos tempo para acostumá-los a tal calçado”. Perguntei para quem me respondeu como poderiam os cães resgatar e salvar pessoas perdidas nas nossas florestas, normalmente infestadas de tojos, se não têm o equipamento adequado. Não obtive resposta. Depois acordei para a realidade e não me recordo de mais nada. Para quem estiver interessado e levar a sua missão a sério (agora estou a falar para pessoas reais e não para virtuais), deixo aqui algumas fotos do material protector já existente para cães, próprio inclusive para os diversos matos de tojo.
Estou convencido que os nossos profissionais (militares, polícias e bombeiros) já conhecem este material e que há muito o usam nos seus cães, companheiros que assim avançam e cumprem as suas missões em qualquer tipo de piso, quer seja espinhoso ou não, encontrando mais rapidamente quem se perdeu e resgatando a tempo quem necessita de ser resgatado. Sempre um homem tem cada sonho! Ainda bem que este foi pura imaginação!  

VÁ AMIGO, QUE NÃO SE VAI ARREPENDER!

Recebemos dum leitor o email seguinte referente ao texto “DEIXEM-ME FALAR DE ALGUÉM PERSEGUIDO QUE NÃO DEVERÍAMOS TER ESQUECIDO”, editado no dia ontem, comentário que publicamos na íntegra: “Ao ler este pequeno documentário sobre esta raça facilmente percebemos estar a mesma talhada para grandes feitos não fosse o despreparo e ignorância de alguns. Ouvir e ler de quem percebe, entende e fala a linguagem canina é uma excitação e um consolo para a alma. Já tinha vontade em ter um exemplar da raça, agora muito mais e com a certeza que não serão defraudadas as minhas expectativas e oxalá as dele. Um abraço e obrigado pelos ensinamentos e vontade de partilhar sabedoria”. Vá amigo, vá buscar um Rottweiler e verá que não se vai arrepender, ele é um cão único e tem muito para oferecer!

BEIJOS DE CÃO: SIM OU NÃO?

Desde muito novo, logo na fase do concreto e antes de ingressar na Escola Primária, que oiço dizer ser a língua dos cães “santa”, com poderes curativos milagrosos, por ser capaz de curar as feridas dos humanos (também se dizia que a hortelã era boa para combater as lombrigas que atormentavam os mais pequenos), pelo que era recomendável na aldeia que me viu nascer deixar os cães lamber os arranhões dos miúdos, “auxílio” a que os animais não se faziam rogados e pareciam até gostar. Hoje, com a crescente humanização dos cães, as suas lambidelas são entendidas como beijos e muitos donos não as dispensam, deixando os animais lamber-lhes a cara, o nariz e até a boca, não se escapando os mais efusivos à troca de línguas. Apesar de inócua para os cães, será esta prática higiénica, profiláctica, terapêutica ou nociva para a saúde dos donos?
É sabido que o microbioma oral canino hospeda grande número de bactérias, vírus e fungos, que algumas dessas bactérias são zoonóticas, logo passíveis de serem transmitidas ao homem. Entre elas destacam-se as relativas ao Clostridium, E. coli, Salmonella e Campylobacter, podendo a última causar grave doença intestinal nos humanos. Convém relembrar que os cães são coprófagos, que lambem o seu próprio rabo e o de outros, havendo alguns que comem as suas fezes e também as de outros animais.
Por outro lado, tanto a saliva como o nariz e outros agentes patogénicos presentes na boca do cão são mais facilmente absorvidos pelas mucosas do nariz, boca e olhos das pessoas, muito embora essa transmissão seja hoje felizmente rara, como rara é a transmissão de um parasita intestinal a um humano por um cão com matéria fecal na boca. Contudo, o beijado não deverá ficar com um odor agradável, porque doutro modo tal mistela viraria perfume e renderia bom dinheiro.
Apesar de uma pessoa saudável e com a pele intacta raramente ser contaminada pela saliva de um cão, à cautela, pensando também nas crianças e nos doentes ao seu encargo, é de todo conveniente e recomendável que o seu cão tenha as vacinas em dia, se encontre totalmente desparasitado, seja afastado das fezes doutros animais e que não coma as suas, que deverão ser de imediato retiradas após terem sido evacuadas. Escusado será dizer que deverá lavar as mãos diária e regularmente com sabão, depois de ter tocado ou ter sido tocado pelo cão. Atendendo à higiene que previne as doenças, evite beijar cães que desconhece, porque podem não se encontrar correctamente desparasitados e vacinados, o que nos dias que correm acontece frequentemente.
Caberá a cada um decidir se deve beijar ou não o seu cão na boca e ser correspondido. Nós não corremos riscos desnecessários, não lidamos só com cães, somos seres sociais, adoramos crianças e não queremos transmitir aos outros doenças que os apoquentem. O beijo canino expressa identificação, aceitação e humildade, mas não necessita de ser tão caloroso ao ponto de ser trocado na nossa boca.

