Eles são a presença da Antiguidade
no presente, muitos deles encontram-se indexados às listas dos cães perigosos, são
de forte constituição e o seu tamanho oscila entre o grande e o gigante (também
os há pequenos), têm uma tremenda força de mordedura graças ao formato da
cabeça que proporciona ao conjunto dos seus músculos uma maior contracção e poder
de destruição, também devido à sua arcaria dentária. Na sua maioria são de ossatura
forte e pesada, portadores de uma cabeça maciça (redonda ou em cubo), apresentam
lábios espessos e longos, pescoço musculado, curto e grosso, o corpo maciço e o
peito amplo e arqueado. Chamam-lhes “molossos” por causa do termo “Molóssia”,
advindo geograficamente do Épiro antigo (Grécia Ocidental), onde existia um cão
de pastoreio designado por “Molossus”, que viveu no ano 700 A.C., hoje extinto
e de quem se julga descenderem (há quem adiante que os molossos têm uma tripla
origem sendo descendentes directos do Mastim Tibetano, dos grandes
molossos asiáticos e dos “Canis Pugnax” romano.
Gregos, romanos e assírios
usaram cães idênticos na guerra, muito embora o seu uso mais comum ao longo da
história tenha sido repartido pelas seguintes actividades: protecção de
rebanhos, caça aos lobos e aos ursos e… como cão de arena, onde combatiam contra
gladiadores, várias feras e outros cães. Apesar da sua má fama continuam a ser
amplamente procurados, porque são fiéis, valentes e excelentes protectores.
A título informativo e
antes de abordarmos o tema a que nos propusemos, adiantamos uma lista com as
raças mais conhecidas deste grupo somático canino. São elas: Aidi; Boston
Terrier; Boxer; Broholmer; Bouvier de Appenzel; Bouvier de Entlebuch; Bouvier
da Flandres; Bouvier Suíço; Bulldog Francês; Bulldog Inglês; Bullmastiff; Cane
Corso; Cão da Serra da Estrela; Cão de Castro Laboreiro; Cão de Presa Maiorquino;
Cão dos Pirinéus; Dogue Alemão; Dogue Argentino; Dogue de Bordéus; Dogue
Brasileiro; Fila Brasileiro; Leonberger; Landseer; Mastiff; Mastim Napolitano;
Mastim do Tibete; Pastor do Cáucaso; Presa Canário; Pug; Rafeiro Alentejano;
Rottweiler; São Bernardo; Sharpei; Terra Nova e Tosa (de tantos que são, ainda
falta acrescentar à lista alguns famosos).
Trabalhar (treinar) molossos
não é tão fácil como fazê-lo com lupinos, vulpinos ou bracóides, porque ao
serem mais confiantes que os demais, por força de uma maior autonomia, resistem
por vezes à liderança que lhes é imposta, à divisão de tarefas e à aceitação de
recompensas, na propensão que manifestam em resolver as coisas por modo
próprio, confiantes na sua determinação e força, o que sempre acaba por torná-los
menos solícitos e aparentemente menos propensos para trabalhos que outros
aceitarão à primeira e com agrado.
Nascidos para enfrentar a oposição e os
opositores à sua frente, quando contrariados e logo após o alcance da
maturidade sexual, tendem a ensurdecer-se para as ordens e a desobedecer
sistematicamente, como que incomodados e impróprios para cumprir ordens. Com o
tempo e perante insistência, à medida que crescem e se desenvolvem, poderão
tornar-se agressivos para os seus proprietários, particularmente se os
entenderem como fracos ou iguais, não hesitando inclusive a enfrentá-los, o que
nunca deverá acontecer atendendo ao que virá depois.
Ensinar obediência
estática a molossos, nomeadamente comandos de inacção e travamento, é trabalho
que não rejeitam e que merece a sua imediata aprovação, porque rapidamente
aprendem a ficar quietos, a sentar e a deitar-se pelo tempo julgado necessário,
vantagens advindas da sua valentia e confiança em si próprios, assim como
também da sua autonomia particular. Mas quando se trata de convidá-los para a
obediência dinâmica e capitanear-lhes as acções, mostram-se apáticos e
desinteressados diante do desenvolvimento atlético básico e exigível que viabiliza
o seu uso para além das tarefas ancestrais.
