segunda-feira, 20 de julho de 2015

OS DE ALBERTA TÊM OS OLHOS ABERTOS E OS PORTUGUESES JÁ NÃO AGUENTAM COMER MAIS!

Num lugar designado por Jumpingpound, na auto-estrada que liga o Estado norte-americano de Montana com a província canadiana de Alberta, entre Banff e Calgary, todas as viaturas que transportem qualquer tipo de barco são obrigadas a parar e sujeitas a inspecção, a qualquer hora do dia ou da noite, fiscalização agora reforçada por três binómios cinotécnicos, para se evitar a entrada naquele território dos mexilhões zebra e quagga, espécies invasoras de rápida propagação, sem inimigos naturais, capazes de comprometer a biodiversidade, de provocar desastres ambientais e avultados prejuízos (existem 13 Postos de Inspecção só na Província de Alberta). Estima-se, caso os ditos mexilhões ali se instalassem, que os prejuízos por eles causados poderiam chegar aos 75 000 000 Dólares, considerando o entupimento dos 8.000km de canais subterrâneos de irrigação e a destruição dos lagos e cursos de água presentes naquela província canadiana. O combate preventivo contra estas espécies invasoras, que absorvem os bons nutrientes presentes nas águas e que só lá deixam porcaria, é também subsidiado por outras províncias canadianas e estados norte-americanos (Alberta, British Columbia, Saskatchewan, Idaho, Montana, Oregon e Washington), investindo em conjunto 6400 mil dólares anuais. Os cães farejadores têm dado conta do recado e as inspecções têm sido mais breves.
Ao tomarmos conhecimento desta notícia e das medidas tomadas por canadianos e americanos para combaterem estas espécies invasoras, lembrámo-nos logo duma que aqui não sofreu qualquer tipo de combate preventivo e que igualmente causa avultados prejuízos, condena a biodiversidade, induz à desertificação, danifica arrozais e outras culturas, destrói represas e vulnerabiliza barragens: o lagostim de rio, uma praga que assolou os nossos cursos de água e que tem levado à extinção de muitas espécies aquáticas nativas, graças ao seu um apetite voraz, rápida propagação e à inexistência de predadores naturais. Sempre fomos mais dados a correr atrás do prejuízo do que a trabalhar pela prevenção, talvez por isso sejamos mais conformados que outros e façamos da desgraça uma festança, debaixo da velha máxima: “ainda podia ser pior” ou “amanhã logo se verá”. Esta sabedoria pacóvia, que vive do desenrasque e não acautela o futuro, tem vindo historicamente a endividar as gerações futuras, enraizando tradições que apenas perpetuam a miséria. Uma destas tradições mais recentes é o “ Festival Gastronómico do Lagostim do Rio”, que se realiza anualmente em Ferreira do Zêzere, cujo rio já não apresenta os apreciados e afamados peixes de outrora. E como em tudo somos originais, alguém adiantou uma solução na internet para o problema dos lagostins: “ se não podemos vencê-los, vamos comê-los”. Será que a fartura não vai dar em miséria?
 Não sabemos se o “pessoal” tem menos apetite ou já se fartou dos lagostins do rio, que nada têm para comer, porque o número destes crustáceos da subordem “Astacidea Latreille” não cessa de aumentar no Rio que agora dá água a Lisboa.  Pondo de parte as nossas pequenas misérias, importa referir que as mais-valias caninas também se estendem à detecção de espécies animais e vegetais invasoras, responsáveis por desastres ambientais que ao alterarem os ecossistemas, comprometem ou eliminam a biodiversidade. Os cães de serviço em Alberta foram treinados por métodos em tudo iguais aos usados nos cães de resgate e salvamento, especializando-se depois na detecção de mexilhões. Cada vez mais se estreitam os laços entre a antrozoologia, a zoologia, a biologia, a ecologia, a etologia, a cinologia e a cinotecnia, o que exalta a nossa preocupação com o mundo em que vivemos e a contribuição dos cães para o seu equilíbrio, companheiros sempre presentes ao longo de milénios.  

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