segunda-feira, 21 de novembro de 2016

DE CASA PARA A TOCA NA IDADE DE SAIR

O melhor cachorro do mundo poderá tornar-se medíocre quando entregue em más mãos, porque é dependente e encontra-se cativo às suas experiências de vida, que sendo pobres desaproveitarão o seu potencial e levá-lo-ão a um desempenho menor, o que realça o peso ambiental na formação dos cachorros. Esta alteração poderá afectá-los aos níveis físico, psicológico, cognitivo e social como iremos ver. Todos sabemos que os cachorros aos 4 meses de idade, quando a viver em matilha, seguem os cães adultos e partem em excursão, iniciando assim as suas lições de vida que influirão no seu futuro comportamento e desempenho, razões mais que suficientes para iniciar o treino canino nesta idade.
Um amigo nosso, inexperiente nestas andanças, adquiriu recentemente um cachorro CPA. Como é mais contemplativo que dinâmico, porque a vida lhe permite, sai de casa para o café e de café para casa, sendo acompanhado nesse trajecto melancólico e rotineiro pelo cachorro que, quando não está em casa, passa horas infindas deitado debaixo da mesa duma esplanada, invariavelmente a ser importunado por quem passa, sem o dono se aperceber disso, por se encontrar enleado em conversas de circunstância com outros. O cachorro que a princípio se mostrava curioso, de um momento para outro, começou a temer tudo e todos, escondendo-se sempre que possível debaixo da mesa, resistindo também no treino a permanecer no “quieto”, figura que a princípio respeitava e que aprendeu com relativa facilidade.
Como os amigos são para as ocasiões e não vale a pena zangarmo-nos com outros, chamámos aquele dono inexperiente e descuidado à atenção, alertando-o para o mal que estava a causar ao seu cachorro, indicando-lhe em simultâneo como proceder. Para além de o incentivarmos a andar mais tempo com o cachorro atrelado, porque o treino canino é dinâmico, sugerimos-lhe que, ao invés de o manter a seus pés, o colocasse uns metros mais à frente sentado e mais próximo de quem por ali passasse, ainda que debaixo do seu consolo e protecção, para o animal ganhar maior autonomia, se familiarizar com as pessoas e desenvolver a sua curiosidade, ao ponto de se aperceber dos hábitos e intenções das gentes à sua volta. Dois ou três dias depois do dono haver procedido assim, o cachorro voltou a respeitar o “quieto” na escola, confiante, fixo na pessoa do seu mestre e indiferente às movimentações ao seu redor.
A superprotecção e o desapego são atitudes extremadas que só servem para rebentar cachorros, que tanto podem torná-los rufias como piegas. Adquirir um cachorro é assumir o compromisso de o criar saudável, forte e confiante, apto para os desafios que irá encontrar no seu quotidiano, considerando a sua salvaguarda e préstimo. Andar com um infante de toca em toca (de casa para debaixo da mesa do café), é atentar contra o seu salutar desenvolvimento físico, cognitivo e social, estoirar com a sua autonomia, comprometer o seu equilíbrio e uso, alimentar-lhe medos e inadequá-lo para o mundo ao seu redor. Depois desta lição, todos sabemos como proceder e percebemos que vale a pena chamar os amigos à atenção.

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