terça-feira, 12 de setembro de 2017

COMO FAZER UM MOLOSSO MELHOR

Eles são a presença da Antiguidade no presente, muitos deles encontram-se indexados às listas dos cães perigosos, são de forte constituição e o seu tamanho oscila entre o grande e o gigante (também os há pequenos), têm uma tremenda força de mordedura graças ao formato da cabeça que proporciona ao conjunto dos seus músculos uma maior contracção e poder de destruição, também devido à sua arcaria dentária. Na sua maioria são de ossatura forte e pesada, portadores de uma cabeça maciça (redonda ou em cubo), apresentam lábios espessos e longos, pescoço musculado, curto e grosso, o corpo maciço e o peito amplo e arqueado. Chamam-lhes “molossos” por causa do termo “Molóssia”, advindo geograficamente do Épiro antigo (Grécia Ocidental), onde existia um cão de pastoreio designado por “Molossus”, que viveu no ano 700 A.C., hoje extinto e de quem se julga descenderem (há quem adiante que os molossos têm uma tripla origem sendo descendentes directos do Mastim Tibetano, dos grandes molossos asiáticos e dos “Canis Pugnax” romano. 
Gregos, romanos e assírios usaram cães idênticos na guerra, muito embora o seu uso mais comum ao longo da história tenha sido repartido pelas seguintes actividades: protecção de rebanhos, caça aos lobos e aos ursos e… como cão de arena, onde combatiam contra gladiadores, várias feras e outros cães. Apesar da sua má fama continuam a ser amplamente procurados, porque são fiéis, valentes e excelentes protectores.
A título informativo e antes de abordarmos o tema a que nos propusemos, adiantamos uma lista com as raças mais conhecidas deste grupo somático canino. São elas: Aidi; Boston Terrier; Boxer; Broholmer; Bouvier de Appenzel; Bouvier de Entlebuch; Bouvier da Flandres; Bouvier Suíço; Bulldog Francês; Bulldog Inglês; Bullmastiff; Cane Corso; Cão da Serra da Estrela; Cão de Castro Laboreiro; Cão de Presa Maiorquino; Cão dos Pirinéus; Dogue Alemão; Dogue Argentino; Dogue de Bordéus; Dogue Brasileiro; Fila Brasileiro; Leonberger; Landseer; Mastiff; Mastim Napolitano; Mastim do Tibete; Pastor do Cáucaso; Presa Canário; Pug; Rafeiro Alentejano; Rottweiler; São Bernardo; Sharpei; Terra Nova e Tosa (de tantos que são, ainda falta acrescentar à lista alguns famosos).
Trabalhar (treinar) molossos não é tão fácil como fazê-lo com lupinos, vulpinos ou bracóides, porque ao serem mais confiantes que os demais, por força de uma maior autonomia, resistem por vezes à liderança que lhes é imposta, à divisão de tarefas e à aceitação de recompensas, na propensão que manifestam em resolver as coisas por modo próprio, confiantes na sua determinação e força, o que sempre acaba por torná-los menos solícitos e aparentemente menos propensos para trabalhos que outros aceitarão à primeira e com agrado. 
Nascidos para enfrentar a oposição e os opositores à sua frente, quando contrariados e logo após o alcance da maturidade sexual, tendem a ensurdecer-se para as ordens e a desobedecer sistematicamente, como que incomodados e impróprios para cumprir ordens. Com o tempo e perante insistência, à medida que crescem e se desenvolvem, poderão tornar-se agressivos para os seus proprietários, particularmente se os entenderem como fracos ou iguais, não hesitando inclusive a enfrentá-los, o que nunca deverá acontecer atendendo ao que virá depois.
Ensinar obediência estática a molossos, nomeadamente comandos de inacção e travamento, é trabalho que não rejeitam e que merece a sua imediata aprovação, porque rapidamente aprendem a ficar quietos, a sentar e a deitar-se pelo tempo julgado necessário, vantagens advindas da sua valentia e confiança em si próprios, assim como também da sua autonomia particular. Mas quando se trata de convidá-los para a obediência dinâmica e capitanear-lhes as acções, mostram-se apáticos e desinteressados diante do desenvolvimento atlético básico e exigível que viabiliza o seu uso para além das tarefas ancestrais. 
