quarta-feira, 6 de setembro de 2017

NÓS POR CÁ: A CAIXA VERDE CONTRA O SACO AZUL

Ao que tudo indica, parte considerável dos 9 milhões de euros oferecidos para socorrer as vítimas dos incêndios em Pedrogão Grande ainda não chegou aos seus destinatários, como infelizmente já vem sendo hábito em acções de solidariedade deste género, estando retida por tempo indeterminado em instituições há muito estabelecidas entre nós, que dificilmente abrirão mão dela, salvaguardando-a por detrás muita burocracia e papelada. Graças a um conjunto de estratagemas de funcionários diligentes com excesso de zelo ou pouco escrupulosos, muitas das vítimas acabarão como sempre: a chuchar no dedo! Para que a história já gasta do “saco azul” não se repita e haja transparência, quem de direito deverá pedir contas a quem não as quer dar. 
E como sobre todos governa Marcelo Rebelo de Sousa, que politicamente já se manifestou sobre o assunto e bem, deverá ser ele o primeiro fazê-lo, até porque não precisa de sonhar, fingir ou brincar em ser rei, é-o de facto – Marcelo I da II República Portuguesa, um presidente em tudo igual a um monarca em direitos e prerrogativas (os portugueses sentem ainda a falta da figura do rei como garante da unidade nacional e certamente terão razões válidas para isso).
E já que estamos a falar de reis, vêm-nos à memória e a propósito um muito especial – D. Pedro V, 11º Monarca da 4ª Dinastia, filho de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota (D. Fernando II) e da Rainha D.ª Maria II, a quem coube reconciliar o povo com a monarquia depois da trágica guerra civil que o antecedeu, que devastou o país durante 6 anos e que teve como oponentes o seu avô e tio-avô, respectivamente D. Pedro IV (I Imperador do Brasil) e D. Miguel. Segundo reza a história, este monarca dedicou o seu reinado ao povo e foi por ele muito amado. Morreu jovem, apenas com 24 anos, de febre tifóide a 11 de Novembro de 1861, o que provocou uma enorme tristeza em toda a sociedade portuguesa de então (o povo suspeitando que o haviam envenenado veio a amotinar-se). 
O que fez de grandioso o nosso D. Pedro V? Para além de subsidiar do seu próprio bolso o Curso Superior de Letras, de ser um acérrimo defensor da abolição da escravatura, de visitar amiúde os doentes de cólera nos hospitais e de fundar vários, entre eles o Hospital D.ª Estefânia em Lisboa (em memória da sua esposa, a princesa Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen), teve o arrojo de mandar pôr à porta do seu palácio uma caixa verde, cuja chave guardava, para que o seu povo pudesse falar-lhe com franqueza e queixar-se, isto segundo os seus cronistas.
A quem se queixarão hoje as vítimas espoliadas dos incêndios de Pedrogão Grande? Quem ouvirá as suas denúncias e lhes fará justiça? Quem deverá pôr-lhes à disposição uma caixa verde para seu socorro? Quem tudo pode e está acima de qualquer suspeita: o Presidente da República! Ele melhor do que ninguém e ao abrigo dos poderes que lhe foram conferidos pela Constituição da República, deverá fazer tudo ao seu alcance para que os sacos azuis acabem e dêem lugar à “caixa verde”, aproximando de si o povo que o elegeu pelo socorro que lhe presta. Já não haverá governantes como os havia antigamente ou estaremos perante uma epidemia ou pandemia de “farinha do mesmo saco”?

Sem comentários:

Enviar um comentário