Todos sabemos que “santos
de casa não fazem milagres”, a prová-lo está o sucedido com alguns devotos
católicos de Santiago de Compostela que vêm a Fátima à procura de milagres! E isto
a respeito de quê? Obviamente acerca dos diferentes métodos usados hoje em dia
no adestramento e contra o mais usual, aquele que se vale da distribuição de
comida como recompensa para o trabalho realizado pelos cães, método que sempre
reprovámos por achá-lo desnecessário e atentatório à salvaguarda dos animais.
Apesar da nossa relutância, não podemos dizer que nunca nos valemos dele
excepcionalmente, coisa que fizemos e voltaremos a fazer com cães cuja carga
instintiva, por ser tão exagerada, obste à sua concentração, curiosidade e apreensão,
o que equivale a dizer que só nos valemos deste método com último recurso. Esta
nossa tomada de posição tornou-se sobejamente conhecida, merecendo a reprovação
generalizada de gente do mesmo ofício que, ignorando as nossas razões e movida
por sentimentos menos nobres, não nos poupou toda a sorte de críticas e
acusações infundadas, interrogações do tipo “quem é este portuguesito para
contrariar o que se generalizou por este mundo fora?” e afirmações temerárias
como “só pode ensinar os cães à paulada!”.
Um neurocientista da Universidade
Emory de Atlanta/US, Greg Berns, valendo-se de exames de ressonância magnética
feitos a vários cães e ao scanear os seus cérebros, chegou à conclusão que eles
gostam mais de nós do que de comida, relação afectiva até hoje nunca comprovada
para além dos primatas. As conclusões do estudo deste neurocientista
encontram-se na obra “What It’s Like to Be a Dog” que publicou recentemente.
A
ideia de sujeitar os cães aos exames de ressonância magnética veio-lhe da
observação dos cães militares que conseguiam ser transportados em helicópteros
barulhentos, como sucedeu ao cão “Cairo”, envolvido na eliminação de Bin Laden.
A motivação para desenvolver este trabalho prendeu-se em descobrir o que pensam
e sentem os cães, já que pretendia também saber se o seu cão recentemente
falecido realmente o amava ou gostava dele apenas pela comida que lhe fornecia.
Para levar a cabo os seus testes, Berns viu-se obrigado a trabalhar com um
adestrador de Atlanta para poder conduzir os cães facilmente para a máquina e
mantê-los quietos.
Depois de vários simulacros viu o seu esforço recompensado.
Outra das conclusões a que chegou foi que os cães têm partes dedicadas do seu
cérebro para o processamento de caras, que são de muitas maneiras conectados
para processar rostos.
Pela prática e não temos
pouca, já havíamos chegado à conclusão que os cães conseguem gostar mais dos
seus donos que de comida, porque apesar de necessitarem dela para a sua
sobrevivência jamais a alcançariam sem o relacionamento afectuoso com os
humanos que a torna possível. Também porque muitos cães desprezam a comida e
chegam a morrer à míngua quando os seus donos perecem, havendo outros que são
naturalmente incorruptíveis e não há petiscos que os levem a aceitar novas
amizades e a desprezar as anteriores.
Assim sendo, a felicitação e recompensa
através de festas ou convites para a brincadeira são ainda mais eficazes que
engodá-los. Ainda que ensiná-los através da comida seja mais fácil, o preço a
pagar é demasiado elevado, considerando a sua vulnerabilidade à comida e a
possibilidade de virem a morrer envenenados como infelizmente sempre acontece.
Mais,
todas as relações interesseiras cessam quando satisfeitas, não sendo por isso
incondicionais, particular que obsta à profícua e continuada cumplicidade que
procuramos dar aos nossos binómios. Parece que sempre tivemos razão ao responsabilizar
os donos e ao despertá-los para o amor que o adestramento não dispensa.
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