Fico com a sensação que os
cães são poliglotas, por força de tanto ouvir ensiná-los em diferentes línguas,
que sendo tão maltratadas pelos donos, lembram-me o actual treinador do
Sporting, Jorge Jesus, quando intenta explicar-se na língua-mãe ou dar
entrevistas em “portuñol”. Mais importante do que a língua é a técnica
utilizada e esta por ser universal, pode até dispensá-la, facto que nos projecta
para a importância da linguagem gestual no adestramento, requisito
indispensável para os binómios que querem evoluir em silêncio, comunicar à
distância ou que se dedicam às disciplinas de guarda e resgate. O assunto
transporta-nos para um inesperado dia de aniversário de um septuagenário nosso
amigo já falecido, homem que incorporou as nossas fileiras com os seus Pastores
Alemães. Vamos à história:
Estávamos no Outono do
último ano do século passado, em meados de Outubro, numa noite húmida e coberta
de neblina, quando decidimos fazer uma surpresa a um amigo nosso, morador num
vilarejo perto de Bucelas. Decididos a cantar-lhe os parabéns, invadimos a sua
propriedade com vinte binómios sem que ele se apercebesse, apesar do seu CPA
ter sinalizado a intrusão, aviso que o dono não considerou e que o levou a
repreendê-lo por julgá-lo a ladrar a gatos. “Cala-te tonto e deixa os gatos em
paz”, disse-lhe ao abrir a porta do quintal. Ainda não tinha virado as costas,
quanto para surpresa sua ouviu um coro a cantar-lhe os parabéns e se apercebeu
que os gatos eram outros!
Esta surpresa jamais seria
possível sem o contributo da linguagem gestual transmitida e assimilada pelos
cães, que evoluindo e estacando em silêncio, “tomaram de assalto” aquele
quintal e surpreenderam o seu proprietário. Cada um que tire as suas conclusões acerca deste relato
verídico.
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