HERE COMES THE SUN

 

Escolhi o título da canção dos Beatles “HERE COMES THE SUN”, editada em 1969, para a descrição dos trabalhos de ontem com o binómio Maria/Hobby porque o astro-rei iluminou e aqueceu as nossas actividades de tal maneira que parecia estarmos no verão. Por outro lado, não tanto pela influência do sol, mas pelo esforço da Maria, o Dobby recuperou a operacionalidade que havia perdido e cumpriu com sucesso as tarefas que lhe foram sugeridas pela dona. Os trabalhos aconteceram na cidade e procuraram a coabitação harmoniosa do cão com o meio. Como se pode ver na foto acima, logo no início da nossa caminhada pedagógica, deparámo-nos com uma estátua andrógina, não alheia ao Boterismo (1), que lançava dos seus seios água para dentro de um lago, estátua que aproveitámos para enquadrar o CPA Dobby. Como importava que o Pastor obedecesse à ordem de salto da dona e não contrário, ambos foram convidados a exercitar-se sobre uns cubos de pedra alinhados entre si e de distâncias irregulares, conforme se pode ver abaixo.

Simultaneamente apostados em dotar o Dobby de maior autonomia e controlo para sua protecção, da dona e de ambos, foi pedido ao binómio que procedesse à subida de uma escada convencional, tarefa que o cão executou irrepreensivelmente ao avançar na frente da sua condutora, ajudando-a assim a subir.

Também ao descer as escadas com a dona, o cão mostrou idêntico acerto, colocando-se atrás dela para não a precipitar para o solo, servindo-lhe inclusive de amparo e segurança, para que comodamente pudesse descer aquelas escadas.

Dando continuidade ao trabalho efectuado nas escadas e no intuito de reforçar o comando de “à frente”, o Adestrador decidiu exemplificar como fazê-lo à saída de uma passagem subterrânea sucedida por uma rampa.

Foram muitos e variados os momentos em que o Dobby foi conduzido em liberdade pela cidade, sendo também convidado para executar uma simples sequência de obstáculos da mesma forma, evoluindo de um túnel para cima de uma mesa, com a sua dona a fazer a chamada inicial entre os dois obstáculos.

A determinada altura encontrámos uma jovem e simpática mulher sentada num banco de jardim. Perguntei-lhe se tinha medo de cães e ela disse-me que não. Perguntei-lhe então se queria colaborar connosco e, quase sem se dar conta, transformou-se num obstáculo humano para o Pastor transpor. Chama-se Laura, é ruiva e veio da Andaluzia. Perante o meu cepticismo diante de tal alvura, ela adiantou que era “fruto del cruce entre un padre madrileño y una madre andaluza”.

Num lugar bem visível do jardim onde efectuamos o aquecimento do binómio para a prática da ginástica, demos de caras com um pequeno pilar com dois avisos: a obrigatoriedade de andar com os cães à trela, que quase ninguém cumpre e a obrigação de apanhar os dejectos dos cães, o que muita gente esquece. Para melhor ilustrar aqueles dois avisos e realçar a sua importância, decidimos colocar o nosso CPA ao seu lado.

Ainda houve tempo para levar o Dobby até ao multibanco, acção que será repetida amiúde para que possa assegurar a segurança objectiva da sua dona nessas deslocações, devendo permanecer alerta só quando tal lhe for solicitado, perante insuspeita ameaça, em locais mal iluminados e nas horas mortas.

Porque é nosso objectivo ter um cão capaz de acompanhar o dono por toda a parte, ensinámos ontem o Dobby a andar numa porta giratória, novidade que o animal a princípio estranhou, mas a que depressa se acostumou.

Com o calor a apertar e com o binómio a precisar de ser hidratado e supercompensado, dona e cão descansaram por brevíssimos momentos num banco público, tendo como pano de fundo a Monumental Praça de Touros do Campo Pequeno, edifício circular de estilo neo-árabe do final do Séc. XIX que hoje não se presta só a touradas, mas que tem no seu interior uma moderna galeria comercial e um parque de estacionamento subterrâneo, sendo por excelência uma sala de espectáculos multiusos. Não obstante, o que mais sobressai na foto é a reciprocidade carinhosa entre a dona e cão.

Neste fim-de-semana a Maria não vai estar entre nós, vai para Badajoz com gente amiga, cidade onde no passado os portugueses iam comprar caramelos de café e visitar o “EL CORTE INGLÉS”. Desejamos-lhe boa viagem e melhor estadia, que retorne com novo alento para bem valer ao Dobby, merecendo ambos os meus sinceros parabéns pelo trabalho de ontem!

(1)“Boterismo”, relativo ao artista colombiano de arte figurativa Fernando Botero Angulo, cujo estilo é chamado por esse nome, o que lhe dá uma identidade inconfundível, destacando-se nas suas obras figuras rotundas (exageradamente gorduchas), que poderão eventualmente sugerir a estaticidade humana.