segunda-feira, 11 de setembro de 2017

NÓS POR CÁ: POR TERRAS DOS CELTAS CURTOS

Este fim-de-semana optámos por visitar o Minho e pernoitámos no Distrito de Viana do Castelo. Visitámos 5 concelhos, 4 nacionais e 1 galego, respectivamente Paredes de Coura, Ponte de Lima, Valença, Vila Nova de Cerveira e Tui, para além de nos determos nas freguesias de Cossourado, Rubiães e Sapardos e de termos assentado arraial no lugar de Antas. Em termos de beleza natural o Minho continua inigualável pelo verde que mantém e pelos rios que o adornam. Do ponto de vista arquitectónico são visíveis algumas diferenças, muito embora não sejam de hoje, já que os solares dos “brasileiros” de outrora (gente que regressava endinheirada do Brasil), cederam lugar às casas dos emigrantes vindos maioritariamente de França, rompendo assim com o desenho e materiais tradicionais, mesmo nos lugares mais recônditos.
Ponte de Lima continua única e linda, agora a braços com as “Feiras Novas”; Paredes de Coura parece perdida no tempo (bem que precisa de mais festivais de verão); Valença fervilha de gente de cá para lá e a luz solar empresta-lhe um carácter idílico à beira de água, o que torna o Rio Minho majestoso; Vila Nova de Cerveira lembra a “Costa do Sol” mas para melhor, porque é ao mesmo tempo paradisíaca e intimista, plena de recantos e de segredos. E quanto a Tui nada a acrescentar, a não ser que é a continuação do Minho no lado galego (espanhol) e que as gentes de um lado e do outro do rio são exactamente as mesmas, gozando entre si de grande amizade e contribuindo ambas para o enriquecimento uma da outra.
Quanto aos minhotos que nos foram dados a observar ali, mais visíveis nas cidades e vilas que nas aldeias, as últimas encontram-se quase desertas a maior parte do ano, sobressai a sua sobriedade e humildade, um carácter por vezes comedido e ao mesmo tempo irreverente que casa na perfeição o sacro com o profano, coisa visível nas romarias que começam graves e solenes e acabam geralmente nos adros das igrejas com bailarinas sensuais e desinibidas bem ao gosto popular (o que é bom é para se ver!). A “reza do terço” é coisa para velhos e os demais são iguais à maioria dos restantes portugueses, que só vão à missa por ocasião de baptizados, casamentos e funerais e também às ditas por alma de alguém, ainda que com menor assiduidade.
Pese embora a sua humildade, esta gente gosta de comer e vestir-se bem (nas feiras encontram-se números grandes, calças até aos 60 cm de cintura), serve quem a visita magnificamente e atende com rara disponibilidade quem a procura, predicados nem sempre visíveis noutros cantos do País e que levam os turistas a regressar ao Minho logo que possam. Antigamente os turistas que se viam nas ruas e restaurantes eram quase todos galegos, agora já se vêem outros e entre eles contámos alemães e franceses, que vermelhos que nem pimentos, alegres tudo depenicavam.
Nas terras onde os celtas acolheram os suevos, contrastando com o passado, o número de gente loura de olhos azuis está a diminuir drasticamente, o que nos parece resultar da extrema mobilidade da população portuguesa, de muitos minhotos residirem e trabalharem noutras áreas do País, no estrangeiro e também devido ao reduzido número de crianças (as escolas da época salazarista encontram-se hoje quase todas encerradas, permanecendo como mausoléu às muitas reguadas que por lá se ouviam). Não obstante, para além dos “Caminhos para Santiago” que são percorridos religiosamente, as tradições continuam vivas e o folclore minhoto continua a dar mostras disso.
E como para nós é um fracasso fazer turismo sem interesse histórico, acabámos por deslocar-nos à freguesia de Cossourado, pertencente ao Concelho de Paredes de Coura, mais propriamente à dita “Cividade de Cossourado”, povoado fortificado (castrejo) construído durante a Idade do Ferro, próprio de uma população que se dedicava à recolecção, à agricultura e à pastorícia e que erigiu distintas edificações, nomeadamente habitações, locais de trabalho, de armazenamento e de recolha para gado. Segundo informações presentes no local, a população que ali viveu dedicava-se também à fiação, à tecelagem, à olaria, à moagem, à pesca e à metalurgia, tudo isto entre os séculos V e II A.C., antes da tomada da região pelas tropas romanas.
Estes nossos antepassados não seriam muito altos a avaliar pela altura das portas das suas habitações, legado que parecem ter perpetuado nos minhotos, em cujo seio se pode ainda ver muita gente baixa, senhoras de 155 a 160 cm e homens de 160 a 165 cm, muito embora as novas gerações sejam bem mais altas e alguns indivíduos ultrapassem largamente os 180 cm. Independentemente do seu tamanho, até porque há quem diga que os homens não se medem aos palmos e tudo leva a crer que tenha razão, não falta aos minhotos força, ambição e destemor, um caminhar alegre e seguro rumo ao futuro, próprio de quem não se contenta e que sempre procura mais. Assim vimos parte do Distrito de Viana do Castelo e haveremos de ir a Viana.
Daqui muito agradecemos a quem nos acompanhou, orientou e serviu de guia turístico.

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