O IRAQUE DEFENDE-SE, SS ATRASA PARA MP E PORTUGAL ESTÁ À BEIRA DE UMA ESTRONDOSA DERROTA!

Como seria de esperar, cada vez se torna mais difícil levar os filhos do Embaixador do Iraque perante a Justiça, porque o Iraque não retira a imunidade diplomática ao seu representante e família, pelo que o Ministro Santos Silva remete para o Ministério Público uma tomada de posição. E como “quando o pau vai e volta, folgam as costas”, é possível que a justiça portuguesa morra solteira, a vítima dos “meninos” iraquianos não seja devidamente indemnizada pelos danos sofridos e os seus agressores não sejam condenados. Se porventura for este o final, porque dificilmente outro se avizinha, melhor seria que pai e filhos iraquianos tivessem sido de imediato declarados “personas non gratas”. Este lamentável episódio lembra um relato radiofónico de futebol: o Iraque defende-se, Santos Silva atrasa para o Ministério Público e Portugal está á beira de uma estrondosa derrota!” Valerá a vida de um português menos que a de um iraquiano?   

NOVOS ROSTOS DA ACENDURA

A foto acima mostra-nos a Maria Beatriz (Bia) com os seus dois Beagles castrados: o Paquito, que ela trata carinhosamente como “Paqui” e a Noa, cadela com que habitualmente trabalha. Estes Beagles acusam a castração de que foram alvo e o relacionamento menos cuidadoso levado a cabo pela sua dona. O Paqui adora caçar e sempre encontra algum coelho, desaparecendo até o encontrar. A Noa nunca larga a Bia e finalmente começa a mostrar interesse pelas aulas. Ainda que seja difícil imaginar a Beatriz sem os Beagles, certo é que nasceu para conduzir cães com outras características, uma vez que dá fortes indícios de vir a ser uma excelente condutora cinotécnica.
A Nana Martynova, filha de pai ucraniano e mãe georgiana, ao vir para Portugal, onde vive e trabalha, trouxe consigo o seu CPA preto-afogueado de pêlo comprido, agora com quase três anos e que foi treinado para guarda na Ucrânia (ambos na foto acima). O cão apresenta um dorso invejável e uma cabeça típica, apesar de se encontrar divergente de mãos. Tem apresentado alguns problemas de sociabilização, tanto com os seus colegas de classe como com os seus condutores, excitação reforçada pelos nervos e insegurança da sua dona, pormenor que nos tem obrigado, por prevenção, a açaimá-lo na “troca de condutores”. A Nana requisitou os nossos serviços para melhor poder controlar o seu cão e tudo temos feito para torná-la numa verdadeira líder. Esta menina de Leste é pontual e trabalhadora, não é de se lastimar e é muito disciplinada. Pela sua dedicação ao trabalho virá a alcançar os seus intentos.
Na foto anterior a este parágrafo podemos ver o Paulo Motrena e o seu cachorro CPA de pêlo comprido nos momentos de supercompensação. O cachorro tem agora 4 meses, é da criação do João Paulo, é lobeiro e parece ter nascido ensinado. O Paulo tem pouca experiência com cães, sendo este o seu segundo cão. Começou entre nós com um Caniche chamado Icx, hoje conduzido pela sua mãe. A relação entre ele e o CPA é excelente, o Paulo adora o infante e este segue-o para toda a parte, indícios seguros de uma futura relação cúmplice e proveitosa, visível já hoje no desempenho do cachorro.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

DEIXEM-ME FALAR DE ALGUÉM PERSEGUIDO QUE NÃO DEVERÍAMOS TER ESQUECIDO!

