Ontem fui com uma aluna
minha comprar brinquedos para o seu jovem cão, um camarada curioso, ávido de
aprender ainda que estarola. Como os donos do cachorro nem faziam ideia da
existência dum “trem de limpeza para cães”, acabei por comprar-lhes também um.
Depois de pagar e referindo-se aos brinquedos recém-adquiridos,
a senhora perguntou-me: “E agora, deixo-lhe lá tudo?”
O despropósito da pergunta,
que já não me surpreende ou irrita por ouvi-la vezes sem conta até se tornar
banal, resulta da ignorância generalizada acerca do propósito dos brinquedos,
que a persistir, impedirá donos e cães dos seus benefícios. Os brinquedos não
são chuchas caninas, substitutos dos ossos para manter os cães entretidos e não
resolvem a “Síndrome da Ansiedade da Separação. Ao invés, são peças de um jogo “para
jogar a dois” e de nada valem quando entregues a um cão que não tem com quem
brincar. Assim, os brinquedos não pertencem ao dono ou ao cão, são pertença de
ambos para melhor comunicarem entre si.
Todas as disciplinas
cinotécnicas têm brinquedos próprios, que funcionando como subsídios de ensino,
tornam os simulacros mais tangentes à realidade e possibilitam o acerto dos
animais nas acções. Neste contexto poderemos também considerar os dummies como
brinquedos, porque entre outras coisas possibilitam os ataques a alvos imóveis
na disciplina de guarda e reproduzem a pessoa ou pessoas a resgatar na
disciplina de resgate e salvamento, quer se encontrem soterradas ou em risco
dentro e fora de água. E isto para já não se falar das mui usadas malas na
procura e detecção das diferentes drogas. Assim, cada disciplina cinotécnica
tem uma “roupagem” própria, brinquedos que estimulam acções, instruem e que substituem
acessórios e alvos, o que nos leva a dizer que, quanto mais brinquedos tiver
uma disciplina, melhor será o seu currículo.
Como já tantas vezes
dissemos, os brinquedos à venda no mercado são versões optimizadas e
industriais (réplicas) doutros criados por pesquisadores e adestradores com um
propósito próprio (cada um tem o seu), invariavelmente ligado aos diferentes
usos dos cães, à sua instrução e desenvolvimento cognitivo. Nem todos os
brinquedos têm um propósito laboral ou operacional, também os há lúdicos,
próprios para a brincadeira entre donos e cães, que são a sua maioria, o que é
fundamental para a recompensa animal e para a sua decorrência - o reforço da
cumplicidade binomial. Vale a pena olhar para os brinquedos com outros olhos e
compreender aquilo que têm para oferecer a donos e cães.
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