terça-feira, 29 de novembro de 2016

ELES DIRIAM: É PRECISO TER SORTE!

Por todos os lugares por onde que passo, oiço gente a sobrevalorizar os animais em detrimento das pessoas, indivíduos que chegam a lamentar mais a morte do seu animal que a dos seus parentes mais próximos, realçando nos primeiros a fidelidade e o companheirismo que contrastam com a falsidade e indiferença dos humanos. E nesta toada antropomórfica, todos dizem que trataram ou tratam os seus cães como ninguém. Se porventura os cães falassem e lhes fosse dada a palavra, quando questionados acerca da sua vida ao lado dos donos, eles certamente diriam: “É preciso ter sorte!”.
E é preciso ter sorte porquê? – Questioná-los-iam. “ Porque nem todos iremos ver respeitados os nossos elementares direitos, quando somos impedidos de sair à rua, votados ao isolamento por horas infindas, condenados a rações de má qualidade e sujeitos à castração (não será a castração um acto de descarado especismo?). E como se isto nas bastasse, muitos de nós seremos dominados pela ansiedade, arredados da limpeza diária e sujeitos a banhos dispensáveis, vulneráveis a um sem número de doenças, privados do nosso viver social, induzidos a taras que podem chegar à automutilação e ver comprometida a nossa longevidade, apesar de dizerem que nos estimam convenientemente!” – Diriam.
Mas como os cães não falam (“comem e calam”), perguntamos nós: Se eventualmente estes donos tratassem os seus iguais assim (familiares, amigos e colegas), quantos permaneceriam ao seu lado satisfeitos e felizes? É evidente que cães não são pessoas. Mas gente assim não gostará mais deles porque se contentam com pouco e não se queixam? Não será a sua insanidade que os remete para um relacionamento antropomórfico com os animais? Se não consegue amar os seus iguais, como poderá respeitar os cães? Amar não será uma permuta? A minha felicidade justificará a infelicidade dos outros? Há por aí muita gente que espera receber sem ter nada para dar! 

Sem comentários:

Enviar um comentário