É evidente que existem excepções
rácicas e individuais, diferenças intimamente ligadas aos propósitos que
presidiram às díspares selecções (enquanto os ingleses são mais autónomos,
escolhem os seus passatempos e exigem respeito, os orientais agradecem que não
os aborreçam, mostrando os germânicos maior disponibilidade e cumplicidade que
os peninsulares ou de leste).
No que à sociabilização
canina diz respeito, pese embora o facto dos molossos serem desconsertados e
ingénuos até bem tarde, especialmente os de raça grande ou gigante, há que
haver na idade adulta um cuidado redobrado, mesmo quando sociabilizados desde tenra
idade, porque não verão com bons olhos a sua inserção em matilhas espontâneas
ou heterogéneas, onde estarão presentes diferentes grupos somáticos caninos,
particularmente os lupinos cujo comportamento não entendem, gera-lhes suspeitas
e é causa de desafio.
Por vezes não se agradam da inquietude dos vulpinos e não
estão para suportar os incómodos bracóides. Ao invés, porque não lhes vêem
qualquer ameaça, mostrarão maior empatia e amizade com os cães pequenos que
entendem como indefesos sentinelas, parte do seu grupo a proteger.
Caso não nasçam cobardes e/ou
inibidos, os molossos não se farão rogados em defender os seus donos e
pertences, sendo por norma bons guardiões de habitações, quintas, stands e
estaleiros, desde que as áreas a guardar não excedam os 800 m2, porque não são
tão rápidos como outros e valem mais pela presença ostensiva. No que à
segurança pessoal diz respeito, poucos cães serão superiores a certos molossos,
cujo comportamento lembra em absoluto o desempenho de um competente “Bodyguard”.
Mas se eu não precisar de um cão de guarda ou de um guarda-costas, será que
consigo adaptar o meu molosso para outras actividades ou desportos caninos? Há
quem diga que não, nós dizemos que sim e vamos já dizer como.
Se o seu objectivo é
tornar o seu cão mais saudável, activo, curioso, versátil e cúmplice, inicie o
seu ensino escolar aos 4 meses de idade, seja você mesmo a ensiná-lo, procure
uma escola que ministre aulas colectivas e em cujas classes haja diferentes
grupos somáticos caninos, que tenha um parque de obstáculos variado e rico, que
tenha diferentes disciplinas curriculares e que aposte na capacitação canina a
partir do concurso de diferentes ecossistemas.
Como a maioria dos molossos não
sabe nadar satisfatoriamente, convém que ali o ensinem a nadar, a ocultar-se e
evadir-se, a não denunciara a sua presença e a tirar partido do efeito
surpresa, a desenvolver índices atléticos médio-altos para que tenha saúde e
vida em abundância. Para que isso aconteça com mais celeridade é de suma
importância que treine na companhia de lupinos, com quem competirá em abono da
sua salvaguarda, alcançando requisitos técnicos e técnicas que jamais
alcançaria por si mesmo – um melhor aproveitamento e rendimento da sua
biomecânica.
Aos 4 meses de idade
porquê? Porque importa aproveitar a sua plasticidade física e cognitiva,
desenvolver-lhe a curiosidade e o impulso ao conhecimento, operar a sua
sociabilização pela familiarização e pela experiência feliz, dotá-lo de maior
resistência às amplitudes térmicas e de melhores ritmos vitais. O convite para
os mais diversos obstáculos irá despertar-lhe o prazer pelo exercício físico e equipá-lo
dos músculos necessários à sua envergadura, peso e saúde articular. Através
dessa experiência variada e rica, que seria quase impossível sem o contributo
da mestria e participação de diferentes cães, o seu molosso tornar-se-á num
companheiro sempre presente e disponível para as acções que vier a
solicitar-lhe: em nada inferior aos demais!
É possível que ao
principiar a escola tenha que rebocá-lo mas depois prepare-se, porque vai ter
que arranjar pernas para ele! Deste modo ensinámos com êxito imensos molossos
ao longo de décadas, alguns com mais de 80 kg que venceram toda a sorte de
obstáculos e que nunca se furtaram aos mais diversos desafios, animais ensinados
com o empenho e a paciência que só o amor é capaz de oferecer. A aptidão da
generalidade dos cães sempre espelhará a qualidade dos seus mestres e os
molossos não escapam à regra.
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