quarta-feira, 1 de julho de 2015

BREVES NOÇÕES SOBRE CÃES DETECTORES DE CADÁVERES

Não há nenhuma raça canina superiormente adaptada para este serviço, quase todas poderão fornecer indivíduos capazes para este desempenho e a partir destes poder-se-ão criar outros de igual qualidade, que ficam a dever à genética o seu préstimo, mercê dum olfacto excelente, intimamente ligado à rusticidade, aos instintos de caça e sobrevivência, quando aliados ao equilíbrio dos impulsos ao alimento, movimento e conhecimento, sem os exageros próprios do impulso ao poder, já que os cães farejadores são aproveitados pela sua disponibilidade em servir e pela facilidade com que se constituem em equipa. O seu treino deverá iniciar-se aos 4 meses de idade, não poderá ser apressado e os cães melhor apetrechados estarão prontos aos 2 anos de idade. O método de rastrear cadáveres não difere muito do comummente usado na pistagem, somente o objecto a procurar é outro, baseando-se na procura, detecção e recompensa, permanecendo o cão sentado ao lado do cadáver detectado, sinalizando-o sem o danificar para preservar provas ou evidências. A maioria dos cães destinados à detecção de cadáveres pertencem a associações privadas que trabalham em regime de voluntariado, porque o custo relativo à sua formação não é justificado pela frequência do seu uso, sendo raramente chamados a actuar, o que os torna dispendiosos para as forças da ordem. Detectar cadáveres soterrados ou submersos poderá exigir diferentes cães, havendo-os especializados em cada uma das detecções.
Treinar cães destes não é fácil, porque não sobram cadáveres, apresentam-se com diferentes graus de decomposição e os animais ver-se-ão obrigados a procurar ossos e sangue, num total de 480 compostos voláteis que saem dos corpos em decomposição, ignorando-se até ao momento o montante dos detectáveis pelos cães. Nalguns países já existe para o efeito matéria substituta com esses odores e na sua inexistência os adestradores ver-se-ão obrigados a correr atrás de cataclismos, acidentes e desastres, a servir-se de toda a sorte de animais (mormente os de consumo) e não raramente do seu próprio sangue, por ausência de legislação que suporte e legitime o seu trabalho, carenciado de placenta e sangue humano, uma vez que os cães farejadores de cadáveres exigem ter contacto regular com ele, já que os cadáveres humanos produzem compostos orgânicos voláteis únicos. Mercê destas dificuldades, não se estranha a presença destes binómios junto de qualquer desastre que obrigue à procura de cadáveres, tendo como objecto tanto o treino como a detecção propriamente dita, como aconteceu na “Tragédia de Entre-os-Rios”, aquando da queda da Ponte Hintze Ribeiro, que ocorreu em 04MAR01 e que vitimou 59 pessoas que circulavam num autocarro e em mais 3 viaturas particulares, quando se deslocaram para o local vários binómios holandeses com esses propósitos.
Esta actividade exigirá dos adestradores caninos uma profunda cumplicidade com os seus parceiros, treino aturado, rápida leitura das suas reacções, habilidade na leitura de mapas e GPS, boa preparação física, hábitos de trabalho diários e nocturnos, indiferença à claustrofobia e resistência sensorial e psicológica aos diferentes odores resultantes da decomposição/putrefacção (é necessário estômago). A procura de diferentes ossos (frescos ou secos) torna-se obrigatória, tanto submersos como enterrados, para que o animal possa detectar todos os tipos de mortos em qualquer estado de decomposição, ecossistema, cenário, hora do dia e diferentes condições climatéricas. Escusado será dizer que o brinquedo usado como estímulo para o treino e para o desencadear das acções terá o odor típico do cadáver a procurar.
Este trabalho, de extrema importância para a investigação forense e para que se faça justiça, geralmente desenvolvido em paralelo com as polícias, é uma actividade filantrópica e como tal mal remunerada diante da sua azáfama e custos, que exige raros sacrifícios para que cada um possa finalmente enterrar os seus mortos em paz e dar-lhes sepultura digna, o que infelizmente nem sempre acontece, porque alguns corpos desparecem definitivamente e os cães não são mágicos.

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