Ninguém
pode afirmar com segurança, atendendo a proto-selecção efectuada no Cão de
Pastor Alemão, que o pêlo comprido se encontra ligado a uma só variedade
cromática, quer ela seja uniforme ou bicolor, porque desde sempre subsistiram exemplares
assim em todas as variedades cromáticas, ainda que em menor número entre os
negros e os lobeiros. A resistência aos CPA negros de pêlo comprido encontrou a
sua justificação na menor curva de crescimento desta variedade recessiva e da
possível confusão com o Pastor Belga Groenendael, que no final do Séc.XIX se encontrava
mais perto do CPA que actualmente. O menor número de lobeiros com o pêlo
comprido ficou a dever-se ao particular desta variedade, que normalmente altera
a sua pelagem de acordo com o relógio biológico, apresentando-se mais fulva nas
estações quentes e mais cinzenta nas frias. Não obstante, raro é o criador de
Pastores Alemães que não aceita o desafio de criar lobeiros de pêlo comprido,
que apesar de menos vistos, são de fácil obtenção e de assinalável beleza.
A
introdução de exemplares de pêlo comprido em linhas de Pastor Alemão de pêlo
duro, estratégia que oferece mais velocidade e melhor capacidade atlética aos
cachorros, para além de lhes melhorar a apresentação e a densidade da cauda, sempre
altera a relação entre a sua altura e peso, designadamente nos cachorros que
nascem de pêlo comprido, que ao chegarem à idade adulta pesarão menos 7.692% que os seus iguais de pêlo
duro. Esta alteração começa a notar-se logo aos 3 meses de idade, quando o seu
peso já se encontra desfasado com a altura. Nestas circunstâncias é normal que
um cachorro se encontre na tabela maior de crescimento em altura e na média em
termos de peso. Devido ao uso generalizado e por vezes arbitrário de Pastores
Alemães de pêlo comprido para a obtenção de exemplares de exposição, a
esmagadora maioria destes apresenta igual défice de peso em relação aos
exemplares destinados ao trabalho.
Tirar-se-ão
imediatamente exemplares de pêlo comprido do beneficiamento entre um progenitor
assim e outro recessivo nesse tipo de pelagem, mesmo que seja de pêlo duro.
Assim, em todas as variedades cromáticas do Cão de Pastor Alemão é possível
encontrar indivíduos de pelo comprido. O valor -7.692 resulta da comprovada
diferença de peso entre dois cães com 65cm de altura, pesando o de pêlo duro 40kg
e o de pêlo comprido 35kg (100x5:65= -7.692%). Ainda que seja possível tirar
exemplares de pêlo comprido em qualquer variedade cromática do CPA, existem
algumas que exigem cuidados especiais se quisermos respeitar a curva de
crescimento da raça e a relação saudável entre a sua altura e envergadura.
Alcançar exemplares preto-afogueados de pelo comprido não exige maiores
cuidados, desde que o exemplar de pelo duro não seja demasiado leve, o que a
acontecer iria perpetuar uma linha de pernaltos.
Já
no que concerne à produção de exemplares de pêlo comprido negros ou fígado
uniformes alguns cuidados há que respeitar, considerando o particular destas duas
variedades precoces, com uma curva de crescimento mais curta e por norma com
uma ossatura mais leve. O exemplar de pêlo comprido a utilizar, para além de ser
recessivo naquelas cores, deverá ter uma cabeça sólida, boa ossatura, ser
comprido e ter um perímetro torácico mínimo de 86cm, porque doutro modo os
cachorros serão muito similares aos encontrados nas ninhadas de Groenendael,
mercê da raiz atávica comum. Há também que escolher a altura certa para se
fazerem as ninhadas, cujo nascimento deverá ocorrer no final do Verão, para que
os cachorros apanhem pela frente as duas estações do ano frias e cresçam mais,
porque se apanharem as mais quentes, bem depressa alcançarão as suas diferentes
maturidades e estabilizarão o seu crescimento, o que não é nada conveniente.
