Como se os corvos já não bastassem para aumentar o rosário de penas dos
canicultores, agora temos as gaivotas à perna, aves marítimas que nas últimas
décadas têm vindo a alterar os seus hábitos alimentares, talvez por haver menos
traineiras a fazer-se ao mar e o peixe escassear na foz dos nossos rios e na
orla marítima. Certo é que vemo-las cada vez mais distantes do mar, alimentando-se
em lixeiras, ao redor de matadouros, debicando caixotes do lixo e atacando os
animais domésticos ao seu alcance (patos, pintos, pombos, gatos e cães, entre
outros).
A alteração da sua dieta
tem sido acompanhada pela procura de novos locais para nidificarem, fazendo
agora ninhos nos lugares mais impensáveis e mais perto das nossas habitações
(nos nossos quintais, em anexos, ao redor de janelas, telhados e chaminés),
coabitação que tem levado algumas a atacar pessoas, por sentirem os seus ninhos
e prole ameaçados (nos ataques sobre os humanos tendem a atacar o crânio e a
face).
Pelo que nos tem sido dado
a observar, nenhum lago, capoeira ou canil descobertos estarão a salvo do seu
interesse e cobiça, caso se encontrem num raio de 50Km distantes do mar. Com
facilidade e rara avidez comem pão e ração, restos de comida (batatas fritas e
gelados inclusive), sobras de carne e bolos, não se escusando a debicar as carcaças
de animais que encontrem. Os cães da sua predilecção são os cachorros e os
toys, particularmente os que pesam abaixo dos 5kg, porque são-lhes fáceis de
transportar, muito embora possam atacar, matar e comer outros maiores no local,
quando em bando e sem oposição, o que tornará vulnerável qualquer cachorro por
alturas do desmame. Como se deslocam a terra em grandes bandos, são capazes de
se congregar para se defenderem e atacar milhafres, falcões e águias, facto que
já presenciámos e que podem ser comprovados por várias fotos à disposição na internet.
Somente os corvos dão-lhes
luta, porque avançam também em bando e disputam os mesmos “petiscos”, apesar de
menos vistos nalgumas paragens. Os corvos, que causam os mesmos estragos,
costumam levar vantagem no combate entre ambos, dividindo entre si os cadáveres
dos seus opositores, apesar da luta ser renhida e da vitória depender do número
de cada um deles. Quando o número das gaivotas é muito superior ao dos corvos,
estes evitarão as hostilidades e esperarão que as gaivotas “saiam de cena”.
Alimentar as gaivotas pode
ser uma opção de alto risco e resultar num tremendo disparate, porque a
garantia do alimento levá-las-á a nidificarem mais perto de nós, a aguçar a sua
argúcia, a pilharem o que quiserem e quando lhes der na gana, podendo
atacar-nos a nós, aos nossos filhos, aos pets e às visitas lá de casa, por
avidez de alimento ou por sentirem os seus ninhos ameaçados. Como se depreende
porquê, quando têm crias no ninho, porque são territoriais e altamente
protectoras, o seu apetite torna-se mais voraz e exigente, não hesitando em
entrar na nossa casa e a roubar tudo o que encontrarem, o que para além do
incómodo e da intromissão, resultará numa tremenda falta de higiene, já que
defecam do ar e quando pousadas.
Apesar de ainda pouco
frequentes entre nós mas com tendência para aumentarem, sendo mais incidentes
durante o dia e no Inverno, os ataques das gaivotas sobre pessoas e animais não
deverão ser encarados de ânimo leve, porque geralmente resultam em cabeças
cortadas, abundante sangramento e quedas, podendo delas sobrar alguns ossos
partidos e esporadicamente um acidente cardiovascular, porque atacam
preferencialmente idosos e crianças (algumas delas já viram os seus lábios
rasgados e abertos). Os cães mais pequenos raramente sobrevivem a um ataque de
gaivota, porque entram rapidamente em choque hipovolémico, se não forem
imediatamente socorridos. As gaivotas acostumadas a pedinchar comida, acabam
por roubá-la das mãos das pessoas e a perseguir sacos de plástico e malas, não
poupando também os carteiros. E tudo isto porquê? Porque a sua envergadura e
peso permitem-lhes, quando ávidas ou raivosas, atingir-nos a uma velocidade de
65km/h, o seu dedo traseiro é uma verdadeira lanceta e o seu bico de 5cm
funciona como uma navalha afiada.
Os ataques das gaivotas
costumam acontecer em duas fases: uma primeira em que soltam um pio de alerta a
dois metros de nós, seguida de um bombardeio de vómito e fezes que nos atingirá,
e uma segunda iniciada por um pio de baixa frequência, a do ataque propriamente
dito, em que acabam por nos atingir pela parte de trás da cabeça. Como
prevenção, aconselham-se os canicultores a cobrirem os seus canis de rede, se
tiverem cachorros ou forem criadores de cães miniatura, o que impedirá a
entrada das gaivotas, garantirá a protecção dos cães e impedirá o roubo da
ração. E como estamos no Verão, aconselhamos especial atenção para os
proprietários caninos que diariamente circulam com os seus cães junto à orla
marítima. Caso os seus companheiros de quatro patas sejam pequenos ou cachorros,
melhor será optarem por outros percursos. Não havendo essa possibilidade, devem
mantê-los a seu lado, em movimento ou ao colo e evitar que permaneçam parados
para além de 3 minutos. Em simultâneo e a título de prevenção, porque as
gaivotas há muito que perderam o respeito pelos humanos, os seus donos deverão
sair ataviados com um panamá ou com outro tipo de chapéu.
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