quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O DESPERTAR DA ATENÇÃO E A GUARDA DO LAR

Um bom cão de guarda deverá impedir a entrada de um intruso pela surpresa ou deverá deixá-lo entrar para depois o capturar? Deverá mostrar-se ou avançar dissimulado? Quando só, deverá primeiro avisar da presença do invasor ou barrar-lhe de imediato a entrada sem pré-aviso? Onde deverá ser o animal treinado: num centro próprio para o efeito ou no perímetro que irá defender? Quem deverá conhecer os seus comandos de acção e travamento? Na sua capacitação que tipo de protecções deverão usar as cobaias: mangas e fatos de ataque ou protecções ocultas? A ênfase a dar no seu treino deverá recair sobre a captura dos invasores ou na sua debandada? Na potenciação e localização da mordedura ou nos ataques a vários golpes?
Sabemos que as opiniões dividem-se na resposta a estas questões, que o parecer dos adeptos da guarda desportiva será diametralmente oposto ao daqueles que se dedicam à guarda efectiva, divergência que se compreende pelos seus díspares propósitos. Nós, que nesta matéria não nos dedicamos ao show business e temos como prioridade a salvaguarda dos cães, entendemos que um bom cão de guarda deverá impedir pela surpresa a entrada de um intruso, que deverá avançar para ele dissimulado prontamente e sem aviso. E porquê? Porque a captura é uma luta que o cão pode perder e só o efeito surpresa lhe dará vantagem. Convém não esquecer que os assaltos são agora também perpetrados por indivíduos armados, notoriamente mais violentos e com um conhecimento razoável do modo de actuação canino.
Visando a excelência na capacitação do cão guardião, potenciar o seu sentimento territorial e evitar a delonga entre as fases indutoras e a de instalação, entendemos também que o animal deverá ser, sempre que possível, treinado no perímetro que lhe irá ser confiado, independentemente das fases em que se encontra, porque doutro modo os seus comandos de acção e travamento poderão chegar ao conhecimento de gente indevida (os ladrões também frequentam as escolas caninas e a troco de meia-dúzia de tostões aprendem ali a ludibriar cães). O ataque a mangas e a fatos de ataque, antecedidos pelo concurso dos churros, mal tenham alcançado o seu propósito, deverão ser de imediato trocados por protecções ocultas a colocar nas cobaias, para que os animais não se fixem neles e venham a desinteressar-se dos ladrões, para quem não dá muito jeito assaltar casas com uma manga a tiracolo ou vestir fatos de ataque. À parte disto, é possível desde logo treinar cães com protecções ocultas. 
Se na guarda desportiva a ênfase recai sobre a captura, na guarda real ela deverá privilegiar a expulsão do invasor, para se evitar sempre que possível a confrontação homem-cão, que poderá acontecer pela persistência do primeiro ou pela vantagem do animal experimentada no treino. Nas situações reais mais convém o ataque a vários golpes, que ferem o intruso e não prendem o cão, que fixá-lo num só ponto de mordedura já esperado. E para que tal aconteça, a perseguição que antecede a captura não deve ser desprezada, porque o cão cai sobre o que mexe e não sobre o que lhe é dado a morder.
Uma vez explicadas as diferentes perspectivas sobre a disciplina de guarda, é altura de nos debruçarmos sobre o despertar da atenção nos cães, período da sua vida que antecede a guarda propriamente dita e que acontece nos cachorros em idades diferentes consoante a sua curva de crescimento e grau de maturidade. Como prelúdio ao assunto, adiantamos que não existem cães de guarda sem nada para guardar, apesar de haver alguns que, há falta de melhor, guardam a própria comida e atacam os donos. Todos os cães, quer se destinem à guarda ou não, carecem de um espólio e de bens próprios, dum conjunto de coisas de que se apropriaram e de alguns brinquedos que consideram seus, acessórios normalmente utilizados como percursores e indutores ao trabalho que virão a desenvolver, isto se os seus proprietários souberem usá-los convenientemente, já que importa desenvolver-lhes os sentimentos gregário e territorial e por vezes até alguns instintos.
Nada começa do nada e tudo tem algum princípio. A guarda dos bens do dono, da sua pessoa, do seu agregado familiar, carro e casa, começam pela protecção canina aos seus brinquedos de eleição (os cães são como certos homens, nem a feijões querem perder). A simulação ou tentativa do roubo dos brinquedos, quando repetida e constituída em provocação, é instigação quando baste para despertar no cão a defesa do seu grupo e património. É sabido que se usam outras instigações territoriais e gregárias, normalmente encetadas pelas escolas caninas a partir dos cães ao seu dispor, que constituídos em matilha mais ou menos espontânea, despertam os cães mais novos pelo exemplo dos mais velhos. A tentativa do roubo da comida ou de um osso por um estranho, também se tem mostrado eficaz, muito embora tal estratégia possa virar-se indevidamente contra os donos do animal, pelo que deve se desprezada, mormente se no seu agregado familiar houver crianças.
A partir deste despertar e debaixo de comandos específicos, os cães poderão vigiar, guardar e defender um sem número de objectos, acessórios, máquinas, viaturas, propriedades e pessoas, tanto no seu território como fora dele, e se forem treinados para isso, fá-lo-ão quando aerotransportados para diferentes ecossistemas com igual desempenho, dentro e fora de água. Atempadamente voltaremos a este assunto.

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