Diz-se
que de Espanha “não vem bom vento nem bom casamento” e eu não tenho tanta
certeza disso, mas desconfio de alguns povos à sombra da coroa espanhola pela sua
sobranceria e exagerado chauvinismo. Seria mentiroso se não dissesse que me
revejo nos galegos, que as artes catalãs me fascinam e que a dignidade dos
bascos não pára de me surpreender, muito embora para casar, aconselharia aos
portugueses do Norte em idade casadoura mulheres galegas, leonesas ou
asturianas, o que seria certamente um regresso a casa.
De
Paredes de Coura, Vila e Concelho do Distrito de Viana do Castelo, no Alto
Minho, pouco mais se ouve falar do que o seu Festival musical anual, apesar de
ter muito para se ver dos pontos de vista etnográfico, cultural e paisagístico.
Assim, quando Paredes de Coura vem à baila e salta para os jornais, o que
raramente acontece, é porque algo de extraordinário por lá se passou, como foi
o caso do incêndio de grandes dimensões numa fábrica de plásticos em Formariz,
acontecido a 31 de janeiro último e que queimou 50% daquela unidade industrial.
Esta
semana, inesperadamente, Paredes de Coura saltou para os cabeçalhos dos jornais
e para as notícias televisivas, porque irá ser construída ali a primeira
unidade industrial de vacinas, segundo anunciou a Zendal, empresa de
biotecnologia galega sediada em O Porriño, num comunicado enviado à agência
espanhola Efe, notícia que veio a ser posteriormente confirmada pelo Presidente
da Câmara de Paredes de Coura, que considera aquela fábrica no Concelho “de importância
estratégica para o País” porque “acaba por colmatar uma insuficiência em
Portugal (relativa) à produção de vacinas em massa”.
Os
vínculos sanguíneos, linguísticos e culturais entre galegos e minhotos são tão
profundos que se pode dizer que o Minho se estende pela Galiza e que esta se
espraia até ao Minho, sendo eu mesmo, orgulhosamente, bisneto de um galego.
Tempos houve em que os galegos em Lisboa, depois de terem sido aguadeiros e moços
de fretes, transitaram pràs tabernas e casas de pasto, saltando daí para os
restaurantes pela evolução dos tempos. Mais tarde, acabariam por substituir-se
por minhotos, mantendo-se muitos destes nesta actividade, hoje seriamente
prejudicada pela actual pandemia.
Quer
se goste ou não, Portugal é de certa forma uma invenção galega ou o resultado
de uma sua cisão, a quem Afonso Henriques deu corpo. Antes do coronavírus, quem
visitasse os Concelhos minhotos mais próximos da Galiza, para além de ver
muitos galegos a comer e a fazer compras, via que o intercâmbio entre galegos e
minhotos acontecia como se a fronteira não existisse, não faltando quem
trabalhasse, estudasse, jogasse ou se divertisse no pais um do outro. Infelizmente,
neste contexto pandémico, há muita gente a passar mal e sem saber o que fazer,
porque os seus clientes galegos estão também eles obrigados ao confinamento.
Depois
do que disse sobre a unidade galaico-portuguesa, que é absolutamente natural e
tem sobrevivido ao longo dos séculos (parece que o amor dos portugueses da Galiza
não é totalmente correspondido pelos galegos do Minho, segundo dizem), resta
saber se o modelo de capitalismo liberal que sobre todos governa e os
interesses da unidade industrial de vacinas considerarão ter como clientes
Portugal e os portugueses, o que obviamente seria um bom casamento. Caso
contrário, já não seria assim tão bom, somente benéfico para as famílias
daqueles que forem chamados para trabalhar ali, o que também não é mau de todo,
considerando a riqueza produzida pelo aumento do consumo interno na região.
Oxalá tudo corra bem para a Zendal e para a região. Portugal precisa de mais investimento externo, de muito mais fábricas para efectivar de uma fez por todas a regionalização e promover a descentralização, já que a centralização interessa mais à corrupção e ao compadrio do que ao progresso do País e ao bem-estar da população portuguesa. Faltam-nos empresários e políticos realistas, porque políticos sonhadores temos muitos para exportar, mas que infelizmente só diminuem o nosso PIB, ao invés de aumentá-lo. Oxalá o dinheiro dos fundos europeus destinado a Portugal não acabe por gerar aqui uma crise financeira idêntica à vivida entre 2010 e 2014, que se iniciou como parte da crise financeira global de 2007 e 2008, desenvolvida no contexto da crise da dívida pública na Zona Euro, que acabou por afectar principalmente os países europeus meridionais e a Irlanda. Ainda existe muita gente, infelizmente, que não compreende que sustentar actividades ou serviços não-lucrativos só contribui para o endividamento nacional. Onde irá parar esse dinheiro? Ninguém sabe e eu não quero ser pessimista!
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