Para começo de conversa, deixem que vos diga um facto: eu nunca temi os fortes e sempre fui vítima da malícia dos fracos, que ao serem velhacos, várias vezes me derribaram mas que nunca me venceram ou convenceram. Foi assim com os homens, assim aconteceu com os cães (outros queixar-se-ão do mesmo). Toda a vida adorei Pastores Alemães e ainda adoro, o que nunca me impediu de admirar o Rottweiler, que considero o cão mais leal e seguro que alguma vez conheci, hoje praticamente arredado do nosso panorama canino, mercê de políticas cinófobas, do sensacionalismo dos media e do pânico incontido de muitos, gente que nunca teve a oportunidade de o criar, conhecer e experimentar as suas múltiplas mais-valias, que apenas teme os seus dentes e que continua a desconhecer o muito que ele tem para dar, enquanto cão familiar e de utilidade, porquanto é humilde, meigo, calmo, cúmplice e dedicado, fácil de sociabilizar entre iguais, dum altruísmo a toda a prova, esforçado, pouco exigente e de fácil controlo, um serviçal na verdadeira acepção da palavra, ainda que destemido e valente como poucos. Por tudo isto talvez não seja um cão para todos mas jamais será esquecido por quem teve o privilégio de o ter como companheiro.
O que tinha e tem o Rottweiler de perigoso ou de ameaçador? Somente a sua envergadura e potência de mordedura, muito embora existam cães com menor envergadura e com maior potência de mordedura, mais dados à provocação, de controlo circunstancial, voláteis e por isso mesmo mais propensos ao disparate. Verdade seja dita: nem antes nem depois de ter sido considerado como raça perigosa foi o cão que causou maior número de vítimas, tanto aqui como lá fora, havendo outros ainda não indexados que nisso o suplantaram e muito, mantendo até à presente data a mesma saga! Analisando detalhadamente os seus ataques, que nunca foram recorrentes, chegamos à conclusão que ficaram-se a dever a três causas principais: a más condições de alojamento, a uma coabitação precária e a acidentes escusados, directamente relacionadas com o despreparo dos seus proprietários. Nunca houve em Portugal uma linha de criação totalmente independente de Rottweilers de trabalho relativa aos criados para exposição, apesar de terem sido importados alguns exemplares ditos de índole laboral nos alvores deste Século, que invariavelmente acabaram por beneficiar ou ser beneficiados pelos criados para os shows de conformação, pormenor que aqui não agravou a fama nem os danos atribuídos à raça. Ao contrário de outros, não há um Rottweiler de beleza e outro de trabalho, todos são um só cão, de igual potencial e idêntica prestação.
Se na estranja a discriminação da raça não pode ser desligada de uma política de ajuste de contas colmatada pelo politicamente correcto (alguém perdeu a guerra e ainda não tem assento como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas), aqui, onde tudo se copia e nada se contesta, apesar de intermináveis discussões, somos obrigados a reconhecer que o Rottweiler foi vítima de inimigos internos e externos. Externamente foi arrolado muito por culpa de outros molossos, nomeadamente dos anglo-americanos e de alguns latinos, desde há muito responsáveis por ataques a humanos de diferentes escalões etários e normalmente pertença de indivíduos tangentes à base da pirâmide social, de ocupação duvidosa e propósitos pouco dignos, o que levou as sociedades ocidentais a reprimir e a penalizar estes cães, a quem justificadamente identificou e catalogou como perigosos, exigindo em simultâneo alguns requisitos aos seus donos. Mais pelos critérios adoptados do que pelo seu histórico criminal, o Rottweiler acabou por se ver indexado à lista dos cães perigosos.
Os inimigos internos que o Rottweiler encontrou aqui foram vários e de acção devastadora, estamos a falar da inusitada proliferação de criadores da raça baseada na exagerada procura, nomeadamente por ocasião do boom do dinheiro fácil, acontecido logo após a entrada de Portugal na CEE e que levou muitos à aquisição da segunda habitação, gente que de um dia para outro entendeu necessitar também de um guardião, prestando-se o Rottweiler de sobremaneira para esse trabalho. A estes beneficiamentos desajustados, produto de uma selecção arbitrária, vieram juntar-se mercenários que se diziam treinadores e outros com pouca ou nenhuma experiência na raça, que entendiam que o robustecimento do carácter de um cão se remetia exclusivamente em “pô-lo a morder nas estrelas”, a despeito da obediência que impede os ataques instintivos, trava os acidentais e possibilita o controlo de qualquer cão (o Rottweiler é um cão extraordinariamente obediente). Como o aumento do poder de compra não foi secundado por um maior conhecimento da raça, a maioria dos proprietários deste molosso alemão acabou por pôr os seus cães nas mãos de terceiros, recebendo-os e largando-os depois ao redor das suas habitações sem saber como cuidá-los, liderá-los e o que fazer com eles, como sempre fizeram com os rafeiros a que estavam acostumados.
Todo o cão de qualquer raça, quando devidamente equilibrado, tem tanto de anjo como de demónio, porque é simultaneamente dependente e predador, apto para agradar ao dono, ávido de investiduras e louco para apresentar trabalho, muito embora os mais instintivos não sejam tanto assim. E se o comum dos cães é dependente, o seu comportamento sempre espelhará a maior ou menor qualidade da sua liderança, que deverá ajustar-se o mais possível ao seu perfil psicológico. O Rottweiler não é cão meramente instintivo e é rico em personalidade, um cão às ordens do dono que não busca autonomia para além daquela que lhe é estipulada. Por tudo o que dissemos, este excelente cão foi vítima da sua dependência ao ir parar a más mãos e ter sido traído por quem acompanhava, por lhe terem pago com infidelidade a fidelidade que nunca abandonou e por isso continua a ser discriminado e perseguido. O Rottweiler é um cão para todos? Não, não é, e quando o foi, o disparate instalou-se! Mais do que penalizar cães ou raças, importa responsabilizar e capacitar os seus proprietários, exigir-lhes garantias para que não atropelem ou massacrem os restantes cidadãos e o nosso viver democrático.
Hoje, quando raramente vejo um Rottweiler, lembro-me imediatamente dos muitos que me passaram pelas mãos, companheiros dedicados, meigos, pacientes, solícitos, irrepreensivelmente obedientes e aptos para um sem número de tarefas, animais únicos que primaram pela supremacia em relação aos demais. E, quando recordo os cães que mais me surpreenderam pela positiva e com os quais cresci profissionalmente, nesse pequeno grupo de eleitos encontro vários Rottweilers, cujos nomes o tempo não apagou e que dão vida à minha ténue existência. Eu não posso esquecê-los, eles vivem em mim!   

