sábado, 11 de julho de 2015

ONDE ADESTRAR PARA TER MAIS SUCESSO?

Com a falência das associações recreativas e culturais da maioria das terriolas, realidade que não é de hoje, os seus campos de futebol e respectivos balneários acabaram abandonados e vandalizados, servindo agora alguns de prados e currais para carneiros, como albergues para flirts, meia dúzia deles como base para os helicópteros de combate aos incêndios e outros acabaram transformados em centros de treino caninos, locais preferenciais para quem pretende montar uma escola e que pouco ou nada tem para investir, aproveitando-se do piso duro e regular daqueles amplos espaços, que apenas exigem como manutenção o corte cíclico das ervas. E na inexistência dum campo de futebol desprezado, há quem alugue um local ermo ou outro à beira de uma estrada por uns míseros patacos, geralmente à torreira do sol e circundados por rede ovelheira com 1m de altura, vindo depois a rotulá-los de nomes pomposos em voga. Serão eles os indicados para o ensino canino?
É evidente que não! Eles apenas espelham a nossa realidade socioeconómica, a qualidade, disponibilidade e conhecimento das pessoas adjacentes ao mundo da nossa cinotecnia. Pardieiros como estes tendem a saturar os cães e a remetê-los para o stress, porque são locais que jamais escolheriam e que irão comprometer o seu desenvolvimento e sucesso pedagógico, uma violência diante do fim em vista. Uma escola canina digna desse nome deverá recriar ou tirar partido de ecossistemas do agrado dos cães, onde constem árvores, arbustos, lagoas, diferentes pisos e cotas diversas, transformar-se num paraíso que os liberte da ansiedade, para que ali se sintam bem e os donos também.
Quando se recria um ambiente destes, estamos a “apanhar o fio à meada”, a ligar o passado ao presente, a devolver aos cães o seu habitat ancestral e natural, a ensiná-los em terrenos onde se sentem à vontade para aprender, surgindo o ecossistema como um importante subsídio de ensino, já que alegria que demonstram ali irá aumentares-lhes a curiosidade e o gosto pela descoberta, condições que promoverão o desenvolvimento do seu impulso ao conhecimento pela experiência feliz. O contacto com a água é uma das predilecções caninas, o caminhar pelos bosques e florestas é algo que não dispensam e que avidamente procuram. Os cães não estarão já fartos de confinamento, muros e cercas de arame? Não terão nascido para a excursão? Paupérrima é a escola que não tem um pedaço de floresta e uma lagoa ou piscina ao dispor dos seus instruendos. E porque importa que os cães gostem de vir para a escola e esta deve apostar no seu bem-estar, onde se sentirão melhor: num pedaço de terra estéril ou num ecossistema onde a vida fervilha?
Virá o tempo em que adestradores e arquitectos paisagistas trabalharão juntos para a edificação de centros de treinos caninos capazes de melhor responderem às necessidades dos animais, uma vez sanada a presente crise e retomada a senda do progresso. Entretanto, há que dar os parabéns à Câmara de Lisboa pela inserção no Jardim Romântico do Campo Grande duma pista de obstáculos canina, projecto pioneiro que gostaríamos de ver repetido e melhorado por outras autarquias do País (quando tiverem verba para isso). Depois do que dissemos e explicámos, o sucesso no adestramento acontecerá mais facilmente nos ecossistemas do agrado dos cães, naqueles que lhes devolvem a tranquilidade e o bem-estar. E como morrer por morrer, é melhor fazê-lo a rir, o que dizer duma escola cercada de rede ovelheira, vazia de vegetação, fustigada pelo sol e sem sombras, que se alvitra ser anti-stress? Do que diferirá duma colónia de detenção? Só lhe faltam as marretas para partir pedra, porque os condenados já lá estão! 

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