terça-feira, 21 de julho de 2015

TOMA LÁ UM CÃO E AMANHA-TE!

Nunca como até agora, os cães foram tão usados como animais de terapia, merecendo nos “States” a designação de “Service Dogs”, considerando os seus múltiplos préstimos junto de doentes, deficientes e incapacitados de vária ordem, sendo cada vez mais usados no combate ao stress pós-traumático dos soldados que regressam das guerras, que por vezes juntam a esse problema psicológico algum tipo de incapacidade física. Há que enaltecer o trabalho de quem selecciona, treina e adapta esses animais para tais fins e saúda-se a sua continuidade, porque esses cães para além de valerem aos donos nas suas tarefas quotidianas, ajudam-nos a vencer a solidão, a apaziguar a revolta e a fazerem as pazes consigo mesmos. Contudo, não resolvem o problema da noiva que se foi, do trabalho que se perdeu e dos sonhos que ficaram por cumprir, a transição abrupta da vida militar para a sociedade civil.
A solução para os problemas desta gente não poderá passar somente por “toma lá um cão e amanha-te”, até porque muitos deles entrarão ciclicamente em depressão, alguns abraçarão a toxicodependência, uns poucos tornar-se-ão anti-sociais e um número menor enveredará pelo suicídio (gradual ou imediato), dependendo isso em grande parte do apoio familiar que obtiverem, não raramente substituído por centros para veteranos, onde alguns destes indivíduos ali permanecerão por tempo ilimitado, diante da impotência das famílias em valer-lhes. A mesma sociedade que elege os políticos e que se sujeita às suas guerras, deverá estar preparada para receber e instalar condignamente os estropiados que delas voltarem, arranjar-lhes um lugar ao sol, onde se sintam úteis e não um fardo, direito que lhes assiste pelo esforço que empreenderam em prol bem-estar colectivo.
É evidente que, quando todas as guerras acabarem, deixaremos de ter este problema! E como há males que vem por bem, como é este o caso, o socorro prestado pelos cães aos veteranos tem-se estendido a um sem número de cidadãos portadores de várias deficiências ou agastados por diversas patologias, gente de todas a as idades que vê a sua vida facilitada pela parceria canina. No entanto, convém não esquecer que a maior autonomia alcançada por estes indivíduos não dispensa a sua inserção ou reintegração social e que a coabitação exclusiva com os cães poderá agravará ainda mais o seu isolamento.
Os cães poderão ajudar na integração social dos indivíduos seus portadores? Sem dúvida! Mas esse contributo jamais será válido se a sociedade não se prontificar em ajudá-los e os deficientes nada fizerem para isso. Os cães sempre farão a sua parte e desempenharão o seu papel irrepreensivelmente, porque são leais e foram seleccionados e treinados para a função, os homens vivem mais e demoram mais tempo para aprenderem a amar-se uns aos outros. Diante dos flagelos que a humanidade tem causado a si mesma, uma verdade se agiganta: os cães depressa aprendem com os seus erros e os homens não se cansam de repeti-los. 

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