Ninguém crê que a
transformação do lobo em cão aconteceu num “click”, num abrir e fechar de olhos,
como também ninguém duvida que esse processo foi mais ou menos moroso. Contudo,
ignorava-se até aqui o que mais contribui para essa transformação.
Um estudo
recente da Universidade sueca de Linköping, publicado na revista científica “Hormone
and Behavior”, feito sobre 60 Golden Retrievers, parece ter desvendado esse
segredo ao concluir que a tendência dos cães procurarem o contacto com os donos
está associada a variações genéticas na sensibilidade à oxitocina/ocitocina,
que como é sabido é uma hormona produzida pelo hipotálamo, que liga o sistema
nervoso ao endócrino sintetizando a secreção de neuro-hormonas. Assim e segundo
os pesquisadores do presente estudo, o que torna uns cães mais amigáveis que
outros é a oxitocina hormonal presente nos seus genes.
É a amizade doada pela oxitocina
que leva os cães a pedir ajuda aos seus donos na solução de problemas e que
possibilita o trabalho de equipa com os humanos.
Nos 15.000 anos que leva a
domesticação, os cães desenvolveram uma habilidade única para poderem
complementar os esforços humanos, prestando-se a diferentes usos de acordo com
o seu particular biológico. A mesma variação genética foi também encontrada nos
lobos, facto que sugere a sua presença logo na génese do processo selectivo canino.
Os pesquisadores daquela
Universidade sueca concluíram também que existem grandes diferenças na
disposição de pedir ajuda entre raças e entre indivíduos da mesma raça, que este
pedido de ajuda, ao resultar de uma maior sensibilidade à oxitocina, torna
possível as relações sociais entre indivíduos.
Suspeitávamos há muito da esterilidade
do adestramento sem amor, nunca duvidámos da necessidade de reciprocidade amorosa
nos binómios e calculávamos que no início da selecção do lobo familiar ter-se-ia
optado pelos mais dóceis e cúmplices, por aqueles que se mostrassem mais
sociáveis. É interessante reparar como tudo começou e ver ao que chegámos: no
princípio procurámos os mais dóceis e no final os mais bravos, na génese os que
podíamos ensinar e agora os que dispensam qualquer tipo de ensino, estranho dualismo
este que tanto procura o amigo e como a besta irascível.
Quando atrás transcrevemos
o que estes pesquisadores disseram acerca dos lobos, nomeadamente sobre a
presença de oxitocina hormonal nos seus genes, lembrámo-nos imediatamente de
uma subespécie do Lobo Cinzento, exactamente do Lobo Ibérico (Canis lupus
signatus), uma subespécie do lobo-cinzento que é um verdadeiro amigo e
companheiro, capaz de produzir híbridos de maior valia que outros, como tantas
vezes já dissemos e relembrámos no texto “O
SONHO DO LUPINO PORTUGUÊS E O PERRO LOBO MALLORCAN”,
datado de 18 de Agosto de 2015.
Se foi uma maior sensibilidade/receptividade
à oxitocina que tornou possível o uso dos cães para fim julgado útil, então
podemos depreender que foi a dependência canina que tornou possível o seu
adestramento e não os poucos instintos que ainda possuem, o que torna os cães
mais instintivos próximos dos primitivos, mais autónomos, menos manobráveis e
sobejamente menos curiosos – mais brutos, de menor préstimo e pior adaptados,
características não raramente identificadas nos cães entendidos como
muito-dominantes.
Contrariamente a estes, os
cães que procuram ajuda alcançam mais facilmente a autonomia condicionada,
melhoram substancialmente o seu desempenho com o tempo e o treino, por fazerem
parte de uma equipa que simultaneamente presta especial atenção à sua adaptação
e aposta na melhoria da sua prestação individual.
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