Nesta matéria, o que é verdade para negros e fígado é também para os CPA red
fawn.
A
produção CPA’s brancos de pêlo comprido é a nosso ver desnecessária e
atentatória do bom-nome desta variedade cromática, porque ela é naturalmente
propensa ao gigantismo e grande número dos exemplares brancos de pêlo comprido
apresentam défices de peso, ossatura e envergadura anormais, ainda que costumem
ser atletas de nomeada, evidenciando uma apresentação tangente à encontrada nos
“grasshoppers” (gafanhotos), demasiado leve e pernalta. Para além da escolha
acertada do progenitor para a produção de cachorros brancos, contrariamente ao
que se exige nas restantes cores sólidas, os cachorros brancos deverão apanhar
pela frente as duas estações do ano mais quentes, não dispensando em simultâneo
o enriquecimento das dietas, já que o seu manto repele os raios solares e os
seus benefícios. Também os cruzamentos feitos às escondidas entre a variedade
branca e os exemplares de linha estética da raça é deplorável, porque põe em
risco as mais-valias que o branco carrega para melhorar o Pastor Alemão, uma
vez que não foi objecto das selecções desastrosas que condenam hoje a raça.
Eis-nos
chegados aos lobeiros de pêlo comprido, variedade muito procurada, de rara
beleza e marca de prestígio para quem a cria. A variedade lobeira comum carrega
problemas advindos da proto-selecção (pouca ossatura e porte), não é das mais
comilonas e exige dietas ricas, pelo que nenhum progenitor poderá ser
recomendado se tiver fraco impulso ao alimento, for pernalta e leve de
ossatura, o que não é raro acontecer entre os criadores que criam a variedade
isoladamente (sem o contributo das outras). Um lobeiro robusto deve essa
qualidade à contribuição do preto-afogueado, que naturalmente apresenta melhor
cabeça, envergadura e ossatura, sendo desejável que tenha pelo menos 4/8 da sua
construção nesta variedade cromática. Exceptuando o branco, o lobeiro é a
variedade que apresenta uma curva de crescimento maior, o que não impede que
muitos exemplares sejam pequenos e famélicos, impropriedades que ficam a
dever-se à precariedade das dietas e a uma procura obsessiva por maior
velocidade.
Como
são raros os lobeiros de pêlo comprido, importa primeiro construir um lobeiro
sólido para depois o beneficiar com um exemplar de pêlo longo, exemplar que deverá
pesar no mínimo 36kg, não ser demasiado comprido ou pernalta, possuir uma
crânio volumoso e ossatura forte, não ser demasiadamente estreito de peito,
apresentar bons aprumos, ter um bom perímetro torácico, não ser demasiado
estreito de rim e apresentar uma garupa forte e modelada, porque o cruzamento
arbitral entre lobeiros e indivíduos de pêlo comprido, quando gera lobeiros com
este tipo de pelagem, não traz ao mundo uma prole de encher o olho. No que diz
respeito ao perfil psicológico do cão de pêlo comprido a beneficiar o lobeiro,
importa que tenha bons impulsos herdados ao alimento e ao conhecimento, porque
doutro modo poderá gerar cachorros famélicos e arredios. O facto de um cão ser
de pêlo comprido não o torna melhor que outro de pêlo duro, sucedendo por norma
o contrário.
Lobeiros
de pêlo comprido são animais que exigem dietas ricas, que geralmente não
dispensam a comida fresca e uma dose diária de 750g de carne na fase de
crescimento, que obrigam a um acompanhamento próximo desde tenra idade e que
carecem de espaço para correr e brincar. Diga-se em abono da verdade: ter um
lobeiro de pêlo comprido, que normalmente é alto, com menos de 36kg aos 12
meses de idade é no mínimo deplorável.
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