Há quem coleccione cães
como quem colecciona isqueiros ou outra coisa qualquer, gente que se diz
versada nestes animais por conta do número daqueles que alberga, que por maior
que seja, jamais espelhará a grande variedade presente nos cães, julgando assim
o todo pelo parte e desconhecendo quase em absoluto os que chamou para si.
Infelizmente para os animais, é comum ver-se gente com 2, 3 e até 4 cães,
atrelados ou soltos, a vaguear pelos parques e jardins por curtos espaços de
tempo, em correrias desenfreadas, a perseguir uma bola, a cobiçar o que cada um
come ou à volta dos caixotes do lixo.
Apesar da Lei ordenar que todos os
cães saiam à rua atrelados, independentemente do seu tamanho, raça, género
e idade, neste País de brandos costumes que também afecta os polícias, poucos
são os que respeitam o que lhes é exigido, porque entendem os seus cães
pequenos, bem-comportados ou inofensivos, companheiros que segundo o seu
parecer estão acima da lei, como também se julgam acima da Lei aqueles donos
que sempre se esquecem de apanhar os dejectos dos seus cães, pondo dessa
maneira a saúde pública em risco.
Como a maioria dos cães
nasceu excursionista e foi seleccionada para interagir, somos obrigados a fazer
algumas perguntas incómodas, próprias para quem diz gostar de cães e
preocupar-se com o seu bem-estar. O objectivo da sua elaboração prende-se
exactamente com os direitos que reclamamos para os animais e que não podem ser
dissociados da sua saúde, bem-estar (físico, cognitivo e social), salvaguarda e
longevidade. Sabemos que a esmagadora maioria dos cães (comprados ou adoptados)
passa a maior parte do dia encerrada dentro de apartamentos ou confinada em
pequenos quintais, esperando avidamente o regresso dos seus donos, separação
forçada e enfermidade que já tem uma designação científica: ansiedade da
separação.
Os cães assim destinados, para além do isolamento que não aprovam,
vêem-se também privados da excursão diária com dos donos, caminhada com 5 km de
extensão e com a duração de 1 hora, que não dispensam em abono do seu
sentimento gregário, desempenho interactivo e boa forma física, procedimento
próprio para os cães acima dos 45 cm de altura e dos 15 kg de peso.
Dito isto, o que sobrará
para os desafortunados cães? Duas horas pela manhã com os donos ensonados e
furibundos por temerem chegar atrasados ao emprego ou ao colégio dos filhos?
Outras duas horas à noite onde a atenção que lhes é dada é dividida e
circunstancial? Sobra a árvore ou o local rotineiro requerido para as suas
necessidades fisiológicas! E se isto é já suplício bastante para um cão,
imagine-se sujeitar mais 2 ou 3 ao mesmo degredo. Como antigamente se
cantarolava numa lengalenga: “se um elefante incomoda muita gente, dois
elefantes incomodam muito mais”.
Indiferente a tudo isto, por despeito ou
ignorância, certa gente mantém nestas condições vários cães. Recentemente
conheci um proprietário canino que possuía cinco?! Um homem a quem por ironia
chamei de “maratonista”, apesar de não ultrapassar os 165 cm e pesar mais de
100 kg, criatura que sai à rua munido dum porrete, com os animais embrulhados
uns nos outros, rumo a uns arbustos bem estercados por aquilo que os cães lá
deixam.
Maratonista? – Perguntou-me
ele. Tentando não me rir, respondi-lhe: Sim, maratonista, porque com cinco cães
e passeando o que deve com cada um deles isoladamente, vai chegar ao final de
cada mês com 750 km feitos (25X30), o que o transforma num atleta de alta
competição, capaz de disputar a maratona com os melhores! Não faltam por aí
maratonistas e, enquanto não forem denunciados e alvo de coima, jamais os cães
serão compreendidos e respeitados, já que o desprezo pela caminhada diária com
os cães é a última das fronteiras a obstar ao seu bem-estar.
Para além doutras vantagens, o hábito regular de caminhar diariamente com eles 1 hora acaba por ser um dos melhores subsídios para a saúde e boa forma dos donos. Quer manter-se em forma? Então honre os compromissos que assumiu com o seu cão quando o foi buscar!
Sem comentários:
Enviar um comentário