Para combater a
desesperança e procurar evitar pesadelos com o que virá depois, num frémito
aparentemente sem explicação, um homem decide fazer uma escuna à escala e em
fósforos, trabalheira para vários meses que só acaba quando a embarcação estiver
pronta. A partir daí começam os sonhos, a imaginar-se como seria o barco em
tamanho real e os desafios que enfrentaria, uma amálgama de conjecturas que nos
liga à vida e que nos mantém salutarmente entretidos.
Daí a pouco, a realidade
sufoca o sonho e o mundo podre que nos cerca toma conta de nós – o mar já não é
o que era e cada barco que por ele passa ainda lhe traz maior desgraça. Longe
vai o tempo em que era desconhecido e respeitado, em que era cristalino e
generoso em peixe, tempos que não voltam mais e que auguram um triste fim. Não, o
meu barco não irá navegar em mares de plástico, ficará em casa quietinho, de
velas desfraldadas sem ir a lugar nenhum!
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