quarta-feira, 13 de setembro de 2017

AS CONCLUSÕES DO NEUROCIENTISTA GREGORY BERNS

Todos sabemos que “santos de casa não fazem milagres”, a prová-lo está o sucedido com alguns devotos católicos de Santiago de Compostela que vêm a Fátima à procura de milagres! E isto a respeito de quê? Obviamente acerca dos diferentes métodos usados hoje em dia no adestramento e contra o mais usual, aquele que se vale da distribuição de comida como recompensa para o trabalho realizado pelos cães, método que sempre reprovámos por achá-lo desnecessário e atentatório à salvaguarda dos animais. 
Apesar da nossa relutância, não podemos dizer que nunca nos valemos dele excepcionalmente, coisa que fizemos e voltaremos a fazer com cães cuja carga instintiva, por ser tão exagerada, obste à sua concentração, curiosidade e apreensão, o que equivale a dizer que só nos valemos deste método com último recurso. Esta nossa tomada de posição tornou-se sobejamente conhecida, merecendo a reprovação generalizada de gente do mesmo ofício que, ignorando as nossas razões e movida por sentimentos menos nobres, não nos poupou toda a sorte de críticas e acusações infundadas, interrogações do tipo “quem é este portuguesito para contrariar o que se generalizou por este mundo fora?” e afirmações temerárias como “só pode ensinar os cães à paulada!”.
Um neurocientista da Universidade Emory de Atlanta/US, Greg Berns, valendo-se de exames de ressonância magnética feitos a vários cães e ao scanear os seus cérebros, chegou à conclusão que eles gostam mais de nós do que de comida, relação afectiva até hoje nunca comprovada para além dos primatas. As conclusões do estudo deste neurocientista encontram-se na obra “What It’s Like to Be a Dog” que publicou recentemente. 
A ideia de sujeitar os cães aos exames de ressonância magnética veio-lhe da observação dos cães militares que conseguiam ser transportados em helicópteros barulhentos, como sucedeu ao cão “Cairo”, envolvido na eliminação de Bin Laden. A motivação para desenvolver este trabalho prendeu-se em descobrir o que pensam e sentem os cães, já que pretendia também saber se o seu cão recentemente falecido realmente o amava ou gostava dele apenas pela comida que lhe fornecia. Para levar a cabo os seus testes, Berns viu-se obrigado a trabalhar com um adestrador de Atlanta para poder conduzir os cães facilmente para a máquina e mantê-los quietos. 
Depois de vários simulacros viu o seu esforço recompensado. Outra das conclusões a que chegou foi que os cães têm partes dedicadas do seu cérebro para o processamento de caras, que são de muitas maneiras conectados para processar rostos.
Pela prática e não temos pouca, já havíamos chegado à conclusão que os cães conseguem gostar mais dos seus donos que de comida, porque apesar de necessitarem dela para a sua sobrevivência jamais a alcançariam sem o relacionamento afectuoso com os humanos que a torna possível. Também porque muitos cães desprezam a comida e chegam a morrer à míngua quando os seus donos perecem, havendo outros que são naturalmente incorruptíveis e não há petiscos que os levem a aceitar novas amizades e a desprezar as anteriores. 
Assim sendo, a felicitação e recompensa através de festas ou convites para a brincadeira são ainda mais eficazes que engodá-los. Ainda que ensiná-los através da comida seja mais fácil, o preço a pagar é demasiado elevado, considerando a sua vulnerabilidade à comida e a possibilidade de virem a morrer envenenados como infelizmente sempre acontece. 
Mais, todas as relações interesseiras cessam quando satisfeitas, não sendo por isso incondicionais, particular que obsta à profícua e continuada cumplicidade que procuramos dar aos nossos binómios. Parece que sempre tivemos razão ao responsabilizar os donos e ao despertá-los para o amor que o adestramento não dispensa. 

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