domingo, 23 de outubro de 2016

RESPOSTA AO EMAIL DA PATRÍCIA S. FERREIRA

Acusamos a recepção do email que a Patrícia S. Ferreira nos enviou e agradecemos o teor das suas palavras, esperando continuar a merecer o seu interesse. 

COLOMBIA NECESITA LA PAZ

Esta semana recebemos um contingente de leitores da Colômbia, novidade que nos encheu de alegria por se tratar de um país que raramente nos tem dado leitores. Oxalá esta demanda seja um presságio da paz que a Colômbia e os colombianos há muito merecem. Desejamos que mais colombianos nos visitem e estabeleçam connosco intercâmbio, porque são bem-vindos e trabalhamos também para eles, segundo o nosso ofício e de acordo com o nosso viver global. Sean bienvenidos!

sábado, 22 de outubro de 2016

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O RANKING semanal dos textos mais lidos ficou assim ordenado:
1º _ OS FALSOS PASTORES ALEMÃES, editado em 24/02/2015
2º _ E A PEQUENA BIA ENCONTROU A GRANDE DHARMA!, editado em 18/10/2016
3º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
4º _ DOBERMANN: O CÃO QUE É MENOS DO QUE SE SUPÕE E MAIS DO QUE SE IMAGINA, editado em 06/03/2016
5º _ A CURVA DE CRESCIMENTO DAS DIVERSAS LINHAS DO PASTOR ALEMÃO, editado em 29/08/2013
6º _ PASTORES BELGAS: DIFERENÇAS E CUIDADOS, editado em 20/10/2016
7º _ “SE O CÃO É BOM, A SUA COR NÃO PODE SER RUIM” (Max von Stephanitz), editado em 17/10/2016
8º _ CONVERSAS SOBRE PASTORES ALEMÃES À MESA DO CAFÉ, editado em 09/08/2014
9º _ SERÁ O BOERBOEL UMA BESTA APOCALÍPTICA?, editado em 02/05/2015
10º _ O CÃO LOBEIRO: UM SILVESTRE ENTRE NÓS, editado em 16/10/2009          

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país ficou assim escalonado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Lituânia, 4º Reino Unido, 5º Estados Unidos, 6º Alemanha, 7º Espanha, 8º França, 9º Angola e 10º Moçambique.

