Com a falência das
associações recreativas e culturais da maioria das terriolas, realidade que não
é de hoje, os seus campos de futebol e respectivos balneários acabaram
abandonados e vandalizados, servindo agora alguns de prados e currais para
carneiros, como albergues para flirts, meia dúzia deles como base para os
helicópteros de combate aos incêndios e outros acabaram transformados em centros
de treino caninos, locais preferenciais para quem pretende montar uma escola e
que pouco ou nada tem para investir, aproveitando-se do piso duro e regular
daqueles amplos espaços, que apenas exigem como manutenção o corte cíclico das
ervas. E na inexistência dum campo de futebol desprezado, há quem alugue um
local ermo ou outro à beira de uma estrada por uns míseros patacos, geralmente
à torreira do sol e circundados por rede ovelheira com 1m de altura, vindo
depois a rotulá-los de nomes pomposos em voga. Serão eles os indicados para o
ensino canino?
É evidente que não! Eles
apenas espelham a nossa realidade socioeconómica, a qualidade, disponibilidade
e conhecimento das pessoas adjacentes ao mundo da nossa cinotecnia. Pardieiros
como estes tendem a saturar os cães e a remetê-los para o stress, porque são locais
que jamais escolheriam e que irão comprometer o seu desenvolvimento e sucesso pedagógico,
uma violência diante do fim em vista. Uma escola canina digna desse nome deverá
recriar ou tirar partido de ecossistemas do agrado dos cães, onde constem
árvores, arbustos, lagoas, diferentes pisos e cotas diversas, transformar-se
num paraíso que os liberte da ansiedade, para que ali se sintam bem e os donos
também.
Quando se recria um ambiente destes, estamos a
“apanhar o fio à meada”, a ligar o passado ao presente, a devolver aos cães o
seu habitat ancestral e natural, a ensiná-los em terrenos onde se sentem à
vontade para aprender, surgindo o ecossistema como um importante subsídio de
ensino, já que alegria que demonstram ali irá aumentares-lhes a curiosidade e o
gosto pela descoberta, condições que promoverão o desenvolvimento do seu
impulso ao conhecimento pela experiência feliz. O contacto com a água é uma das
predilecções caninas, o caminhar pelos bosques e florestas é algo que não dispensam
e que avidamente procuram. Os cães não estarão já fartos de confinamento, muros
e cercas de arame? Não terão nascido para a excursão? Paupérrima é a escola que
não tem um pedaço de floresta e uma lagoa ou piscina ao dispor dos seus
instruendos. E porque importa que os cães
gostem de vir para a escola e esta deve apostar no seu bem-estar, onde se
sentirão melhor: num pedaço de terra estéril ou num ecossistema onde a vida
fervilha?
Virá o tempo em que adestradores e arquitectos
paisagistas trabalharão juntos para a edificação de centros de treinos caninos
capazes de melhor responderem às necessidades dos animais, uma vez sanada a
presente crise e retomada a senda do progresso. Entretanto, há que dar os
parabéns à Câmara de Lisboa pela inserção no Jardim Romântico do Campo Grande
duma pista de obstáculos canina, projecto pioneiro que gostaríamos de ver
repetido e melhorado por outras autarquias do País (quando tiverem verba para
isso). Depois do que dissemos e explicámos, o sucesso no adestramento
acontecerá mais facilmente nos ecossistemas do agrado dos cães, naqueles que
lhes devolvem a tranquilidade e o bem-estar. E como morrer por morrer, é
melhor fazê-lo a rir, o que dizer duma escola cercada de rede ovelheira, vazia
de vegetação, fustigada pelo sol e sem sombras, que se alvitra ser anti-stress?
Do que diferirá duma colónia de detenção? Só lhe faltam as marretas para partir
pedra, porque os condenados já lá estão!
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