É evidente que existem excepções rácicas e individuais, diferenças intimamente ligadas aos propósitos que presidiram às díspares selecções (enquanto os ingleses são mais autónomos, escolhem os seus passatempos e exigem respeito, os orientais agradecem que não os aborreçam, mostrando os germânicos maior disponibilidade e cumplicidade que os peninsulares ou de leste).
No que à sociabilização canina diz respeito, pese embora o facto dos molossos serem desconsertados e ingénuos até bem tarde, especialmente os de raça grande ou gigante, há que haver na idade adulta um cuidado redobrado, mesmo quando sociabilizados desde tenra idade, porque não verão com bons olhos a sua inserção em matilhas espontâneas ou heterogéneas, onde estarão presentes diferentes grupos somáticos caninos, particularmente os lupinos cujo comportamento não entendem, gera-lhes suspeitas e é causa de desafio. 
Por vezes não se agradam da inquietude dos vulpinos e não estão para suportar os incómodos bracóides. Ao invés, porque não lhes vêem qualquer ameaça, mostrarão maior empatia e amizade com os cães pequenos que entendem como indefesos sentinelas, parte do seu grupo a proteger.
Caso não nasçam cobardes e/ou inibidos, os molossos não se farão rogados em defender os seus donos e pertences, sendo por norma bons guardiões de habitações, quintas, stands e estaleiros, desde que as áreas a guardar não excedam os 800 m2, porque não são tão rápidos como outros e valem mais pela presença ostensiva. No que à segurança pessoal diz respeito, poucos cães serão superiores a certos molossos, cujo comportamento lembra em absoluto o desempenho de um competente “Bodyguard”. Mas se eu não precisar de um cão de guarda ou de um guarda-costas, será que consigo adaptar o meu molosso para outras actividades ou desportos caninos? Há quem diga que não, nós dizemos que sim e vamos já dizer como.
Se o seu objectivo é tornar o seu cão mais saudável, activo, curioso, versátil e cúmplice, inicie o seu ensino escolar aos 4 meses de idade, seja você mesmo a ensiná-lo, procure uma escola que ministre aulas colectivas e em cujas classes haja diferentes grupos somáticos caninos, que tenha um parque de obstáculos variado e rico, que tenha diferentes disciplinas curriculares e que aposte na capacitação canina a partir do concurso de diferentes ecossistemas. 
Como a maioria dos molossos não sabe nadar satisfatoriamente, convém que ali o ensinem a nadar, a ocultar-se e evadir-se, a não denunciara a sua presença e a tirar partido do efeito surpresa, a desenvolver índices atléticos médio-altos para que tenha saúde e vida em abundância. Para que isso aconteça com mais celeridade é de suma importância que treine na companhia de lupinos, com quem competirá em abono da sua salvaguarda, alcançando requisitos técnicos e técnicas que jamais alcançaria por si mesmo – um melhor aproveitamento e rendimento da sua biomecânica.
Aos 4 meses de idade porquê? Porque importa aproveitar a sua plasticidade física e cognitiva, desenvolver-lhe a curiosidade e o impulso ao conhecimento, operar a sua sociabilização pela familiarização e pela experiência feliz, dotá-lo de maior resistência às amplitudes térmicas e de melhores ritmos vitais. O convite para os mais diversos obstáculos irá despertar-lhe o prazer pelo exercício físico e equipá-lo dos músculos necessários à sua envergadura, peso e saúde articular. Através dessa experiência variada e rica, que seria quase impossível sem o contributo da mestria e participação de diferentes cães, o seu molosso tornar-se-á num companheiro sempre presente e disponível para as acções que vier a solicitar-lhe: em nada inferior aos demais!
É possível que ao principiar a escola tenha que rebocá-lo mas depois prepare-se, porque vai ter que arranjar pernas para ele! Deste modo ensinámos com êxito imensos molossos ao longo de décadas, alguns com mais de 80 kg que venceram toda a sorte de obstáculos e que nunca se furtaram aos mais diversos desafios, animais ensinados com o empenho e a paciência que só o amor é capaz de oferecer. A aptidão da generalidade dos cães sempre espelhará a qualidade dos seus mestres e os molossos não escapam à regra. 

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