COMIDA FRESCA PARA COMBATER O PERNALTISMO E A APATIA

Quando importa combater o pernaltismo nos cachorros (ausência de envergadura) e libertá-los da apatia, a administração de comida fresca surge como o nosso melhor aliado. O pernaltismo, quando não resulta de dietas pobres, é sempre de origem genética, independentemente dessa origem ser física ou psicológica, por serem os progenitores dos cachorros também assim ou por lhes haverem transmitido um fraco impulso ao alimento. Pernaltismo e pouca apetência andam quase sempre de mãos dadas, concorrendo um para o outro, o que reforça a apatia canina, condiciona o crescimento dos cachorros, fragiliza-os e virá a condenar o seu uso. Como se depreende, as alterações fisionómicas fornecidas pela alteração das dietas não se estenderão à sua descendência (muito menos as adiantadas por várias drogas), pelo que os exemplares nascidos pernaltas não deverão ser usados para reprodução por mais excelentes que sejam os seus pretensos companheiros de cópula.
As causas do pernaltismo sempre assentam sobre a má escolha dos progenitores (por perpetuarem o pior que há em si, por ser grande a disparidade da altura entre eles, pelo recurso a exemplares acima do estalão, por serem portadores de fraco impulso ao alimento, por provirem de linhas de criação saturadas, pelo uso abusivo de variedades recessivas e pela vã tentativa de se produzir numa ninhada aquilo que se desprezou para trás).
Como pode a comida fresca combater o pernaltismo e a apatia dele resultante, quando animais assim não primam pela gula e normalmente têm estômagos apertados? Comecemos pelo fim. É sabido que existe uma relação entre o volume do crânio e tamanho do estômago nos cães, facto também comprovado nos animais pernaltos, que invariavelmente apresentam pouco crânios leves. Sabemos também que a comida fresca é mais apelativa que a ração e que um cachorro ao comer mais na sua fase de crescimento virá também a aumentar o seu crânio, devido à plasticidade anatómica que o acompanha nessa fase da vida. Por outro lado, a avidez pela comida fresca levá-lo-á à sua procura e defesa, tornando-se mais atento para o mundo que o rodeia e para quem lhe dá de comer, estabelecendo assim vínculos afectivos mais sólidos com o seu grupo, o que irá facilitar a sua coabitação e uso (o que defenderá um cão mais depressa: um punhado de ração ou um naco de carne?). Sim, a comida fresca suscita a gula nos cães, promove o crescimento equilibrado dos cachorros (a correlação entre o seu tamanho e envergadura) e ainda fortalece o seu carácter.
A que cachorros e em que idade deveremos dar comida fresca? Como prevenção ou debaixo de suspeita, logo após do desmame (obrigação do criador) e sempre que os cachorros se encontrem com um défice de peso igual ou superior a 25% do valor indicado pela curva de crescimento da sua raça. Como a maioria dos criadores não atenta para este pormenor, o que dá muito jeito atendendo à despesa, normalmente a distribuição da comida fresca irá ser feita pelos seus proprietários, o que não causa maiores atrasos, porque o maior pique de crescimento dos cachorros acontece dos 2 para os 4 meses de idade (distribuir comida fresca não implica em desprezar a ração, porque a primeira presta-se como reforço da comida seca).
Até quando daremos comida fresca? Para quem se poder dar ao trabalho e suportar a despesa sempre! Dependendo das raças e das suas diferentes curvas de crescimento, sabendo-se que há umas mais precoces do que outras, passaremos para a distribuição exclusiva da ração entre os 12 e os 18 meses, quando o seu crescimento vertical cessa. Deverão todos os cachorros comer comida fresca? Não. Os cachorros mal aprumados tendentes ou portadores de problemas articulares não deverão consumi-la, porque o aumento de peso só iria agravar os seus defeitos e impropriedades, sucedendo o mesmo aos desarticulados e demasiado côncavos. É evidente que a sua distribuição também se encontra vetada aos obesos, aos cães muito agressivos e aos afectados por várias enfermidades das quais destacamos a insuficiência pancreática exócrina (IPE).
Como tanto a quantidade quanto a qualidade da comida fresca a distribuir se encontram cativas ao particular etário dos indivíduos e à curva de crescimento da sua raça, não podemos aqui adiantar receitas balanceadas universais, o que não nos dispensa, depois de conhecedores dos casos, de adiantarmos a mais conveniente para quem a solicitar. Como a conversa sobre a distribuição da comida fresca tem “pano para mangas”, voltaremos ao assunto quando tal se justificar ou assim entendermos.