Um
bom cão de guarda deverá impedir a entrada de um intruso pela surpresa ou
deverá deixá-lo entrar para depois o capturar? Deverá mostrar-se ou avançar
dissimulado? Quando só, deverá primeiro avisar da presença do invasor ou barrar-lhe
de imediato a entrada sem pré-aviso? Onde deverá ser o animal treinado: num
centro próprio para o efeito ou no perímetro que irá defender? Quem deverá
conhecer os seus comandos de acção e travamento? Na sua capacitação que tipo de
protecções deverão usar as cobaias: mangas e fatos de ataque ou protecções
ocultas? A ênfase a dar no seu treino deverá recair sobre a captura dos
invasores ou na sua debandada? Na potenciação e localização da mordedura ou nos
ataques a vários golpes?
Sabemos
que as opiniões dividem-se na resposta a estas questões, que o parecer dos
adeptos da guarda desportiva será diametralmente oposto ao daqueles que se
dedicam à guarda efectiva, divergência que se compreende pelos seus díspares propósitos.
Nós, que nesta matéria não nos dedicamos ao show business e temos como
prioridade a salvaguarda dos cães, entendemos que um bom cão de guarda deverá
impedir pela surpresa a entrada de um intruso, que deverá avançar para ele
dissimulado prontamente e sem aviso. E porquê? Porque a captura é uma luta que
o cão pode perder e só o efeito surpresa lhe dará vantagem. Convém não esquecer
que os assaltos são agora também perpetrados por indivíduos armados,
notoriamente mais violentos e com um conhecimento razoável do modo de actuação
canino.
Visando
a excelência na capacitação do cão guardião, potenciar o seu sentimento
territorial e evitar a delonga entre as fases indutoras e a de instalação,
entendemos também que o animal deverá ser, sempre que possível, treinado no
perímetro que lhe irá ser confiado, independentemente das fases em que se
encontra, porque doutro modo os seus comandos de acção e travamento poderão
chegar ao conhecimento de gente indevida (os ladrões também frequentam as
escolas caninas e a troco de meia-dúzia de tostões aprendem ali a ludibriar
cães). O ataque a mangas e a fatos de ataque, antecedidos pelo concurso dos
churros, mal tenham alcançado o seu propósito, deverão ser de imediato trocados
por protecções ocultas a colocar nas cobaias, para que os animais não se fixem
neles e venham a desinteressar-se dos ladrões, para quem não dá muito jeito
assaltar casas com uma manga a tiracolo ou vestir fatos de ataque. À parte
disto, é possível desde logo treinar cães com protecções ocultas.
Se
na guarda desportiva a ênfase recai sobre a captura, na guarda real ela deverá
privilegiar a expulsão do invasor, para se evitar sempre que possível a
confrontação homem-cão, que poderá acontecer pela persistência do primeiro ou
pela vantagem do animal experimentada no treino. Nas situações reais mais convém
o ataque a vários golpes, que ferem o intruso e não prendem o cão, que fixá-lo
num só ponto de mordedura já esperado. E para que tal aconteça, a perseguição
que antecede a captura não deve ser desprezada, porque o cão cai sobre o que
mexe e não sobre o que lhe é dado a morder.
Uma
vez explicadas as diferentes perspectivas sobre a disciplina de guarda, é
altura de nos debruçarmos sobre o despertar da atenção nos cães, período da sua
vida que antecede a guarda propriamente dita e que acontece nos cachorros em
idades diferentes consoante a sua curva de crescimento e grau de maturidade.
Como prelúdio ao assunto, adiantamos que não existem cães de guarda sem nada
para guardar, apesar de haver alguns que, há falta de melhor, guardam a própria
comida e atacam os donos. Todos os cães, quer se destinem à guarda ou não,
carecem de um espólio e de bens próprios, dum conjunto de coisas de que se
apropriaram e de alguns brinquedos que consideram seus, acessórios normalmente
utilizados como percursores e indutores ao trabalho que virão a desenvolver,
isto se os seus proprietários souberem usá-los convenientemente, já que importa
desenvolver-lhes os sentimentos gregário e territorial e por vezes até alguns
instintos.
Nada
começa do nada e tudo tem algum princípio. A guarda dos bens do dono, da sua
pessoa, do seu agregado familiar, carro e casa, começam pela protecção canina
aos seus brinquedos de eleição (os cães são como certos homens, nem a feijões
querem perder). A simulação ou tentativa do roubo dos brinquedos, quando repetida
e constituída em provocação, é instigação quando baste para despertar no cão a
defesa do seu grupo e património. É sabido que se usam outras instigações
territoriais e gregárias, normalmente encetadas pelas escolas caninas a partir
dos cães ao seu dispor, que constituídos em matilha mais ou menos espontânea,
despertam os cães mais novos pelo exemplo dos mais velhos. A tentativa do roubo
da comida ou de um osso por um estranho, também se tem mostrado eficaz, muito
embora tal estratégia possa virar-se indevidamente contra os donos do animal,
pelo que deve se desprezada, mormente se no seu agregado familiar houver
crianças.
A
partir deste despertar e debaixo de comandos específicos, os cães poderão
vigiar, guardar e defender um sem número de objectos, acessórios, máquinas,
viaturas, propriedades e pessoas, tanto no seu território como fora dele, e se
forem treinados para isso, fá-lo-ão quando aerotransportados para diferentes
ecossistemas com igual desempenho, dentro e fora de água. Atempadamente
voltaremos a este assunto.
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