Quem já ousou rastrear ou treinar pistagem em altitude, devido
diminuição da pressão atmosférica, à rarefacção do oxigénio, à diminuição da
temperatura e humidade, à desidratação, ao aumento das frequências cardíaca e
respiratória e ao risco de congelamento, sabe que acima dos 1.500m de altitude
a maior parte dos cães deixa de ser operacional ou apresenta grandes
dificuldades no rastreamento, necessitando de uma adaptação e aclimatação
lentas mas ao mesmo tempo progressivas. Por outro lado, a permanência em altitude
(por vários anos) induz ao aumento do volume pulmonar e da capacidade difusora
do oxigénio, o que obriga os binómios profissionais ao trabalho sazonal na
montanha, para que se tornem mais resistentes e consigam desempenhar cabalmente
o seu serviço. Os melhores cães para este tipo de resgate nascem e vivem na
montanha, muito embora as raças típicas desses ecossistemas sejam normalmente
pesadas e o seu socorro por vezes demorado. Hoje qualquer cão aerotransportado
pode rastrear com êxito em altitude, contudo a sua autonomia funcional será
sempre reduzida, o que obrigará a buscas mais curtas ou faseadas,
particularmente se acontecerem no Inverno.
A prestação de salvamento canino nas montanhas irá exigir animais com
boa máquina sensorial, robustos, leves, rápidos e com um bom volume pulmonar,
características todas elas presentes numa raça ainda não reconhecida pela FCI,
mas reconhecida na Alemanha, Bielorrússia, Cazaquistão, Estónia, Hungria,
Letónia, Lituânia, Polónia, Rússia, Ucrânia e Uzbequistão, lebróide, provavelmente
descendente do Saluki e nativa da Cordilheira de Tian Shan no Quirguistão: o
Taigan, também identificado como “Borzoi do Quirguistão”, até aqui usado como
caçador pelos nómadas daquela região.
O Taigan é um lebrel com características
particulares, a sua pelagem é macia, longa e grossa e no Inverno a densidade do
seu subpelo aumenta consideravelmente. Apresenta orelhas tombadas e revestidas
de pelo longo, as vértebras na base da sua cauda encontram-se colocadas, sendo
impossível desfazer-lhe o anel, pormenor que o distingue dos restantes lebréis.
A cor mais comum é o preto e branco, subsistindo exemplares totalmente negros,
cinzentos, castanhos, brancos e com diversas tonalidades de amarelo, sendo próprio para dar caça à cabra selvagem, a corços,
lobos, raposas e marmotas.
Como cão de montanha que é, o Taigan apresenta características
diferentes dos seus congéneres do deserto ou das planícies, tanto físicas
quanto sensoriais e gregárias, porque é mais cúmplice, apresenta forte
ossatura, grande volume pulmonar e ao invés de caçar unicamente à vista, usa também
a audição e o olfacto, num modus operandi
que lembra o Podengo Ibicenco, mais-valias que o podem tornar num cão de
resgate e salvamento em grandes altitudes, em acções prolongadas até aos 4.000m,
no que tem vindo ser testado com raro sucesso.
O Taigan é um símbolo do Quirguistão e com a falência da União
Soviética, que levou ao abandono das unidades de exploração agrárias, retornou
às florestas e às montanhas, acompanhando os nómadas que, movidos pelas
circunstâncias, se vêm agora obrigados a regressar ao seu viver ancestral. Os
quirquiz das classes mais abastadas e residentes nas cidades acabaram por
adoptá-lo como símbolo da sua cultura e identidade nacional, não vendo com bons
olhos a sua dispensa ou venda a estrangeiros, apesar de alguns criadores da
raça terem cachorros para venda e o anunciarem na Internet.
Este cão foi para nós uma agradável surpresa, porque jamais esperaríamos
ver um galgo com tamanha ossatura, a valer-se do olfacto na caça e tão
habilitado para o trabalho em altitude. A canicultura no Leste tem muito a
ensinar à Ocidental, porque conservou e continua a perpetuar raças
superiormente adaptadas para trabalhar nas condições mais difíceis, cuja
rusticidade é incomparavelmente superior aquelas que temos vindo a desenvolver.
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