segunda-feira, 6 de maio de 2019

A INEVITÁVEL ESPANHOLA E UM KIT DE MÃOS LIVRES

Em matéria de pedagogia as aulas destinadas aos binómios não diferem muito das apropriadas para os humanos, muito embora as fornecidas pela cinotecnia, porque os cães aprendem pela experiência directa, tenham mais “aulas de reposição”, independentemente do método seguido, porque a repetição induz ao reflexo condicionado – ao automatismo das acções. Assim, no Sábado passado, o trabalho incidiu principalmente sobre o comando de “aqui” e sobre a “imobilização à linha”. Como já é tradição por alturas da Semana Santa, as principais cidades portuguesas sofrem uma “invasão espanhola” e ouve-se falar castellano por toda a parte (por vezes català). Agora, com o boom do “aluguer local”, que está a reabilitar as zonas antigas e mais degradadas das várias cidades, as espanholas e os espanhóis andam por cá o ano inteiro. Nós encontramos a da foto acima e sobre ela falaremos mais adiante. Começámos os nossos trabalhos numa área fluvial arborizada, tendo como pano de fundo um barco fundeado na baía.
Quanto ao trabalho proposto, somente o binómio Jorge/Soneca conseguiu realizá-lo, ainda que o fizesse com muita dificuldade e canseira. O binómio Paulo/Bohr rumou para a sombra de uma bananeira (palmeira), onde longe de tudo e todos teria hipoteticamente levado de vencida as tarefas requeridas (o Paulinho esqueceu-se do protector solar). As Doberman, que já venceram o “quieto”, depois de muita insistência da Svetlana, na hora do “aqui” aproveitam a ocasião para “distribuir fruta” a quem passa, quer tenha duas ou quatro pernas, despropósito que as obriga invariavelmente a andar atreladas conforme manda a lei. Dessas frescuras não tem o Labrador Soneca, que vemos na foto abaixo sentado sobre um banco de pedra à beira-rio nas costas do seu dono e condutor.
Mesmo que se negue ou se queira disfarçar, por mais traquejo que tenha um homem, ninguém gosta de ver o seu trabalho condenado ao insucesso, muito embora isso suceda com mais frequência a quem ensina (cada vez é mais difícil leccionar!). Pouco agradado com o trabalho que me foi dado a observar, reparei num velho bebedouro de água pública e pensei imediatamente no portfólio do CPA Bohr, agora que se encontra maduro e apto para copular. Chamei o dono do Soneca e pu-lo ali a beber água como ensaio, mandando depois o Bohr saltá-lo, certo de que o Pastor Alemão o faria sem dificuldades, apesar do chão ser demasiado duro e irregular (a calçada parece ter sido feita pelos Romanos quando andaram por aqui há 2000 anos atrás). Como se pode ver na imagem seguinte, sentada num banco de jardim, uma jovem prepara-se para tirar uma foto do trabalho do cão.
O inesperado interesse daquela moçoila voluptuosa levou-me a interpelá-la, a perguntar-lhe se queria colaborar nos nossos trabalhos. Por brevíssimos momentos mostrou-se receosa, mas mais depressa anuiu, acabando por ir também beber água sem vontade e sentir o Bohr a passar-lhe por cima em voo rasante (a la chica muy guapa le gustó la experiencia).
Só depois do ensaio feito sobre o Jorge e a espanhola, até porque no dia seguinte se celebrava “O Dia da Mãe” e não queríamos ver nenhuma beliscada, é que chamámos a Liliana. Curiosamente o Soneca veio atrás, porque o calor apertava e andava à procura de água, desafio mais que perfeito para poder ser desprezado. Num ápice, o Bohr elevou-se sobre ambos e sobrevoou-os.
Escudado na técnica, confiante no bom desempenho do cão e amparado na experiência, deixei avançar a Nicole (“Nicole Guerreiro” como ela diz), uma menina loura de 4 anos, muito espevitada e que é filha da Liliana e do Jorge. Como era esperado, o cão não lhe tocou e a espanhola lá continuava a tirar fotografias!
Sem nunca lhe ter perguntado como se chamava (perguntei-lhe somente donde tinha vindo), fui buscar a espanhola de novo e constitui-a parte do obstáculo humano a saltar, prometendo-lhe que enviaria as fotos da sua participação por email e que a deixaria conduzir um dos nossos cães (Blaze), promessa que cumpri e que é testemunhada pela foto que introduz este texto, deferências que muito agradeceu.
A acusar o esforço despendido nos trabalhos referentes ao Dia do Trabalhador, ocasião em que trabalhámos arduamente, a Svetlana aproveitou todos os momentos para descansar e para se inteirar de outras obrigações a que se comprometeu, o que a obrigou a sair das aulas mais cedo.
Se conduzir correctamente um cão em liberdade fosse fácil, a lei não obrigaria a condução atrelada de todos os cães na via pública. Não obstante, a condução em liberdade é simultaneamente uma meta e um objectivo para quem deseja adestrar o seu cão. É uma meta para os que pretendem praticar uma modalidade desportiva ou utilidade canina e é um objectivo para quem deseja ter um cão de companhia. Na foto abaixo treina-se para a condução em liberdade e compreende-se quão útil ela pode ser, particularmente quando temos filhos de colo.
O calor que se fez sentir no Sábado não impediu o João Mendonça de se dedicar à Doberman Lupa, animal fiel, decidido e valente, resistente à chantagem emocional e sempre alerta, uma daquelas cadelas cujo maior defeito é não ser nossa.
Numa primeira análise à imagem que segue, parece que estamos na presença de uma aulinha para bebés e papás, eventualmente também para avôs, considerando a protuberância estomacal dos restantes condutores, quando na verdade o que se procura é a condução dos cães em liberdade para facilitar o transporte ao colo das crianças.
Fora do contexto mas a desfilar como um vulgar mecenas na frente duma filarmónica, temos um idoso que conhecemos muito bem, perito em beijos repenicados a senhoras, particularmente às mais novas, indivíduo que invariavelmente fica sem acesso à Internet por ser um adepto fanático de filmes hardcore. Para além disso, lembra um fagote inebriado quando abre a boca, dispensando assim quem o anunciem.
E finalmente temos a Família Guerreiro completa: a Liliana, o Jorge, a Nicole e o Simão, acompanhados pelo Soneca e pelo Blaze, elementos de uma equipa onde todos cumpriram com o seu papel e foram bem-sucedidos na procura de um “Kit de Mãos Livres”.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Adestrador/Bohr; Espanhola/Blaze; João/Lupa; Jorge/Soneca; Liliana/Blaze; Paulo/Bohr e Svetlana/Russa. O Adestrador e o Paulo foram os fotógrafos e não se treinou de tarde. Para a semana há mais. Boa semana de trabalho!

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