Os media francesa que se
dedicam exclusivamente aos animais ou que lhes reservam uma secção, noticiaram
na última Sexta-feira o nascimento de 2 lobos negros do Canadá, 1 macho e uma
fêmea, no LE PARC ALPHA,
santuário de vida selvagem situado no Sul de França, nos Alpes Marítimos
franceses (Riviera/Côte d’Azur), no Parque Nacional Mercantour, entre os 1.500
e os 1.800 metros de altitude, no Maciço de Mercantour. Diga-se a título de
passagem que este santuário tem à disposição dos seus visitantes carruagens
especialmente estudadas para a observação em segurança das 3 alcateias de lobos
ali residentes, que vivem em regime de semiliberdade. Para além dos lobos,
podem também ser observados outros animais, como aves de rapina, camurças e
lebres. Passar lá um dia de terapia custa 150€, uma entrada normal custa 10€ e
o “Pack Família”, que compreende 2 adultos e duas crianças, custa 30€.
Apesar de só agora ter
sido noticiado o nascimento dos dois lobinhos, eles já têm mais de 1 mês de
vida, provavelmente 6 semanas, porque foram agora vacinados pela 1ª vez, ocasião
que os seus responsáveis aproveitaram para medi-los e pesá-los. Ao que consta,
a fêmea é mais pesada que o macho, ela pesa 1.760kg e ele 1.625kg, valores muito
baixos para o esperado de lobos. Como já acompanhei o crescimento de lobos (uma
subvariedade do lobo cinzento) e tenho de cor a sua curva de crescimento, acho
que algo não correu tão bem com estes lobinhos. Por outro lado, é sabido que a
côr negra nos lobos resultou do cruzamento entre eles e os cães, sendo os últimos
responsáveis pela transmissão desta variedade cromática no Canis lupus,
particular que mais aproxima os lobos negros canadianos dos cães no geral,
nomeadamente a sua curva de crescimento e particularidades.
Se tomarmos como
comparação o caso do Cão de Pastor Alemão de linha laboral ou até do Lobo-Checo,
cujas curvas de crescimento diferem muito pouco das encontradas nos lobos, um
exemplar que às 6 semanas pese abaixo dos 4.5kg, é um indivíduo frágil e a
necessitar de especiais cuidados, porque dificilmente, por si mesmo, conseguirá
atingir a robustez desejável, fragilidade que infelizmente irá ter também
indesejáveis repercussões no seu carácter. Por estas razões não aconselhamos
ninguém a comprar um cachorro às 6 semanas com um peso abaixo ao atrás indicado
(4,5kg).
Pondo de parte a
desconsideração dos impulsos herdados na escolha dos reprodutores, a conhecida
e nefasta contribuição da endogamia e da consanguinidade para a fragilidade dos
cachorros e a ausência da melhoria de dietas para as matriarcas, a primeira
coisa a condicionar o desenvolvimento das crias é a qualidade do leite materno,
do qual dependerá o peso encontrado no final do seu primeiro mês de vida. Mesmo
assim, caso o impulso ao alimento presente nos cachorros seja suficiente, eles
irão recuperar assim que começarem a comer, dando um grande salto no seu crescimento
que os aproximará do peso desejável. Entretanto, tal será difícil de suceder se
o desmame for mal feito (arbitrário). Adianta-se que, assim como o imprinting
está para o comportamento futuro dos cães, o desmame está para o seu
desenvolvimento e robustez.
O que teria falhado no Le
Parc Alpha que condicionou o crescimento dos lobinhos negros? O número das
crias poderá ser um indício e ao sê-lo poderá apontar para a precariedade das
dietas à disposição dos reprodutores. A relação território-grupo, devido às
suas implicações sociais, poderá ter também contribuído para o fenómeno. Também
não sabemos se esta foi a primeira ninhada desta loba e qual a sua idade, para aquilatarmos
se incorreu numa gravidez de risco ou não (nas cadelas consideram-se gravidezes
de risco as acontecidas antes dos 2 anos de idade e depois dos 6, ainda que
tudo possa correr bem).
Quer
tenha sido por razões genéticas ou ambientais, certo é que os lobinhos estão
demasiado leves, o que de certa forma descredibiliza a missão e o trabalho do
santuário onde nasceram, ou será que a Direcção deste parque “foi mais papista que
o Papa”, ao ponto de reproduzir a escassez de alimento?
PS: É possível que uma
cadela mal aconchegada de dietas consiga dar bons cães numa primeira ninhada. O
que não é normal é que produza cães de idêntica qualidade pela segunda vez sem
melhoria das dietas, considerando o progressivo aumento da sua fraqueza.
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