domingo, 13 de novembro de 2016

-7.692%, O FADO DAS DUAS TABELAS DE CRESCIMENTO NOS CACHORROS CPA DE PÊLO COMPRIDO

Ninguém pode afirmar com segurança, atendendo a proto-selecção efectuada no Cão de Pastor Alemão, que o pêlo comprido se encontra ligado a uma só variedade cromática, quer ela seja uniforme ou bicolor, porque desde sempre subsistiram exemplares assim em todas as variedades cromáticas, ainda que em menor número entre os negros e os lobeiros. A resistência aos CPA negros de pêlo comprido encontrou a sua justificação na menor curva de crescimento desta variedade recessiva e da possível confusão com o Pastor Belga Groenendael, que no final do Séc.XIX se encontrava mais perto do CPA que actualmente. O menor número de lobeiros com o pêlo comprido ficou a dever-se ao particular desta variedade, que normalmente altera a sua pelagem de acordo com o relógio biológico, apresentando-se mais fulva nas estações quentes e mais cinzenta nas frias. Não obstante, raro é o criador de Pastores Alemães que não aceita o desafio de criar lobeiros de pêlo comprido, que apesar de menos vistos, são de fácil obtenção e de assinalável beleza.
A introdução de exemplares de pêlo comprido em linhas de Pastor Alemão de pêlo duro, estratégia que oferece mais velocidade e melhor capacidade atlética aos cachorros, para além de lhes melhorar a apresentação e a densidade da cauda, sempre altera a relação entre a sua altura e peso, designadamente nos cachorros que nascem de pêlo comprido, que ao chegarem à idade adulta pesarão menos 7.692% que os seus iguais de pêlo duro. Esta alteração começa a notar-se logo aos 3 meses de idade, quando o seu peso já se encontra desfasado com a altura. Nestas circunstâncias é normal que um cachorro se encontre na tabela maior de crescimento em altura e na média em termos de peso. Devido ao uso generalizado e por vezes arbitrário de Pastores Alemães de pêlo comprido para a obtenção de exemplares de exposição, a esmagadora maioria destes apresenta igual défice de peso em relação aos exemplares destinados ao trabalho.
Tirar-se-ão imediatamente exemplares de pêlo comprido do beneficiamento entre um progenitor assim e outro recessivo nesse tipo de pelagem, mesmo que seja de pêlo duro. Assim, em todas as variedades cromáticas do Cão de Pastor Alemão é possível encontrar indivíduos de pelo comprido. O valor -7.692 resulta da comprovada diferença de peso entre dois cães com 65cm de altura, pesando o de pêlo duro 40kg e o de pêlo comprido 35kg (100x5:65= -7.692%). Ainda que seja possível tirar exemplares de pêlo comprido em qualquer variedade cromática do CPA, existem algumas que exigem cuidados especiais se quisermos respeitar a curva de crescimento da raça e a relação saudável entre a sua altura e envergadura. Alcançar exemplares preto-afogueados de pelo comprido não exige maiores cuidados, desde que o exemplar de pelo duro não seja demasiado leve, o que a acontecer iria perpetuar uma linha de pernaltos.
Já no que concerne à produção de exemplares de pêlo comprido negros ou fígado uniformes alguns cuidados há que respeitar, considerando o particular destas duas variedades precoces, com uma curva de crescimento mais curta e por norma com uma ossatura mais leve. O exemplar de pêlo comprido a utilizar, para além de ser recessivo naquelas cores, deverá ter uma cabeça sólida, boa ossatura, ser comprido e ter um perímetro torácico mínimo de 86cm, porque doutro modo os cachorros serão muito similares aos encontrados nas ninhadas de Groenendael, mercê da raiz atávica comum. Há também que escolher a altura certa para se fazerem as ninhadas, cujo nascimento deverá ocorrer no final do Verão, para que os cachorros apanhem pela frente as duas estações do ano frias e cresçam mais, porque se apanharem as mais quentes, bem depressa alcançarão as suas diferentes maturidades e estabilizarão o seu crescimento, o que não é nada conveniente. Nesta matéria, o que é verdade para negros e fígado é também para os CPA red fawn.
A produção CPA’s brancos de pêlo comprido é a nosso ver desnecessária e atentatória do bom-nome desta variedade cromática, porque ela é naturalmente propensa ao gigantismo e grande número dos exemplares brancos de pêlo comprido apresentam défices de peso, ossatura e envergadura anormais, ainda que costumem ser atletas de nomeada, evidenciando uma apresentação tangente à encontrada nos “grasshoppers” (gafanhotos), demasiado leve e pernalta. Para além da escolha acertada do progenitor para a produção de cachorros brancos, contrariamente ao que se exige nas restantes cores sólidas, os cachorros brancos deverão apanhar pela frente as duas estações do ano mais quentes, não dispensando em simultâneo o enriquecimento das dietas, já que o seu manto repele os raios solares e os seus benefícios. Também os cruzamentos feitos às escondidas entre a variedade branca e os exemplares de linha estética da raça é deplorável, porque põe em risco as mais-valias que o branco carrega para melhorar o Pastor Alemão, uma vez que não foi objecto das selecções desastrosas que condenam hoje a raça.
Eis-nos chegados aos lobeiros de pêlo comprido, variedade muito procurada, de rara beleza e marca de prestígio para quem a cria. A variedade lobeira comum carrega problemas advindos da proto-selecção (pouca ossatura e porte), não é das mais comilonas e exige dietas ricas, pelo que nenhum progenitor poderá ser recomendado se tiver fraco impulso ao alimento, for pernalta e leve de ossatura, o que não é raro acontecer entre os criadores que criam a variedade isoladamente (sem o contributo das outras). Um lobeiro robusto deve essa qualidade à contribuição do preto-afogueado, que naturalmente apresenta melhor cabeça, envergadura e ossatura, sendo desejável que tenha pelo menos 4/8 da sua construção nesta variedade cromática. Exceptuando o branco, o lobeiro é a variedade que apresenta uma curva de crescimento maior, o que não impede que muitos exemplares sejam pequenos e famélicos, impropriedades que ficam a dever-se à precariedade das dietas e a uma procura obsessiva por maior velocidade.
Como são raros os lobeiros de pêlo comprido, importa primeiro construir um lobeiro sólido para depois o beneficiar com um exemplar de pêlo longo, exemplar que deverá pesar no mínimo 36kg, não ser demasiado comprido ou pernalta, possuir uma crânio volumoso e ossatura forte, não ser demasiadamente estreito de peito, apresentar bons aprumos, ter um bom perímetro torácico, não ser demasiado estreito de rim e apresentar uma garupa forte e modelada, porque o cruzamento arbitral entre lobeiros e indivíduos de pêlo comprido, quando gera lobeiros com este tipo de pelagem, não traz ao mundo uma prole de encher o olho. No que diz respeito ao perfil psicológico do cão de pêlo comprido a beneficiar o lobeiro, importa que tenha bons impulsos herdados ao alimento e ao conhecimento, porque doutro modo poderá gerar cachorros famélicos e arredios. O facto de um cão ser de pêlo comprido não o torna melhor que outro de pêlo duro, sucedendo por norma o contrário.
Lobeiros de pêlo comprido são animais que exigem dietas ricas, que geralmente não dispensam a comida fresca e uma dose diária de 750g de carne na fase de crescimento, que obrigam a um acompanhamento próximo desde tenra idade e que carecem de espaço para correr e brincar. Diga-se em abono da verdade: ter um lobeiro de pêlo comprido, que normalmente é alto, com menos de 36kg aos 12 meses de idade é no mínimo deplorável.

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