Nunca como até agora, os
cães foram tão usados como animais de terapia, merecendo nos “States” a
designação de “Service Dogs”, considerando os seus múltiplos préstimos junto de
doentes, deficientes e incapacitados de vária ordem, sendo cada vez mais usados
no combate ao stress pós-traumático dos soldados que regressam das guerras, que
por vezes juntam a esse problema psicológico algum tipo de incapacidade física.
Há que enaltecer o trabalho de quem selecciona, treina e adapta esses animais
para tais fins e saúda-se a sua continuidade, porque esses cães para além de
valerem aos donos nas suas tarefas quotidianas, ajudam-nos a vencer a solidão,
a apaziguar a revolta e a fazerem as pazes consigo mesmos. Contudo,
não resolvem o problema da noiva que se foi, do trabalho que se perdeu e dos
sonhos que ficaram por cumprir, a transição abrupta da vida militar para a
sociedade civil.
A solução para os
problemas desta gente não poderá passar somente por “toma lá um cão e
amanha-te”, até porque muitos deles entrarão ciclicamente em depressão, alguns
abraçarão a toxicodependência, uns poucos tornar-se-ão anti-sociais e um número
menor enveredará pelo suicídio (gradual ou imediato), dependendo isso em grande
parte do apoio familiar que obtiverem, não raramente substituído por centros
para veteranos, onde alguns destes indivíduos ali permanecerão por tempo
ilimitado, diante da impotência das famílias em valer-lhes. A mesma sociedade
que elege os políticos e que se sujeita às suas guerras, deverá estar preparada
para receber e instalar condignamente os estropiados que delas voltarem,
arranjar-lhes um lugar ao sol, onde se sintam úteis e não um fardo, direito que
lhes assiste pelo esforço que empreenderam em prol bem-estar colectivo.
É evidente que, quando
todas as guerras acabarem, deixaremos de ter este problema! E como há males que
vem por bem, como é este o caso, o socorro prestado pelos cães aos veteranos
tem-se estendido a um sem número de cidadãos portadores de várias deficiências
ou agastados por diversas patologias, gente de todas a as idades que vê a sua
vida facilitada pela parceria canina. No entanto, convém não esquecer que a
maior autonomia alcançada por estes indivíduos não dispensa a sua inserção ou reintegração
social e que a coabitação exclusiva com os cães poderá agravará ainda mais o
seu isolamento.
Os cães poderão ajudar na integração social dos indivíduos seus
portadores? Sem dúvida! Mas esse contributo jamais será válido se a sociedade
não se prontificar em ajudá-los e os deficientes nada fizerem para isso. Os
cães sempre farão a sua parte e desempenharão o seu papel irrepreensivelmente,
porque são leais e foram seleccionados e treinados para a função, os homens
vivem mais e demoram mais tempo para aprenderem a amar-se uns aos outros.
Diante dos flagelos que a humanidade tem causado a si mesma, uma verdade se
agiganta: os cães depressa aprendem com os seus erros e os homens não se cansam
de repeti-los.
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