quinta-feira, 9 de abril de 2015

TAIGAN (Тайган): PARA RASTREAR ATÉ AOS 4.000m DE ALTITUDE

Quem já ousou rastrear ou treinar pistagem em altitude, devido diminuição da pressão atmosférica, à rarefacção do oxigénio, à diminuição da temperatura e humidade, à desidratação, ao aumento das frequências cardíaca e respiratória e ao risco de congelamento, sabe que acima dos 1.500m de altitude a maior parte dos cães deixa de ser operacional ou apresenta grandes dificuldades no rastreamento, necessitando de uma adaptação e aclimatação lentas mas ao mesmo tempo progressivas. Por outro lado, a permanência em altitude (por vários anos) induz ao aumento do volume pulmonar e da capacidade difusora do oxigénio, o que obriga os binómios profissionais ao trabalho sazonal na montanha, para que se tornem mais resistentes e consigam desempenhar cabalmente o seu serviço. Os melhores cães para este tipo de resgate nascem e vivem na montanha, muito embora as raças típicas desses ecossistemas sejam normalmente pesadas e o seu socorro por vezes demorado. Hoje qualquer cão aerotransportado pode rastrear com êxito em altitude, contudo a sua autonomia funcional será sempre reduzida, o que obrigará a buscas mais curtas ou faseadas, particularmente se acontecerem no Inverno.
 A prestação de salvamento canino nas montanhas irá exigir animais com boa máquina sensorial, robustos, leves, rápidos e com um bom volume pulmonar, características todas elas presentes numa raça ainda não reconhecida pela FCI, mas reconhecida na Alemanha, Bielorrússia, Cazaquistão, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia, Rússia, Ucrânia e Uzbequistão, lebróide, provavelmente descendente do Saluki e nativa da Cordilheira de Tian Shan no Quirguistão: o Taigan, também identificado como “Borzoi do Quirguistão”, até aqui usado como caçador pelos nómadas daquela região.
O Taigan é um lebrel com características particulares, a sua pelagem é macia, longa e grossa e no Inverno a densidade do seu subpelo aumenta consideravelmente. Apresenta orelhas tombadas e revestidas de pelo longo, as vértebras na base da sua cauda encontram-se colocadas, sendo impossível desfazer-lhe o anel, pormenor que o distingue dos restantes lebréis. A cor mais comum é o preto e branco, subsistindo exemplares totalmente negros, cinzentos, castanhos, brancos e com diversas tonalidades de amarelo, sendo próprio para dar caça à cabra selvagem, a corços, lobos, raposas e marmotas.
Como cão de montanha que é, o Taigan apresenta características diferentes dos seus congéneres do deserto ou das planícies, tanto físicas quanto sensoriais e gregárias, porque é mais cúmplice, apresenta forte ossatura, grande volume pulmonar e ao invés de caçar unicamente à vista, usa também a audição e o olfacto, num modus operandi que lembra o Podengo Ibicenco, mais-valias que o podem tornar num cão de resgate e salvamento em grandes altitudes, em acções prolongadas até aos 4.000m, no que tem vindo ser testado com raro sucesso.
O Taigan é um símbolo do Quirguistão e com a falência da União Soviética, que levou ao abandono das unidades de exploração agrárias, retornou às florestas e às montanhas, acompanhando os nómadas que, movidos pelas circunstâncias, se vêm agora obrigados a regressar ao seu viver ancestral. Os quirquiz das classes mais abastadas e residentes nas cidades acabaram por adoptá-lo como símbolo da sua cultura e identidade nacional, não vendo com bons olhos a sua dispensa ou venda a estrangeiros, apesar de alguns criadores da raça terem cachorros para venda e o anunciarem na Internet.
Este cão foi para nós uma agradável surpresa, porque jamais esperaríamos ver um galgo com tamanha ossatura, a valer-se do olfacto na caça e tão habilitado para o trabalho em altitude. A canicultura no Leste tem muito a ensinar à Ocidental, porque conservou e continua a perpetuar raças superiormente adaptadas para trabalhar nas condições mais difíceis, cuja rusticidade é incomparavelmente superior aquelas que temos vindo a desenvolver.

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