O melhor cachorro do mundo
poderá tornar-se medíocre quando entregue em más mãos, porque é dependente e encontra-se
cativo às suas experiências de vida, que sendo pobres desaproveitarão o seu
potencial e levá-lo-ão a um desempenho menor, o que realça o peso ambiental na
formação dos cachorros. Esta alteração poderá afectá-los aos níveis físico,
psicológico, cognitivo e social como iremos ver. Todos sabemos que os cachorros
aos 4 meses de idade, quando a viver em matilha, seguem os cães adultos e
partem em excursão, iniciando assim as suas lições de vida que influirão no seu
futuro comportamento e desempenho, razões mais que suficientes para iniciar o
treino canino nesta idade.
Um amigo nosso,
inexperiente nestas andanças, adquiriu recentemente um cachorro CPA. Como é
mais contemplativo que dinâmico, porque a vida lhe permite, sai de casa para o
café e de café para casa, sendo acompanhado nesse trajecto melancólico e
rotineiro pelo cachorro que, quando não está em casa, passa horas infindas deitado
debaixo da mesa duma esplanada, invariavelmente a ser importunado por quem
passa, sem o dono se aperceber disso, por se encontrar enleado em conversas de
circunstância com outros. O cachorro que a princípio se mostrava curioso, de um
momento para outro, começou a temer tudo e todos, escondendo-se sempre que
possível debaixo da mesa, resistindo também no treino a permanecer no “quieto”,
figura que a princípio respeitava e que aprendeu com relativa facilidade.
Como os amigos são para as
ocasiões e não vale a pena zangarmo-nos com outros, chamámos aquele dono
inexperiente e descuidado à atenção, alertando-o para o mal que estava a causar
ao seu cachorro, indicando-lhe em simultâneo como proceder. Para além de o
incentivarmos a andar mais tempo com o cachorro atrelado, porque o treino
canino é dinâmico, sugerimos-lhe que, ao invés de o manter a seus pés, o
colocasse uns metros mais à frente sentado e mais próximo de quem por ali passasse,
ainda que debaixo do seu consolo e protecção, para o animal ganhar maior
autonomia, se familiarizar com as pessoas e desenvolver a sua curiosidade, ao
ponto de se aperceber dos hábitos e intenções das gentes à sua volta. Dois ou
três dias depois do dono haver procedido assim, o cachorro voltou a respeitar o
“quieto” na escola, confiante, fixo na pessoa do seu mestre e indiferente às
movimentações ao seu redor.
A superprotecção e o
desapego são atitudes extremadas que só servem para rebentar cachorros, que
tanto podem torná-los rufias como piegas. Adquirir um cachorro é assumir o
compromisso de o criar saudável, forte e confiante, apto para os desafios que
irá encontrar no seu quotidiano, considerando a sua salvaguarda e préstimo.
Andar com um infante de toca em toca (de casa para debaixo da mesa do café), é
atentar contra o seu salutar desenvolvimento físico, cognitivo e social,
estoirar com a sua autonomia, comprometer o seu equilíbrio e uso, alimentar-lhe
medos e inadequá-lo para o mundo ao seu redor. Depois desta lição, todos
sabemos como proceder e percebemos que vale a pena chamar os amigos à atenção.
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