Por todos os lugares por
onde que passo, oiço gente a sobrevalorizar os animais em detrimento das
pessoas, indivíduos que chegam a lamentar mais a morte do seu animal que a dos
seus parentes mais próximos, realçando nos primeiros a fidelidade e o
companheirismo que contrastam com a falsidade e indiferença dos humanos. E
nesta toada antropomórfica, todos dizem que trataram ou tratam os seus cães
como ninguém. Se porventura os cães falassem e lhes fosse dada a palavra,
quando questionados acerca da sua vida ao lado dos donos, eles certamente
diriam: “É preciso ter sorte!”.
E é preciso ter sorte
porquê? – Questioná-los-iam. “ Porque nem todos iremos ver respeitados os
nossos elementares direitos, quando somos impedidos de sair à rua, votados ao
isolamento por horas infindas, condenados a rações de má qualidade e sujeitos à
castração (não será a castração um acto de descarado especismo?). E como se
isto nas bastasse, muitos de nós seremos dominados pela ansiedade, arredados da
limpeza diária e sujeitos a banhos dispensáveis, vulneráveis a um sem número de
doenças, privados do nosso viver social, induzidos a taras que podem chegar à
automutilação e ver comprometida a nossa longevidade, apesar de dizerem que nos
estimam convenientemente!” – Diriam.
Mas como os cães não falam
(“comem e calam”), perguntamos nós: Se eventualmente estes donos tratassem os
seus iguais assim (familiares, amigos e colegas), quantos permaneceriam ao seu
lado satisfeitos e felizes? É evidente que cães não são pessoas. Mas gente
assim não gostará mais deles porque se contentam com pouco e não se queixam?
Não será a sua insanidade que os remete para um relacionamento antropomórfico
com os animais? Se não consegue amar os seus iguais, como poderá respeitar os
cães? Amar não será uma permuta? A minha felicidade justificará a infelicidade
dos outros? Há por aí muita gente que espera receber sem ter nada para dar!
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