terça-feira, 14 de maio de 2019

LIÇÕES DE BRISTOL/MASSACHUSETTS

Tanto a cadeia de televisão Fox News como outras agências noticiosas norte-americanas deram especial enfoque à trágica morte de um adolescente de 14 anos, pretensamente perpetrada por 4 cães de quem cuidava, na noite do passado dia 10, em Rehoboth, no Condado de Bristol, Estado do Massachusetts/US. Os cães, num total de 11, são propriedade de um indivíduo que regularmente se ausenta de casa e que precisa de alguém que trate deles regularmente. O finado adolescente já prestava este serviço há um ano e até então nada de anormal se havia passado.
No fatídico dia 10, quando o proprietário dos cães se encontrava fora, em Boston, a avó do adolescente levou-o de automóvel, por volta das 18 horas locais, àquela propriedade para tratar dos cães. Diante do atraso do adolescente, que já levava uma hora de ausente, quando por norma demorava de 30 a 35 minutos a executar as suas tarefas, a avó ligou aos pais do adolescente e comunicou-lhes a sua estranheza. Estes, por sua vez, ligaram a um vizinho para que desse uma vista de olhos e informasse acerca do que se estava a passar. O vizinho viria a encontrar o rapaz ainda vivo, mas com ferimentos traumáticos em várias áreas do corpo, encontrando-se soltos 3 Pastores Holandeses e 1 Pastor Belga Malinois, que o vizinho acabou por encerrar numa cave (os 7 cães restantes já haviam sido encerrados). Para Thomas Quinn III (na foto abaixo em primeiro plano), promotor público do condado de Bristol, os cães parecem ter sido os únicos responsáveis por aquela escusada morte, animais ilegais que foram depois detidos pelas autoridades para observação e posterior reencaminhamento.
Partindo deste pressuposto, na impossibilidade de qualquer esclarecimento por parte da vítima, que poderá ter ou não contribuído voluntária ou involuntariamente para o fatal desfecho e baseados apenas no que foi noticiado, tentaremos encontrar razões suficientes para o despoletar deste letal ataque canino, para que outros não concorram ou incorram na mesma pena, aprendam a evitá-la e preservem assim a sua vida.
Para além de ser difícil encontrar hoje um teenager com o grau de amadurecimento e responsabilidade para um serviço destes, por maior que seja a sua vontade e gosto de aprender, nenhum deles tem a experiência necessária para lidar sozinho com uma matilha tão extensa, composta por cães territoriais que lhe são alheios e que têm sido altamente aprovados como cães policiais e de guerra (por alguma razão foram adquiridos pelo dono invariavelmente ausente). Claro que há excepções, mas como alguém já disse, servem apenas para confirmar a regra. Por outro lado, é uma tremenda insanidade entregar uma matilha de cães ilegais (não licenciados) aos cuidados de um jovem, ainda que um adulto não estaria em melhores lençóis, sabendo-se do possível descontrolo e agressividade desses animais. E como se isto não bastasse, a juventude não costuma atentar muito para a prudência, preferindo ao invés “andar na corda bamba” e ultrapassar os limites comummente estabelecidos.
De qualquer modo, o jovem cometeu algum erro de segurança. Por que razão não conseguiu encerrar os últimos 4 cães, os 3 Pastores Holandeses e o Pastor Belga Malinois? Teriam oferecido maior resistência? Sentiram-se ameaçados ou provocados? Aperceberam-se do temor do jovem, entenderam-no como presa ou ele temeu tratá-los dentro das suas boxes? Não sabemos! Mas se foram estes cães que o mataram, estamos perante um ataque em matilha, o que não é difícil entre pastores Holandeses e Malinois atendendo principalmente a quatro razões: pertencerem ao mesmo grupo social, dividirem o mesmo território, as raças terem uma origem comum e ao facto dos actuais Pastores Holandeses serem Malinois tigrados, considerando a repetida infusão de sangue Malinois de que têm sido alvo. Perante o ataque de uma matilha animal destas é muito difícil escapar.
Cães com este grau de periculosidade exigem condições próprias ou especiais de tratamento e alojamento, porquanto são cães de guarda tipo, que não se agradam de estranhos, estão sempre atentos a possíveis intrusos e prontos para os escorraçar, mesmo que não tenham sido alvo de algum tipo de treino para isso. Na impossibilidade de ser o seu dono a tratá-los, há que primeiro salvaguardar a integridade física de quem o irá fazer, reduzindo a zero os riscos de confrontação entre o tratador e os cães. Em síntese, o garoto morto ingloriamente foi vítima da ignorância que desconsiderou o seu despreparo, a agressividade daqueles cães e a necessidade de condições de segurança, ignorância que grassa na sociedade norte-americana e que a leva a venerar encantadores de cães. Procederemos nós do mesmo modo? Só se formos tolos e não aprendermos com os erros dos outros. A morte de Ryan Hazel, assim se chamava o garoto, é uma tremenda lição para evitar que outros pereçam na mesma situação.

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