Ao falarmos da
norte-americana Wilma Melville, presidente e fundadora da National Disaster
Search Dog Foundation/ USA, lembramo-nos imediatamente da finada Dorothy
Harrison Eustis (1886-1946), de quem já tratámos em edições anteriores, principal
impulsionadora dos cães-guia de cegos à escala planetária, porque ambas fizeram
da perseverança mote e colocaram as suas vidas ao serviço dos outros, tirando
partido da sua paixão pelos cães. Mas afinal quem é Wilma Melville? Nada mais
que uma septuagenária norte-americana (78 anos), aposentada e ex-professora de
educação física, que retomou o seu contacto de infância com os cães, depois de
haver criado os filhos, decidindo-se a treinar um cão (Murphy) para busca e
salvamento no território sísmico da Califórnia, vindo em 19 de Abril de 1995 a
participar na procura de sobreviventes no centro de Oklahoma City, quando ali
rebentou uma bomba no Edifício Federal Alfred P. Murrah, atentado terrorista
perpetrado pelo americano Timothy McVeigh e do qual resultaram 168 mortos.
Graças a essa experiência
e ao tomar contacto com os binómios que a acompanharam naquela acção, cujos
cães se preocupavam mais com o sítio onde pôr as patas e menos com os possíveis
sobreviventes, depois de descobrir que nos Estados Unidos apenas haviam 15 cães
de busca e salvamento, número bastante inferior ao verificado na minúscula
Suíça, que ao tempo já tinha 52, decidiu dedicar-se corpo e alma a esta
especialidade canina, ambição e projecto que viu concretizados ao fundar a National
Disaster Search Dog Foundation, fundação de carácter humanitário e sem fins
lucrativos. A 11 de Setembro de 2001, Wilma enviou 13 binómios especializados
para os edifícios desmoronados do World Trade Center e graças ao trabalho de
uma estagiária de jornalismo, a trabalhar ao tempo na cadeia de televisão Fox
News, a quem competia digitar os textos de rodapé daquele canal televisivo, os
americanos chegaram ao conhecimento da Prof.ª Wilma, cujo número de telefone apareceu
no pequeno ecrã por 12 horas.
O telefone não parava de tocar (houve necessidade de instalar mais
telefones) e as doações vindas de toda a América não cessavam. Num ápice, Wilma
Melville tinha um milhão de dólares na mão! Curiosamente a cinotécnica nunca
soube o nome daquela estagiária de jornalismo, que devido à sua irreverência,
acabou por contribuir assim para a formação de uma excelente unidade de resgate
apostada em salvar vidas. Daí até hoje, a National Disaster Search Dog
Foundation tem vindo a enviar binómios para todas as partes do mundo, como o
fez este ano no Nepal, aquando do sismo ocorrido a 25 de Abril, ao mandar para
lá 6 equipas cinotécnicas. Wilma, nesta andanças há 15 anos, que se considera
mediana de inteligência, diz que o segredo do seu sucesso ficou a dever-se à
sua inesgotável perseverança, o que a nosso ver não explica a sua rara
clarividência e espírito prático, já que optou por recrutar cães resgatados,
entregá-los aos bombeiros e treiná-los para catástrofes (isto de ser rafeiro
tem muito que se diga, na América alguns encontram pessoas, em Portugal a
maioria perde os testículos).
O maior sonho desta filantropa é montar um grande centro de formação
nacional, aquele que será o primeiro do género nos Estados Unidos, que terá os
mais diferentes simulacros para atender a equipas de busca nacionais e
internacionais, sonho que está em vias de se concretizar num rancho doado à sua
fundação, situado a norte de Los Angeles, a 90 minutos daquela Cidade e com
aproximadamente 50 hectares (eu gostava de lá ir quando estiver pronto e fazer
lá uma formação). Esta preocupação da Sr.ª Melville espelha o cuidado que
dispensa na preparação destes cães, treinando-os arduamente para as tarefas que
os esperam, o que aqui na Europa pouca gente leva a sério. Na foto seguinte
temos uma passerelle de endurance, em tudo idêntica à usada pelos nossos alunos
até 2009, que lembra também a escada de preparação e a memorável passerelle de
linhas (dá para matar saudades, já naquele tempo estávamos na vanguarda).
Resta-nos dar os parabéns à Sr.ª Wilma Melville e desejar-lhe saúde,
longa vida e novos projectos, que bom seria termos por cá uma! E se já nasceu
ou vier a nascer, oxalá não venha a emigrar.
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