Ao que tudo indica, parte considerável
dos 9 milhões de euros oferecidos para socorrer as vítimas dos incêndios em
Pedrogão Grande ainda não chegou aos seus destinatários, como infelizmente já
vem sendo hábito em acções de solidariedade deste género, estando retida por
tempo indeterminado em instituições há muito estabelecidas entre nós, que
dificilmente abrirão mão dela, salvaguardando-a por detrás muita burocracia e
papelada. Graças a um conjunto de estratagemas de funcionários diligentes com
excesso de zelo ou pouco escrupulosos, muitas das vítimas acabarão como sempre:
a chuchar no dedo! Para que a história já gasta do “saco azul” não se repita e
haja transparência, quem de direito deverá pedir contas a quem não as quer dar.
E como sobre todos governa Marcelo Rebelo de Sousa, que politicamente já se manifestou sobre o assunto e bem, deverá ser ele o primeiro fazê-lo, até porque não precisa de
sonhar, fingir ou brincar em ser rei, é-o de facto – Marcelo I da II República
Portuguesa, um presidente em tudo igual a um monarca em direitos e
prerrogativas (os portugueses sentem ainda a falta da figura do rei como
garante da unidade nacional e certamente terão razões válidas para isso).
E já que estamos a falar
de reis, vêm-nos à memória e a propósito um muito especial – D. Pedro V, 11º
Monarca da 4ª Dinastia, filho de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota (D. Fernando
II) e da Rainha D.ª Maria II, a quem coube reconciliar o povo com a monarquia
depois da trágica guerra civil que o antecedeu, que devastou o país durante 6
anos e que teve como oponentes o seu avô e tio-avô, respectivamente D. Pedro IV
(I Imperador do Brasil) e D. Miguel. Segundo reza a história, este monarca dedicou
o seu reinado ao povo e foi por ele muito amado. Morreu jovem, apenas com 24
anos, de febre tifóide a 11 de Novembro de 1861, o que provocou uma enorme
tristeza em toda a sociedade portuguesa de então (o povo suspeitando que o
haviam envenenado veio a amotinar-se).
O que fez de grandioso o nosso D. Pedro V?
Para além de subsidiar do seu próprio bolso o Curso Superior de Letras, de ser
um acérrimo defensor da abolição da escravatura, de visitar amiúde os doentes
de cólera nos hospitais e de fundar vários, entre eles o Hospital D.ª
Estefânia em Lisboa (em memória da sua esposa, a princesa Estefânia de
Hohenzollern-Sigmaringen), teve o arrojo de mandar pôr à porta do seu palácio
uma caixa verde, cuja chave guardava, para que o seu povo pudesse falar-lhe com
franqueza e queixar-se, isto segundo os seus cronistas.
A quem se queixarão hoje
as vítimas espoliadas dos incêndios de Pedrogão Grande? Quem ouvirá as suas denúncias e lhes
fará justiça? Quem deverá pôr-lhes à disposição uma caixa verde para seu
socorro? Quem tudo pode e está acima de qualquer suspeita: o Presidente da
República! Ele melhor do que ninguém e ao abrigo dos poderes que lhe foram
conferidos pela Constituição da República, deverá fazer tudo ao seu alcance para que os sacos azuis acabem e
dêem lugar à “caixa verde”, aproximando de si o povo que o elegeu pelo socorro
que lhe presta. Já não haverá governantes como os havia antigamente ou
estaremos perante uma epidemia ou pandemia de “farinha do mesmo saco”?
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