Num lugar designado por
Jumpingpound, na auto-estrada que liga o Estado norte-americano de Montana com
a província canadiana de Alberta, entre Banff e Calgary, todas as viaturas que
transportem qualquer tipo de barco são obrigadas a parar e sujeitas a
inspecção, a qualquer hora do dia ou da noite, fiscalização agora reforçada por
três binómios cinotécnicos, para se evitar a entrada naquele território dos
mexilhões zebra e quagga, espécies invasoras de rápida propagação, sem inimigos
naturais, capazes de comprometer a biodiversidade, de provocar desastres
ambientais e avultados prejuízos (existem 13 Postos de Inspecção só na
Província de Alberta). Estima-se, caso os ditos mexilhões ali se instalassem,
que os prejuízos por eles causados poderiam chegar aos 75 000 000 Dólares,
considerando o entupimento dos 8.000km de canais subterrâneos de irrigação e a
destruição dos lagos e cursos de água presentes naquela província canadiana. O
combate preventivo contra estas espécies invasoras, que absorvem os bons
nutrientes presentes nas águas e que só lá deixam porcaria, é também subsidiado
por outras províncias canadianas e estados norte-americanos (Alberta, British
Columbia, Saskatchewan, Idaho, Montana, Oregon e Washington), investindo em
conjunto 6400 mil dólares anuais. Os cães farejadores têm dado conta do recado
e as inspecções têm sido mais breves.
Ao tomarmos conhecimento desta
notícia e das medidas tomadas por canadianos e americanos para combaterem estas
espécies invasoras, lembrámo-nos logo duma que aqui não sofreu qualquer tipo de
combate preventivo e que igualmente causa avultados prejuízos, condena a
biodiversidade, induz à desertificação, danifica arrozais e outras culturas,
destrói represas e vulnerabiliza barragens: o lagostim de rio, uma praga que
assolou os nossos cursos de água e que tem levado à extinção de muitas espécies
aquáticas nativas, graças ao seu um apetite voraz, rápida propagação e à inexistência
de predadores naturais. Sempre fomos mais dados a correr atrás do prejuízo do
que a trabalhar pela prevenção, talvez por isso sejamos mais conformados que
outros e façamos da desgraça uma festança, debaixo da velha máxima: “ainda
podia ser pior” ou “amanhã logo se verá”. Esta sabedoria pacóvia, que vive do
desenrasque e não acautela o futuro, tem vindo historicamente a endividar as
gerações futuras, enraizando tradições que apenas perpetuam a miséria. Uma destas
tradições mais recentes é o “ Festival Gastronómico do Lagostim do Rio”, que se
realiza anualmente em Ferreira do Zêzere, cujo rio já não apresenta os
apreciados e afamados peixes de outrora. E como em tudo somos originais, alguém
adiantou uma solução na internet para o problema dos lagostins: “ se não
podemos vencê-los, vamos comê-los”. Será que a fartura não vai dar em miséria?
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