quinta-feira, 16 de março de 2023

INSTANTES NA CIDADE

 

Ontem a Maria pregou-me uma partida, porque a pretexto de uma suposta dor num pé, não passeou como devia o Dobby, coisa patente na recepção hostil que o Pastor Alemão me dispensou. O facto de não ter passeado suficientemente na rua, obrigou o cão a regredir, tal qual porca de volta para o seu chiqueiro. Quando não se cumprem os trabalhos de casa, a tendência dos cães é voltar à estaca zero. Não tendo outro remédio, vimo-nos obrigados a fazer no treino o que deveria ter sido feito em casa pela sua sociabilização – uma caminhada de 5 km com o cão entre as gentes e debaixo do buliço citadino. Iniciámos o trabalho num jardim e depressa tivemos que suspendê-lo, porque ao invés de obedecer à dona, o CPA Dobby preferia empoleirar-se nela, manifestando a insegurança própria de quem chega a terra estranha. A foto acima reporta-se a um quadro tirado no jardim e a seguinte mostra um momento da condução em liberdade do Dobby.

Num jardim escondido da cidade, só conhecido por quem mora ao seu redor, simultaneamente frequentado por crianças e cães (mais cães do que crianças), para espanto nosso, descobrimos uma curiosa estátua de bronze com um adulto a ensinar uma criança a andar de bicicleta. Como o Pastor Alemão ainda precisa de afinar o “quieto” e importava ilustrar as actividades, juntou-se o útil ao agradável e pusemos o Dobby a fazer parte daquela estátua.

Há medida que os quilómetros iam avançando, avançava também a sociabilização do Pastor Alemão, alteração que lhe possibilitou a retoma dos conteúdos de ensino anteriormente instalados. O seu comportamento alterou-se de tal maneira que quis interagir com um empregado de café, que dentro de dentro do balcão lhe estendeu a mão.

Ao descermos uma avenida outrora muito bem frequentada, deparámo-nos com um lindo e grande caracol de cerâmica encrustado num banco de azulejos e madeira. À distância e mesmo sem ver, apostei comigo mesmo que já não deveria ter os olhos, o que lamentavelmente se veio a verificar. Para não fazer propaganda a vândalos e encobrir o belo caracol sem “cornichos”, solicitei à Maria que deitasse o seu cão ao lado daquele mutilado molusco gastrópode, acção que serviu também para o Dobby se acostumar ao afastamento da dona.

Debaixo do mesmo propósito e de modo descontraído, também foi pedido ao Pastor Alemão que permanecesse quieto, pelo tempo julgado conveniente, à sombra do reclame de um supermercado aqui muito conhecido, com pessoas, trotinetas e ciclistas a passar na sua frente junto a uma estação de comboios muito movimentada (o cão nem pestanejou de tão atento que estava).

Nestas andanças com cães, também “quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão, neste caso o adestrador, que sem vir preparado, acabou a calcorrear calçadas por amor ao cão. A Maria deseja fazer do Dobby um cão de guarda, muito embora ele já tenha nascido para isso, mas carece de controlá-lo para evitar incidentes desnecessários que se afiguram seriamente dolosos. Neste momento parece mais fácil pôr o Dobby a tocar piano do que fazer a Maria cumprir as suas rotinas enquanto dona (melhores dias virão). No que diz respeito à instrução deste Pastor Alemão, ele está a terminar os rudimentos do curso de obediência para avançar depois para a habilitação que o tornará num zeloso e competente guardião.

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